Páginas

terça-feira, 23 de junho de 2015

Grupo de Baile


A vida corria bem para o Grupo de Baile naquele ano de 1981. Já não eram apenas o grupo de amigos que se conheciam desde a infância (1), dos tempos em que tocavam na filarmónica da terra, nem sequer aquela banda que corria pelo circuito dos bailes com umas rocalhadas importadas do estrangeiro. As 99 mil cópias do single "Patchouly/Já Rockas à Toa", lançadas em Janeiro no mercado, foram consumidas vorazmente. As que traziam o "piiiiii" sobre a palavra "pentelho" e as em que se ouvia tudo. O Grupo de Baile fez disco de ouro em apenas um mês. Foi tiro e queda. Primeiro o tiro, depois a queda.

Quase dois anos depois, mesmo tendo gravado um novo single, "Estória Linda", o Grupo de Baile não voltou a ter o mesmo sucesso (2). Volatizaram-se. Viveram a mesma história que muitas outras bandas nascidas durante o "boom" do rock português, na euforia daqueles anos de 1980 a 1982, em que o panorama musical explodiu de uma tal forma que só podia mesmo vir depois a implodir.

Alguns anos antes e nunca se poderia ter gravado em Portugal uma música como o 'Patchouly'", explica o ex-vocalista do Grupo de Baile, Carlos Tavares.

"O 'boom' foi também muito incentivado pelas editoras, porque isso lhes dava uma maior escolha sobre aquilo que decidiam gravar ou não. Quantas mais houvesse, mais havia por onde escolher", afirma Carlos Tavares. Esta ideia é corroborada pelo guitarrista, Vicente. "Em Portugal as coisas funcionam assim: alguém experimenta uma coisa com sucesso e, de repente, parece que se descobriu a pólvora. Foi assim com o 'boom'. Apareceu o Rui Veloso com o 'Chico Fininho' e de repente percebeu-se que era possível fazer rock em português".

Toda a gente andava a querer e a conseguir gravar, e o Grupo de Baile recebeu o bilhete que os transportaria para o sucesso. "Embarcámos naquilo sem qualquer pretensiosismo, mas com a intenção de ir ver no que é que dava", esclarece o baterista, Luís Rosado. A Valentim de Carvalho convidou-os a gravar alguns dos temas originais que já tinham composto. "Tivemos hipóteses de impôr logo ali as nossas regras, mas não o fizemos", recorda Carlos Tavares. "Já éramos adultos nessa altura, mas nas coisas da música éramos mesmo uns miúdos" desabafa Luís Rosado.

Quando o quiseram fazer, pouco mais de um ano depois, perceberam que não podiam. Não eram essas as regras do jogo. "A certa altura quisemos deixar de ser os tais meninos e impôr as nossas escolhas à editora. Dissemos quais as canções que queríamos pôr num LP e quais é que queríamos que fossem lançadas em singles e a resposta foi um peremptório não. 'Nós é que sabemos disto, vocês editam aquilo que nós vos dissermos', foi a resposta", recorda Carlos Tavares. "Aquilo era espremer o limão até dar. Fomos chupados até ao tutano", reitera Vicente, defendendo que o Grupo de Baile teria tido, eventualmente, maior longevidade "se tivesse sido lançado um bocadinho mais por baixo e lhe tivesse sido dado tempo e estruturas de produção para crescer".

DULCE FURTADO / PÚBLICA, 14/11/1999

(0) Logo a seguir ao sucesso do single foi divulgado a notícia da gravação de um álbum que teria temas como "Metal Sonante Nº1", "Metal Sonante Nº2", "Flashes" ou "Bela Isa Bela".

(1) A maior parte dos músicos tocavam desde miúdos na Sociedade Filarmónica União Seixelense. O grupo foi descoberto por Ricardo Camacho.  Antes da edição do single de estreia já tinham tocado, intensamente, em bailes e festas pelo país fora.

(2) Ainda tentaram lançar o single "Vocalista Rock" mas que foi rejeitado pela editora.

(3) Em 1999 aceitaram o convite para o Seixal Rock 99 que se realizou no Seixal, no Largo 1º de Maio, entre os dias 6 e 9 de Outubro. Uma experiência agradável para o guitarrista Vicente Andrade, que confessou nessa altura ao jornal "Setúbal na Rede" ter em vista uma reunião com a banda, no sentido de equacionar a possibilidade de regresso do Grupo de Baile às luzes da ribalta.

FORMAÇÃO
Carlos Manuel Tavares ( voz)
Vicente Andrade (guitarra)
Luís Rosado (bateria)
António Manuel (baixo)
Luís Landeirote(orgão)
Marcelino (saxofone alto)
João Mário (saxofone tenor)
Zé Manel (trompete)

DISCOGRAFIA
Patchouly/Já Rockas à Toa (Single, Valentim de Carvalho, 1981)
Estória Linda/Conversa de Comadres (Single, Valentim de Carvalho, 1982)

NO RASTO DE...
Vicente Andrade continuou como músico da Orquestra Ligeira do Exército. Trabalha como músico de estúdio e em programas de televisão. Mais recentemente trabalhou com Lara Afonso e Marco Paulo.

António Manuel e Zé Manel são músicos da Banda da Guarda Nacional Republicana.

Luís Rosado é funcionário da Divisão de Acção Cultural da C.M. Seixal e Carlos Manuel Tavares é responsável pelo departamento de electricidade da C.M. Seixal.

Luís Landeirote foi empresário de equipamento de som e mais recentemente passou a entretainer de cruzeiros turísticos, em Miami.

Marcelino está reformado da Marinha Portuguesa. 

João Mário é engenheiro mecânico da Lisnave e professor universitário.

Informação retirada daqui

Nenhum comentário:

Postar um comentário