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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Canoras Portuguesas dos Anos 80 - Né Ladeiras

Né Ladeiras (Maria da Nazaré Azevedo Sobral Ladeiras) nasceu no Porto, no dia 10 de Agosto de 1959, no seio de uma famíia com grandes afinidades com a música: a mãe cantava ópera, o pai tocava viola d’arco e o avô materno tocava guitarra portuguesa, braguesa, cavaquinho e instrumentos de percussão. Com 6 anos, participa no Festival dos Pequenos Cantores da Figueira da Foz.

Durante a sua adolescência, integra vários projectos musicais, entre os quais um duo acústico formado com uma amiga.

Né Ladeiras funda, em 1974, com diversos amigos, a Brigada Victor Jara. Numa primeira fase, juntavam-se para tocar, entre outras coisas, música latino-americana, tendo participado em diversas campanhas de animação cultural do MFA [Movimento de Forças Armadas] e de trabalho voluntário. O interesse do grupo pela música tradicional portuguesa só se manifesta nos últimos meses de 1976, após realizarem diversos espectáculos na Beira Baixa e aí "descobrirem" as potencialidades e qualidade da nossa tradição musical.

Em 1977, na sequência de uma actuação na FIL [Feira Internacional de Lisboa], mantêm contactos com a editora Mundo Novo (associada à editorial Caminho), para a qual gravam, durante dois dias, o álbum "Eito Fora", que é editado nesse mesmo ano. Né Ladeiras interpreta, neste disco, um dos temas mais conhecidos, "Marião" com base num tradicional de Trás-os-Montes.

No ano seguinte, Né Ladeiras participa ainda nas gravações do segundo álbum da Brigada Victor Jara intitulado "Tamborileiro". Em 1979, após se separar da Brigada, Né Ladeiras junta-se ao agrupamento Trovante, ainda antes de este alcançar o sucesso, com o qual grava o single "Toca a Reunir".

Na altura da gravidez do seu primeiro filho, Né Ladeiras fica em casa e é nessa altura que é convidada pelos Trovante que já andavam há muito tempo à procura de uma voz feminina. Fizeram alguns espectáculos e toda a preparação de "Baile do Bosque". Quase todas as músicas da maqueta apresentada às editoras eram cantadas por Né Ladeiras.

Né Ladeiras - 1982Entre 1980 e 1982, integra um dos projectos mais inovadores da música portuguesa, a Banda do Casaco, fundada em 1973 por Nuno Rodrigues e António Pinho (ex-Filarmónica Fraude). Né Ladeiras participa na gravação dos álbuns "No Jardim da Celeste" (em 1981) e "Também Eu" (em 1982) que incluíam alguns dos maiores sucessos do grupo, como sejam "Natação Obrigatória" e "Salvé Maravilha".

O primeiro trabalho a solo de Né Ladeiras, "Alhur", é editado em 1982 pela Valentim de Carvalho. O disco, um EP (ou máxi-single) composto por quatro temas da autoria de Miguel Esteves Cardoso (letras) e Né Ladeiras (músicas), regista a participação de Ricardo Camacho na produção e dos Heróis do Mar como músicos de estúdio. "Alhur" é um disco que fala de águas, desde as águas régias do pensamento às águas salgadas dos oceanos e das lágrimas.

Né Ladeiras retribui, nesse mesmo ano, a colaboração com os Heróis do Mar, participando na mistura de dança incluída no maxi-single de "Amor", que se torna um grande êxito comercial.

Colabora com Miguel Esteves Cardoso num duplo álbum intitulado "Hotel Amen" que não chega a ser gravado.

Em 1984 é editado pela Valentim de Carvalho o seu primeiro álbum, "Sonho Azul", com produção de Pedro Ayres Magalhães (membro dos Heróis do Mar e futuro mentor dos Madredeus e Resistência), que também assina as letras e partilha, com Né Ladeiras, a composição das músicas. O disco é dedicado a todas as pessoas que fizeram do cinzento um "Sonho azul" e ao filho Miguel. Dos oitos temas, os que obtém maior notoriedade são: "Sonho Azul", "Em Coimbra Serei Tua" e "Tu e Eu".

Inicia em 1985 um trabalho de pesquisa (processo característico da sua carreira a solo) sobre a actriz sueca Greta Garbo, a quem será dedicado o álbum seguinte ("Corsária").

Participa no Festival RTP da Canção de 1986 com "Dessas Juras que se Fazem", um inédito de Carlos Tê e Rui Veloso.

Em 1988 integra o projecto Ana E Suas Irmãs, idealizado por Nuno Rodrigues - seu colega na Banda do Casaco e então director da editora Transmédia. O grupo concorre ao Festival RTP da Canção de 1988 com o tema "Nono Andar", sendo apresentado como um conjunto mistério. No entanto, Né Ladeiras não participa no certame, colaborando apenas na edição em single.

"Corsária" é editado pela Transmédia em finais de 1989 com produção e arranjos de Luís Cília. As músicas são compostas por si, sendo as letras da autoria da sua amiga Alma Om. O disco não obtém uma grande divulgação, principalmente porque a editora abre falência pouco tempo após a edição do disco.

Colabora igualmente com a rádio, outra das suas paixões, em rádios de Coimbra, Antena 1 e TSF. E, posteriormente, em resultado de algum desencantamento com a música, trabalha como recepcionista de um médico.

Participa nas gravações de "Matar Saudades", tema bónus incluido na edição em CD do disco "Banda do Casaco com Ti Chitas".

Entre Janeiro de 1993 e Outubro de 1994, Né Ladeiras grava, com produção de Luís Pedro Fonseca, o seu terceiro álbum, "Traz-os-Montes", uma produção da Almalusa com edição da EMI-Valentim de Carvalho, que resulta de dois anos de pesquisa de material relacionado com a música e a cultura tradicionais transmontanas (onde veio a descobrir raízes na família), nomeadamente as recolhas efectuadas por Michel Giacometti e por Jorge e Margot Dias.

A qualidade de temas como "Çarandilheira" e "Beijai o Menino" fazem deste disco, que é a revisitação de temas tradicionais transmontanos interpretados em dialecto mirandês, a sua obra-prima e um dos melhores discos de sempre da música portuguesa.

No Natal de 1995 é editado o disco "Espanta Espíritos", disco de natal idealizado e produzido por Manuel Faria (seu colega nos tempos dos Trovante), no qual participam diversos artistas, entre os quais se destaca Né Ladeiras que interpreta o tema "Estrela do Mar" com letra de João Monge e música de João Gil.

Em 1996 participa na compilação "A Cantar com Xabarin, Vol. III e IV", proposta pelo programa da TV Galiza, com o tema "Viva a Música!" composto por Né Ladeiras e Bruno Candeias, no qual participam, nos coros, os seus filhos Eduardo e João.

Com o seu quarto álbum, "Todo Este Céu", editado em 1997, pela Sony, Né Ladeiras realiza um sonho antigo ("de há vinte e tal anos"): gravar um álbum dedicado às canções de Fausto, que se caracteriza por uma abordagem "muito próxima do lado místico do Fausto, mas também do seu lado interventivo, porque ele tem uma forma única de intervir, que em muitos casos continua actual e não se perdeu no tempo".

No álbum-compilação "A Voz e a Guitarra" faz incluir o tema "As Asas" do brasileiro Chico César e uma nova versão de "La Molinera" que conta com a participação do guitarrista Pedro Jóia.

Durante a Expo '98 partilha "Afinidades" com Chico César numa iniciativa que "desafia cantoras nacionais a conceberem um espectáculo para o qual convidam um ou uma vocalista que seja para elas uma referência." Os dois intérpretes participam igualmente no programa "Atlântico" da RTP/TV Cultura.

Colabora no disco "Sexto Sentido" que marcou o regresso da Sétima Legião. Em 2000 é editada a colectânea "Cantigas de Amigos" com produção de João Balão e Moz Carrapa.

Em Novembro de 2000, a convite de Tiago Torres da Silva, junta-se a Anamar e Pilar para os espectáculos "SM 58".

Em 2001 é editado pela Zona Música o disco "Da Minha Voz". A produção é da própria Né Ladeiras que contou com a colaboração de Chico César e de Tiago Torres da Silva.

O álbum "Anamar, Né Ladeiras, Pilar - ao vivo" é editado em Setembro de 2002. Em 2010 participa no disco dos Corvos e começa a preparar um disco novo.

DISCOGRAFIA
Alhur (Máxi, EMI, 1982)
Sonho Azul (LP, EMI, 1984)
Corsária (LP, Transmédia, 1989)
Traz-os-Montes (CD, EMI, 1994)
Todo Este Céu (CD, Sony, 1997)
Da Minha Voz (CD, Zona Música, 2001)
Anamar, Né Ladeiras, Pilar - Ao Vivo (CD, Zona Música, 2002)

Colectâneas
Espanta Espíritos (1995) - Estrela do Mar
A Cantar Xabarín III/IV (1996) - Viva La Música!
A Voz e a Guitarra (1997) - La Molinera / As Asas
Cantigas de Amigos (2000) - A Vindima / Milho Verde / A Garrafa Vazia de Manuel Maria

Biografia retirada daqui

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