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sábado, 27 de fevereiro de 2021

After Dark

1994 Set. Entre Londres e Lisboa, o produtor Jonathan Milier (Repórter Estrábico, Delfins, Ravel, Resistência, Madredeus) idealiza um projecto na área do acid jazz que junte as duas capitais num só disco, num encontro entre a cena jazz dance inglesa e a house portuguesa. 

1995 Um acordo discográfico é assinado com a BMG. O lançamento do disco chega a ser anunciado para o Verão, mas acaba por ser adiado. 

1996 

Fev.  Chega às rádios o CD single promocional com a canção «Leva-me», cantada por Marité (ex-Ravel). 

Mar. Na BMG, é editado After Dark, o álbum de estreia do projecto de Jonathan Milier. As canções apresentam vocalistas ingleses e portugueses: Kevin Saunders (Marden Hill), Michael Macdermott (Workshy), Marité (ex-Ravel) e Dora (Delfins). Pedro Ayres Magalhães (Madredeus) compõe e toca guitarra em "Lisbon Sunset". Fernando Cunha (Delfins) toca guitarra em «Leva-me». Outros músicos convidados são Mário Delgado (Resistência) mas guitarras, Neil Yates (Brand New Heavies) no trompete e Chris Bemand (Marden Hill) nas teclas.


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Ágata

1959 Nasce, em Lisboa, a 11 de Novembro, Maria Fernanda de Sousa Santos Carreira. 

1973 Entra para o Centro de Preparação de Artistas da Emissora Nacional. 

1978 Grava a versão portuguesa da canção da série de desenhos animados «Abelha Maia». Entra para as Cocktail, estreando-se num espectáculo em Tomar. 

1979 Grava a canção «Um Caso Meu», da telenovela da Globo, «D. Xepa». 

1981 Com as Cocktail concorre ao Festival RTP da Canção, com «Vem Esquecer o Passado». 

1982 Como Fernanda, apresenta-se a solo no Festival RTP da Canção em 1982, com «Vai mas Vem». 

1985 Terminada a vida conjunta das Cocktail, substitui temporariamente Lena Coelho nas Doce. 

1986 Entra definitivamente para as Doce para substituir Fá, que deixa o grupo. 

1989 Como Ágata, edita o single «Quentinha e Boa/Mexe-te Mais Um Pouco», na Discossete. O visual mudou radicalmente, mais provocador. 

1994 A canção «Perfume de Mulher» torna-se um dos maiores sucessos da música pimba. O disco vende cerca de 80 mil cópias. 

1996 Com um grupo de colegas, na sua maioria artistas na área do pimba, participa no disco Mãe Querida. 

1997 Representa Portugal no Festival da OTI com «Abandonada». Edita, depois, um álbum com o mesmo nome. 

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Adelaide Ferreira


Depois de uma primeira etapa em palcos de teatro e na música ligeira, muda de imagem e investe numa atitude diferente. 

1980 — Participa no filme e na banda sonora de Kilas, o Mau da Fita, cuja música é editada em álbum no selo Philips. 

1981 — Com o single «Baby Suicida», editado pela Vadeca, entra como nome de peso na nova geração de nomes do chamado rock português. Na mesma linha edita, pouco tempo depois, o single, «Bichos/Trânsito», este último já a contar com a participação do marido, Luís Fernando.  

1982 — Transfere-se para a Vimúsica, etiqueta independente, formada por Ilidio Viana, dissidente da Vadeca. Grava um álbum que não chega a ser editado. 

1984 — Inesperadamente classifica-se em segundo lugar no festival da OTI. 

1985 — Com a canção «Penso em Ti (Eu Sei)» representa Portugal no Festival da Canção. O single com a canção é editado pela PolyGram. 

1986 — Depois de sete singles editados, estreia-se nos álbuns com "Entre Um Coco e Um Adeus", na PolyGram, antecedido pelo single «Coqueirando», que obtém assinalável sucesso nas rádios (mas pouco impacte comercial). 

1987 — Após o divórcio com a PolyGram surge associada á MBP, uma independente, comandada por Marcelino de Brito. Grava um álbum, que será pouco divulgado. 

1995 — Remetida ao silêncio, desde a alvorada da década, volta a ser falada embora ofuscada, pela presença da irmã Mila Ferreira (que na Ovação edita "Milagre Num Só Céu"). 

1996 -- Regressa aos discos com "O Realizador Deve Estar Louco", lançado pela Vidisco. No dia 8 de Junho, canta para os soldados portugueses na Bósnia, ao lado de Luís Represas, Lena d'Água e Despe & Siga. Em Outubro participa no CD Racismo Não, editado pela AMI (Associação Médica Internacional). 

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Alfredo Marceneiro

Alfredo Rodrigues Duarte nasceu numa casa da Travessa de Santa Quitéria, a São Bento, a 29 de Fevereiro de 1892 — uma data invulgar que apenas se repete de quatro em quatro anos. Por isso, a mãe registou oficialmente o nascimento como tendo ocorrido no dia 25 desse mês, data de aniversário do pai, que era mestre de corte e tinha uma pequena sapataria na Rua de São Bento. 

Foi com a mãe que aprendeu a cantar, ainda criança, durante as «descamisadas» do milho no Cadaval, de onde a sua família era originária, tendo migrado para Lisboa pouco antes do seu nascimento. Começou depois a participar nas «cegadas» de rua, desfiles carnavalescos onde o público o viu pela primeira vez em 1908, aos 17 anos, vestido de mulher, numa pantomima inspirada pelo visionamento do filme mudo A Morte do Duque de Guise. Apesar de ser um entre muitos dos participantes nesse desfile (ensaiado no pátio da Vila Maia, junto á Rua Domingos Sequeira), a sua voz foi logo notada. 

Gostaria de ter estudado música, vocação que a família igualmente acarinhava. Mas em 1906, aos 14 anos, ficara sem pai e teve de aprender um oficio. Nessa época a família habitava na Vila Mendonça, na Rua de Santo Amaro, à Estrela, uma vez que a primeira casa havia sido demolida para dar lugar ao alargamento da Avenida Pedro Alvares Cabral. Em 1909, haviam-se mudado para a actual Rua Silva Carvalho, em Campo de Ourique, nessa época chamada Rua de São Luís. Começou por ser aprendiz de encadernador na oficina de Paulino Ferreira — aparentemente só para se sentir perto do fadista Júlio Janota, que ali trabalhava. Mas como esta arte o prendia até às nove horas da noite — deixando-lhe pouco tempo para participar nas «cegadas» — mudou de oficio e tornou-se marceneiro. 

Contava que o seu primeiro trabalho neste ramo fora uma cruz de madeira para colocar na sepultura do fadista Manuel Rego, que trabalhava como chefe do pessoal menor do Ministério das Subsistências e a quem devia as primeiras duas letras escritas propositadamente para si. Com dois amigos, alugou depois uma casa para montar a oficina e foi aí que se dedicou a aprender os segredos da profissão, construindo camas, guarda-fatos e outras peças de mobiliário. 

Chegou a participar na construção de quatro navios de guerra quando trabalhou junto aos estaleiros da Rocha do Conde de Óbidos. Recordaria os seus primeiros passos como artista nessa Lisboa do princípio do século alguns anos mais tarde, numa entrevista: «Depois do Carnaval, o tempo das cegadas dava lugar aos bailes. Em cada bairro havia um, com bufete e "cavalinho" (conjuntos musicais com um mínimo de cinco figuras). Se tivesse mais músicos, o baile já era caro... Nos intervalos, os bailarinos dois rapazes e duas raparigas, ou quatro raparigas — dançavam ao som de cantigas que ninguém sabia quem tinha feito. 

A certa altura dizia-se "Rapazes vamos, vamos ao Fado", e a gente cantava, encostados a uma valeta. Comecei a cantar com os rapazes do meu tempo. Tocadores: o Aires dos Fadinhos, o António da Mina, o Júlio Correia, o José Marques, o Armando Machado, o José Graça e o Júlio Proença. íamos para o Jardim da Parada. Depois começaram as Festas de Caridade e, como não conhecíamos os poetas, levávamos latas de quiosque, que custavam um vintém. 

Também aproveitávamos os versos que a Voz do Operário publicava semanalmente, e os dos jornais A Alma do Fado, A Guitarra de Portugal e A Canção do Sul, estes últimos fundados por Carlos Harrington e Linhares Barbosa.» Percorria também os «cafés de camareiras», ilumi-ados a gás, na Rua dos Mastros, em Alcântara, na Mouraria e no Bairro Alto; aqui, no café de Maria da Luz, era acompanhado ao piano por um músico invisual conhecido como «O Ceguinho da Luz». Parava também no Catorze do Rato, uma casa de jogo que o dono acabou por transformar em casa de fado, onde Alfredo Marceneiro cantava acompanhado por piano, bandolim e guitarra. Foi aí que conheceu o poeta popular Manuel Soares, que acabou por lhe oferecer duas letras para fado. «Eu, até então, só cantava para as raparigas e rapazes da minha idade. 

Pois o Manuel Soares, do Inten-ente, ouviu-me e deu-me duas das suas letras. Mais tarde, o Joaquim Câmara — também cantador e dos de fama — levou-me à Carioca da Trindade, uma taberna que tinha por dono um homem chamado Silva e onde se cantava o fado. Aí conheci o Manuel Rego, que começou a fazer letras para mim.» Foi também no Catorze do Rato, e nos cafés da Rua da Atalaia, que ganhou fama ao tornar-se o primeiro fadista a cantar de pé, «para eles me verem bem», e atrás dos guitarristas, normalmente em situações de desgarrada ou desafio entre cantores que, muitas vezes, geravam conflitos entre a assistência — «nós os cantores, ficávamos na calma, como fazem hoje os tipos da luta livre». Mas somente no início dos anos 20 passou a ser conhecido com o apelido de «Marceneiro», ao ser assim apresentado no cartaz de uma festa organizada por Manuel Soares, Alfredo Correeiro e José Bacalhau. Até então, muitos dos seus conhecidos — como o guitarrista José Marques, que o acompanhava habitualmente — tratavam-no por «Alfredo Lulu» por «andar sempre todo catita», no vestir e no andar. Um dos seus primeiros traços de distinção foi o laço, mais tarde substituído por um lenço de seda ao pescoço, com nó largo. No entanto, normalmente cantava a troco de comida e bebida, a que os admiradores acrescentavam no final da noite um envelope com uma maquia recolhida entre todos, a qual era variável. 

Depois de Manuel Rego e Manuel Soares, foram muitos os poetas populares de Lisboa que escreveram canções para a voz de Alfredo Marceneiro, podendo citar-se, entre outros, os nomes de Manuel Rego, Henrique Rego, Fernando Teles, Avelino de Sousa, Francisco Viana, Silva Tavares, Carlos Conde, Frederico de Brito, António Amargo, Custódio Cutileiro (fundador da Praça de Toiros de Almada) e Linhares Barbosa. Para que os cantadores de fado conseguissem ganhar o seu sustento, uma convenção explícita entre todos levava-os a cantarem apenas uma ou duas noites por semana. Num tempo em que não existiam direitos de autor — «Cada um cantava o seu reportório e mais nada» — Alfredo Marceneiro foi, com Armandinho, um dos artistas fundadores da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses, em 1927. 

Só em 1924 — o ano em que participou numa Festa do Fado organizada pelo poeta António Botto, no Teatro São Luís — surgiu o seu primeiro contrato para cantar, no Chiado Terrasse, onde esteve durante dois meses acompanhado por Júlio Correia e Artur Careca. Ganhava quarenta escudos por noite. De dia trabalhava como marceneiro na oficina de Diamantino Tojal — na Vila Berta, à Graça — e no fim do dia actuava no Chiado Terrasse, onde ficava até á meia noite. «Nesse tempo, o Armandinho (Armando Freire) ganhava cinquenta escudos por noite para tocar e ofereciam-lhe também a ceia. O Armandinho era um génio a tocar guitarra. Ele musicava o estilo do cantador. Só depois surgiram Jaime Santos, Carvalhinho e tantos outros. Mas o Armandinho era o maior. Os fadistas da minha época criaram um tipo de fado que o Armandinho musicou. Ora, dentro dessa toada musical, cabiam todas as letras em redondilha maior de sete sílabas.»

Depois, foi contratado para o Olímpia, e logo a seguir para o Ferro de Engomar, seguindo-se outros estabelecimentos, como o Luar da Avenida ou o Solar da Alegria. Foi também um dos primeiros fadistas a actuar nos teatros e retiros do Parque Mayer — nomeadamente no Júlio das Farturas, com Ermelinda Vitória e Renato Varela, onde popularizou o tema «Olhos Fatais» e a desgarrada que mantinha com o Miúdo da Bica (Fernando Farinha). Num concurso para fadistas organizado pelo dono da Rosa Branca, um estabelecimento perto da Rua Morais Soares, ganhou a medalha após ter estado uma hora e vinte minutos em cena para grande gáudio da assistência. 

Fez a sua primeira gravação fonográfica em 1929, mas a experiência não o entusiasmou porque gostava de ver o público enquanto estava a cantar, para poder analisar as suas reações. Escreveu vários fados que depois foram interpretados por outros: «Lembro-me de Ti», «Pierrot», «Louco», «Cravo», «Cuf», «Mocita dos Caraçóis», «Olhos Fatais», «Bailarico», «Laranjeira», «A Casa da Mariquinhas», este com música de sua autoria e letra de Silva Tavares. 

Em 1930 entrou numa peça de teatro escrita por Avelino de Sousa e levada á cena pelo empresário Lopo Lauer. Seis anos mais tarde, no Teatro Variedades, participou também numa opereta intitulada História do Fado, cujo elenco incluía Beatriz Costa e Vasco Santana. Raramente visto na televisão, a sua única aparição cinematográfica foi no filme O Feitiço do Império, com Ribeirinho e António Vilar. 

Foi ele quem apadrinhou e lançou nomes bem conhecidos do meio fadista como Hermínia Silva e Amália Rodrigues — que começou a cantar pela mão de Marceneiro, no Retiro da Severa, em Lisboa, num elenco que incluía José Porfírio. Em 1959, aos 67 anos, obteve a reforma da Caixa de Previdência dos Artistas de Variedades e recordava o princípio do século como o tempo em que «o fadista cantava por gosto. Não interessava muito se havia ou não havia público. Cantávamos nas ruas, fazíamos serenatas e reuníamo-nos aqui ou ali para cantarmos ao desafio. O mais frequente era irmos a festas em casas particulares, mas sempre sem combinarmos preços. Depois apareceram as casas típicas e começou-se a ganhar mais regularmente. Cantei em todas, apesar de só ter recebido em meia dúzia delas, tais como o Machado, o Faia, o Luso, a Parreirinha, a Severa, a Viela, e pouco mais...». 

Na verdade, nunca trocou a sua profissão de marceneiro pela de artista. O seu primeiro disco estereofónico foi editado apenas em 1961, uma colectânea «com o melhor da canção nacional» e o título The Fabulous Marceneiro. A 25 de Maio de 1963 foi-lhe feita uma festa de homenagem intitulada «Madrugada do Fado», no Teatro São Luís, com início á meia-noite e organização a cargo do empresário Vasco Morgado, da locutora Maria Leonor e do actor Raul Solnado. Figura mítica de Lisboa, o Ti Alfredo, como era conhecido pelos fadistas e os amigos, não abandonaria nenhuma das suas actividades após a obtenção da reforma. 

No fado, enquanto autor e intérprete exímio dos quatro géneros da canção popular lisboeta («Fado Bacalhau», «Fado Corrido», «Fado Menor» e «Fado Mouraria») foi um dos expoentes máximos de todos os tempos, sem nunca ter saído do Pais, e raras vezes de Lisboa: «Eu que me chamo Alfredo, mas Duarte/ Sou para toda a gente o Marceneiro/ Este apelido em mim, que pouco valho/ Da minha honestidade é forte indício/ Sou marceneiro sim, porque trabalho/ Marceneiro no fado e no oficio.» 

A sua última subida ao palco ocorreu a 24 de Junho de 1980, quando recebeu a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa das mãos do então presidente da Câmara Municipal, Krus Abecasis — curiosamente, uma vez mais no Teatro São Luís. Nesse mesmo ano foi figura de destaque nas Festas de Lisboa, quando a marcha do Bairro Alto lhe foi dedicada. Mas já com noventa anos, era ainda uma figura da noite lisboeta, cujas casas típicas percorria até altas horas da madrugada. 

Raramente era visto durante o dia e orgulhava-se de, com essa idade, os seus cabelos continuarem pretos, sem necessidade de os pintar. Sobre o fado, «uma canção de revolta e amorosa», gostava de dizer que «Isto tem uma técnica: as suspensões e as paragens têm de ser dadas consoante o pensamento do autor e não ao sabor do improviso. Ao dizer os versos, tem de existir uma aproximação do intérprete com a letra. Só assim a plateia vive o fado.» Nos versos de um dos seus fados cantava que: «Com lídima expressão e voz sentida/ Hei-de cumprir no Mundo a minha sorte/ Alfredo Marceneiro toda a vida/ Para cantar o fado até à morte.» 

Faleceu na manhã de 26 de Junho de 1982, com 91 anos cumpridos. A filha disse aos jornalistas que Alfredo Marceneiro: «Nunca esteve doente, sofria apenas de velhice.» Uma última frase célebre do fadista, retirada de uma entrevista à Ilustração Portugueza, em 1931: «O meu maior desgosto foi o gramofone, que veio industrializar o fado. Que vergonha!» Em 1989, antecipando a comemoração do centenário do nascimento do fadista, a EMI-Valentim de Carvalho publicou o duplo álbum O Melhor de Alfredo Marceneiro. O seu neto, Vítor Duarte, publicou em 1995 uma biografia de Alfredo Marceneiro, acompanhada por urna compilação em CD (ed. Ovação). 

DISCOGRAFIA: 

1961 The Fabulous Marceneiro (LP, Colum-bia). 

1964 Há Festa na Mouraria (LP, Columbia). 

1972 Nos Tempos em Que Eu Cantava (LP, Columbia). 

1982 Saudade, (LP, Valentim de Carvalho). 

1989 O Melhor de Alfredo Marceneiro (LP, EMI). 

1993 O Melhor de Alfredo Marceneiro, vol. 2 (LP, EMI). 

1995 Recordar Marceneiro (CD, Ovação). 

1996 A Casa da Mariquinhas (CD, Carave-la-EM!). 

1997 Biografia do Fado (CD, EM1). 



segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Adriano Correia de Oliveira

1942 — Nasce a 9 de Abril no Porto, com o nome completo de Adriano Maria Correia Gomes de Oliveira, no seio de uma família tradicionalista e católica. Faz a instrução primária em Avintes e o curso do liceu no Porto, primeiro no Colégio Almeida Garrett e depois no Liceu Alexandre Herculano. Em Avintes, inicia--se no teatro amador e é co-fundador da União Académica de Avintes. 

1959 — Com 17 anos, ruma a Coimbra, onde estuda Direito, curso que deixa preso por uma cadeira. Na cidade universitária desenvolve grande actividade nas organizações estudantis, nomeadamente no Orfeão Académico, onde é solista, no Grupo Universitário de Danças Regionais e no Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra (CITAC). Toca guitarra eléctrica no Conjunto Ligeiro da Tuna Académica, do qual fazem parte José Niza, Daniel Proença de Carvalho e Rui Ressurreição. Os contactos com os músicos ligados ao fado de Coimbra estabelece-se de imediato. Adriano conhece o núcleo de artistas que vai transformar a tradição do fado coimbrão, naquele que é o primeiro passo para ir além da tradição, que caracterizará toda a revolução musical introduzida nos anos seguintes pelos impropriamente designados «baladeiros». António Portugal, Rui Pato, José Niza, António Bernardino são os nomes mais importantes do núcleo original, além de, obvia e naturalmente, José Afonso, a primeira grande influência do cantor e compositor. Canções de Zeca Afonso como «Menino do Bairro Negro» ou «Os Vampiros» mostram aos novos músicos uma outra realidade, além da reflectida pelo fado tradicional.

1960 — Adriano edita o primeiro EP "Noite de Coimbra", que integra as canções «Fado da Mentira», «Balada dos Sinos», «Canta Coração», e «Chula». António Portugal e Rui Pato acompanham os primeiros passos do novel compositor que, desde muito cedo, toma consciência das suas limitações ao nível da escrita poética, e opta por dedicar-se apenas à composição e ao canto. 

1963 — O primeiro LP de Adriano é Fados de Coimbra e reúne temas editados desde 1960 em três EP. Um disco onde se encontra a primeira versão da «Trova do Vento Que Passa», sobre um poema de Manuel Alegre, outra peça central do movimento cultural coimbrão e da contestação estudantil à ditadura. Posteriormente grava o segundo LP, Adriano Correia de Oliveira. «Menina dos Olhos Tristes», «Trova do Amor Lusíada», «Pedro Soldado», «Exílio», «Rosa de Sangue» e «Canção com Lágrimas» são temas do disco. António Cabral, António Ferreira Guedes, Luís Andrade e Urbano Tavares Rodrigues são outros poetas que Adriano canta, além de Alegre. 1964 Viaja até Paris onde conhece Luís Cilia, que permanecerá outra das suas grandes referências. Sempre activo na vida académica, não tardará em trocar o desporto — sagrou-se campeão nacional de voleibol pela Briosa — pelo crescente envolvimento na luta política. A crise de 69, porém, já não o encontrará na cidade do Mondego. 

1968 — Quando lhe falta apenas uma cadeira para terminar o curso de Direito, Adriano Correia de Oliveira troca Coimbra por Lisboa. Trabalha no gabinete de imprensa da FIL (Feira Internacional de Lisboa) e é produtor na editora onde sempre gravou. Entre este ano e 1971 grava a trilogia formada pelos álbuns "O Canto e as Armas", inteiramente dedicado à poesia de Manuel Alegre, "Cantaremos" e "Gente d'Aqui e de Agora". Destes três discos sairão muitos dos temas fundamentais de Adriano, que rapidamente são transformados em hinos da resistência ao Estado Novo. «Raiz», «E a Carne se Fez Verbo», «Peregrinação» e a segunda versão da «Trova» surgem em O Canto e as Armas. 

1969 — Ganha o Prémio Pozal Domingues. 

1971 — Ano da edição de Gente d'Aqui e de Agora, disco onde se inclui um poema de Assis Pacheco na contracapa e 11 canções, como «O Senhor Morgado», «História do Quadrilheiro Manuel Domingos Louzeiro», «Cantar de Emigração» e «Como Hei-de Amar Serenamente». José Niza é o principal colaborador de Adriano neste disco, que precede um silêncio voluntário de quatro anos, uma vez que o cantor recusa enviar os seus textos à Comissão de Censura. Neste álbum, José Calvário, com 20 anos, faz o seu primeiro arranjo como maestro na canção «E Alegre se Fez Triste». 

1975 — Em pleno ano quente da Revolução, Adriano edita o disco "Que Nunca Mais", com direcção musical de Fausto, e colaboração de Carlos Paredes, reunindo material sobre textos do escritor Manuel da Fonseca, que trabalhara ao longo dos últimos anos da ditadura. O disco estava pronto a ser publicado antes do 25 de Abril e o cantor disposto a assumir todos os riscos por essa atitude. "Que Nunca Mais" leva a revista britânica Music Week a eleger o cantor de Avintes como artista do ano. Até à sua morte editará ainda um sétimo álbum. 

1979 — Fiel ao espírito de grupo que sempre o animara, Adriano Correia de Oliveira é um dos fundadores da Cantarabril, cooperativa de músicos ligada ao Partido Comunista Português, com a qual entrará em ruptura dois anos depois, num processo pouco digno. 

1981 — E a hora da ruptura com alguns dos companheiros de luta, mas não com os mais importantes. Cilia, Fausto ou Zeca Afonso permanecerão ao lado de Adriano quando a direcção da Cantarabril decide expulsá-lo. Motivo: uma dívida de 40 contos e a «inadaptação de Adriano à perspectiva mercantilista de mercado». A saúde do cantor já está então consideravelmente degradada devido ao consumo imoderado de álcool. As suas actuações no último ano de vida, nomeadamente num concerto de apoio aos jornalistas da ANOP, ameaçados de desemprego, são fortemente afectadas por esse problema. A cooperativa ia endossando os convites dirigidos a Adriano para outros cantores da casa. Na hora má, Adriano Correia de Oliveira não contou com o apoio dos artistas do partido a quem dedicara a sua vida, cujo único acto de solidariedade foi a expulsão cantor. Luís Cilia deixou a Cantarabril devido a caso. Adriana foi recebido na cooperativa Era Nova, ligada a cantores mais próximos da extrema-esquerda, como Fausto e José Mário Branco. Dois anos mais tarde, numa sessão assinalando o primeiro aniversário da morte do cantor, na presença de vários membros da Cantarabril, o jornalista Júlio Pinto, também ex-militante do PCP, acusaria de «assassinos» os que o expulsaram da cooperativa. 

1982 — Aos 40 anos, num sábado, dia 16 de Outubro, Adriano Correia de Oliveira morre na terra natal, nos braços da mãe, vitimado por uma hemorragia no esófago. Deixou projectos inacabados, nomeadamente uma regravação dos seus temas mais antigos. 

1994 — Doze anos após a morte de Adriano Correia de Oliveira, a Movieplay reedita o seu material, numa caixa incluindo os sete álbuns e quatro EP que gravou. 

DISCOGRAFIA: 

1960 - Noite de Coimbra EP, (Orfeu). 

1961 - Balada do Estudante (EP, Orfeu); Fados de Coimbra (EP, Orfeu). 

1962 - Fados de Coimbra 2 (EP, Orfeu). 

1963 - Trova do Vento Que Passa (EP, Orfeu); Fados de Coimbra (LP, Orfeu). 

1964 - Lira (EP, Orfeu); Menina dos Olhos Tristes (EP, Orfeu). 

1967 - Elegia (EP, Orfeu); Adriano Correia de Oliveira (LP, Orfeu). 

1968 - Adriano Correia de Oliveira (EP, Orfeu); Rosa de Sangue (EP, Orfeu). 

1969 - O Canto e as Armas (LP, Orfeu). 

1970 - Cansaremos (LP, Orfeu). 

1971 - Trova do Vento Que Passa 2 (EP, Orfeu); Cantar de Emigração (EP, Orfeu); Gente d'Aqui e de Agora (LP, Orfeu). 

1972 - Batalha de Alcácer-Quibir Orfeu); Lágrima de Preta (EP, Orfeu). 

1973 - O Senhor Morgado (EP, Orfeu); Fados de Coimbra (LP, Orfeu). 

1974 - A Vila de Alvito (EP, Orfeu). 

1975 - Que Nunca Mais (LP, Orfeu). 

1976 - Para Rosalia (EP, Orfeu). 

1978 - «Noticias d'Abril» (single, Orfeu). 

1980 - Cantigas Portuguesas (LP, Orfeu). 

1983 - Memória de Adriano (duplo LP, Orfeu). 


terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Alberto Ribeiro



Alberto Ribeiro nasceu no Norte do País, em Ermesinde, no dia 29 de Fevereiro de 1920. Na família havia mais artistas. Um irmão e uma irmã também cantavam, tendo feito porém carreiras bem mais discretas. 

Coube a Alberto Ribeiro um maior quinhão da sorte. Com a sua voz incrivelmente extensa, de grande facilidade nos agudos e de timbre quente, podia ter sido em qualquer parte do Mundo um grande cantor. 

Em Portugal, ainda é recordado como uma voz única, a despeito da sua inexplicável decisão de se afastar dos palcos no apogeu da sua carreira. Fenómeno de popularidade surgiu, ao lado de Amália Rodrigues, como intérprete do filme Capas Negras que foi um êxito do cinema nacional. A partir de então, Alberto Ribeiro foi galã de cinema em várias películas nacionais e estrangeiras. 

No teatro, numerosas operetas encontraram em Alberto Ribeiro o intérprete ideal. Afastado, prematuramente, regressou 25 anos depois da primeira apresentação da opereta Nazaré, mas o regresso foi meteórico, remetendo-se novamente Alberto Ribeiro ao silêncio.

Discografia: 
1961 — Alberto Ribeiro Canta (EP, A Voz Do Dono). 
1964 — Mondego Sonhador (EP, Decca). 
1965 — Alberto Ribeiro (EP, Decca). 
1978 — Os Maiores Sucessos de Alberto Ribeiro (LP, Decca). 
1984 — O Melhor de Alber-to Ribeiro (LP, EMI). 
1985 — Saudade (LP, EMI). 
1992 —O Melhor de Alberto Ribeiro (CD, EMI). 
1994 — O Melhor dos Melhores (CD, Movieplay). 

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Afonsinhos do Condado

1984 — Nuno Faria, economista na Petrogal (baixo), Gimba, de seu nome real Eugénio Lopes (guitarra) e Jorge Galvão, publicitário (guitarra) formam os Tiroliro Vladimir Mohadir e Tá No Ir. Respectivamente adoptam os nomes de combate, Dr. Faria, Sr. Lopes e Mr. Galvão. Apresentam-se com regularidade no B'Arte, no Bairro Alto e no Café Creme. Participam nas «Quatro Tardes para Um Rio» no Café Concerto do Bairro Alto. 

1985 Maio — Com um nome muito comprido, resolvem procurar nova designação. Pensam primeiro em Tantan, mas acabam por optar por "Os Afonsinhos do Condado". Actuam nas Noites Longas, onde participam também os Sétima Legião. Ai conhecem Ricardo Camacho, que sugere a gravação de uma demo para eventual contrato com a EMI/VC. A maqueta é então gravada no Café Creme, por Manuel Paulo. Estreiam as «Noites Frescas» do Rock Rendez--Vous. 

1986 Jun. — Após um telefonema de Tozé Brito, e a conselho de Ricardo Camacho, acabam por assinar contrato com a PolyGram. 

1987 Mar. — Editam, em single e maxi-single (com três temas), A Salsa das Amoreiras, com produção de Ramón Galarza. No disco participam também Mário Laginha, Rui Veloso, Zé Nabo, o próprio Ramón Galarza e o Grupo de Sopros Lisbonenses, constituído por Tomás Pimentel, Carlos Martins e Tozé Oliveira. Uma equipa de luxo! A Salsa das Amoreiras torna-se rapidamente num enorme êxito, sendo inclusivamente alvo de uma imitação de Fernando Pereira e utilizado por Florbela Queirós que, numa peça no Teatro Variedades, entra em palco a cantar a canção. Nas rádios invade simultaneamente o FM e a onda média. Dão 32 concertos pelo pais. Participam no espectáculo «Vamos Cantar o Zeca», na Aula Magna, onde interpretam uma versão salsera de «O Que Faz Falta». 

1988 Abr. — Sai o segundo disco, LP Açúcar, com nove faixas produzidas por Ramón Galarza. As rádios não concentram o airplay numa mesma canção, e assim nascem vários êxitos: «Rolar no Chão», «Sambinha para Gorbachev», «Ska da Ilha» e «Noites Quentes». «Rolar no Chão» é, inclusivamente, remisturado pela Rádio Cidade, que chega a enviar cópias da remix para rádios no Brasil. Set. — Editam o single «Ska da Ilha» que apresenta uma remistura deste tema, por José Carrapa, e uma regravação de «É Hoje o Dia». Ao longo do ano são presença assídua na televisão e nas rádios. Durante o Verão dão espectáculos de estrada e participam nalguns concertos no Casarão das Palmeiras, a sede do PSR, onde chega a haver problemas com skinheads. A solo, Jorge Galvão compõe um tema para o disco A Festa do Circo, um projecto do Chapitô. 

1989 Maio — Lançam o mini-LP No Parque Mayer com produção de Ramón Galarza e dos próprios Afonsinhos do Condado. No disco encontram-se canções como o «Rap do B.A.», o primeiro tema de rap gravado em Portugal, «Primavera»,, «Rapariguinha Você E Uma Loucura», com Kalu (dos Xutos & Pontapés) na bateria, ou «A Menina Sensação». É o princípio do declínio do grupo que, tendo fugido ao característico som tropical, para explorar diversas formas, causou uma reacção negativa junto ao público. O disco é estreado na RFM (e simultaneamente na estação espanhola Cadena Ser) num concerto transmitido em directo do Loucuras. Um mês depois, ao verificar algumas brejeirices nas letras, a Rádio Renascença proíbe a passagem do disco. Uma entrevista no Sete, por Cristina Arvelos, recebia o título «Temos Pilinha, mas somos diferentes». A imagem do grupo entretanto mudara. 

1990 Mar. — Simultaneamente, são colocados no mercado o CD compilação Afonsinhos do Condado e um mini-LP com o mesmo título. No CD são incluídos, além dos greatest hits, os inéditos «Música do Sul» e «Querida Guida», este último o derradeiro êxito radiofónico do grupo. O mini-LP acrescentava, aos dois inéditos, remisturas (da autoria do grupo e de Zé Vasco) de quatro temas do álbum Açúcar_ Participam no Festival RTP da Canção com «Juju e a Sua Banda» que alcança o 9.° lugar (em 10 concorrentes). Maio — Em Aveiro, no recinto da Feira das Indústrias, o grupo dá o último concerto com Gimba, que abandona Os Afonsinhos do Condado para, pouco depois, apresentar (durante algum tempo) o programa «Pop-Off» na RTP2. Entre entrevistas e loucuras cria, para o «Pop--Off», As Aventuras de Cazé, um breve seriado humorístico. Jun. — Naná Sousa Dias assume a direcção artística do grupo e escolhe os músicos que acompanham Os Afonsinhos do Condado, agora reduzidos a Nuno Faria (voz) e Jorge Gaivão (guitarra). São convocados Zé Nabo (baixo), Roberto Soares (bateria), João Ferreira (percussões) e, nos sopros, Claus Nymark, Naná Sousa Dias e Eduardo Santos. Tocam em França, no Festival Internacional de Nimes, num cardápio que apresentava nomes como os de Jorge Ben, Ray Barreto e os Les Negresses Vertes. Jul. — Actuam em Toronto (Canadá) a convite da Chin Internacional Radio, no Dia das Comunidades. De regresso a Portugal, correm o país onde participam em diversos espectáculos. 

1991 Set. — Novo Verão de concertos. Dia 28, na discoteca Hipotenusa, no Porto, dão o último concerto. Como esse era o dia de aniversário de Gimba, convidam-no para acompanhar o grupo. Ao vivo, chega a cantar o «Rap do B.A», ao que se seguiu um «Parabéns a Você». Depois do concerto, entre copos, no Swing, Nuno Faria e Jorge Gaivão decidem suspender a actividade do grupo. 

1992 — Nuno Faria é o responsável pela direcção artística do grupo Lindu Mona e os Bangalas do Kassange, um projecto de música angolana com músicos de Angola, Cabo Verde e Portugal. Actuam diversas vezes no Café Concerto da Comuna. 

1993 Jul. — Lindu Mona e os Bangalas do Kassange deslocam-se a Itália para uma digressão. Mesmo sem disco, nem perspectivas de gravação próxima, o projecto mantém-se activo com uma agenda regular de concertos até ao presente. Jorge Gaivão faz a cenografia para Quiosque do grupo de teatro Persona. 

1994 Abr. — Nuno Faria participa numa performance de homenagem a John Cage na Rua Augusta, organizada por José Oliveira. Dentro de um círculo de arame farpado e no topo de um monte de palha onde num pano se lia «Os ARTISTAS São a Classe Ruminante», lá estavam os músicos. Jorge Gaivão faz a cenografia para O Estranho Caso da Tia do Melro, de Fernando Gomes, apresentado na Comuna. 

1995 Jan. — Nuno Faria assume o lugar de A&R nacional da PolyGram, deixado vago, alguns meses antes, quando Carlos Maria Trindade se juntou aos Madredeus. É o responsável pela chegada ao catálogo de nomes como os Pop dell'Arte ou Blackout. 

1996 Maio — A PolyGram anuncia a edição de um disco a solo de Gimba, «Funky, Punky, Trunky». 

DISCOGRAFIA: 

1987 — «Os Afonsinhos do Condado» (single, Polydor). 

1988 — Açúcar (LP, Polydor); «Ska da Ilha» (re-misturado) (single, Polydor). 

1989 — No Parque Mayer (mi-ni-LP, Polydor). 

1990 — Os Afonsinhos do Condado (mini--LP, Polydor); Os Afonsinhos do Condado (CD com 16 canções, Polydor). 


Almeida Santos

António de Almeida Santos, ex-presidente da Assembleia da República, nasceu em 1926, em Cabeça, concelho de Seia. Viveu em Coimbra de 1938 a 1953, ano em que se licenciou na Faculdade de Direito da Universidade. Enquanto estudante residiu na Real República Baco, urna república com sérias tradições no fado de Coimbra, uma vez que também foram «Bacos», cantores como Fernando Machado Soares e Fernando Gomes Alves, Dário Cruz (guitarra) e violas como Manuel Pepe e José Niza, e ainda, Francisco Bandeira Mateus, que escreveu as letras de alguns fados de Machado Soares. 

Almeida Santos cantou no Orfeão Académico, tocou guitarra com a Tuna e foi, ainda, presidente da Secção Cultural da Associação Académica. Aprendeu a tocar guitarra com António Brojo, no final dos anos 40, e começou a cantar o fado nas digressões da Tuna e do Orfeão. Com este coro deslocou-se a Angola e Moçambique e, ainda, ao Brasil, em digressões consideradas históricas. E foi em Lourenço Marques que posteriormente se fixou para advogar, até pouco tempo antes do 25 de Abril de 1974. Em Coimbra, e para além de António Brojo, foi contemporâneo dos guitarristas Carvalho Homem, João Bagão e Manuel Branquinho e dos violas Tavares de Melo, Alfredo Caseiro da Rocha, Carlos Figueiredo, Aurélio Reis e outros. Os cantores do seu tempo (finais dos anos 40/inícios de 50) foram Anarolino Fernandes, Jorge Gouveia, Alexandre Herculano, Roxo Leão, e, ainda, Luiz Goes, já na fase final da sua passagem por Coimbra. 

Almeida Santos tinha especial predilecção por alguns autores, cujos fados cantou: Armando Goes (tio de Luiz Goes), Paradela de Oliveira, Carlos Figueiredo, Tavares de Melo, Raposo Marques e Florêncio de Carvalho (autor da música e da letra de «Lá Longe», o fado que Almeida Santos interpreta no primeiro volume da colectânea Fados e Guitarradas de Coimbra, editado pela Movieplay em 1996). 

Embora residindo em Moçambique - onde foi considerado o melhor advogado que por lá passou -, Almeida Santos deslocava-se frequentemente à metrópole, em viagens de trabalho, que sempre aproveitava para rever amigos e matar saudades de Coimbra. E assim, sempre que podia, rumava à Lusa--Atenas direto à «sua» velha Baco. Lá chegado — e quaisquer que fossem os estudantes residentes na altura - Almeida Santos pedia uma guitarra, integrava-se no ambiente e por ali ficava dois ou três dias (e noites) até que regressava a Moçambique. 

E assim tem sido até hoje. Sempre que pode, lá está ele, com a sua excelente guitarra made in Grácio, a cantar, a tocar e a recordar os seus tempos de Coimbra. 


Alice Amaro

Alice Amaro, cujo nome completo é Alice de Moura Amaro, é alfacinha de gema. Nasceu no típico Bairro de Alfama, a 12 de Setembro de 1936. Cantava desde miúda, onde e quando lhe apetecia, ou lhe pediam, e essa natural vocação levou-a ao Centro de Preparação de Artistas de Rádio, sob a direção do Prof. Motta Pereira. 

Aí conseguiu obter, com facilidade, dadas as suas naturais aptidões, as bases e os conhecimentos que lhe permitiram abraçar, sem hesitações, a profissão que desde sempre a apaixonara. 

Deste modo, ao cabo de um ano de regulares atuações aos microfones daquela que foi a única escola de artistas de rádio em Portugal, Alice Amaro decidiu enveredar pela. carreira profissional. A sua estreia aconteceu, com grande êxito, a 28 de Junho de 1958, num Serão para Trabalhadores na Emissora Nacional. 

DISCOGRAFIA: 

1959 Triste Sina (EP, Alvorada). 

1960 Olhos Azuis (EP, Alvorada). 

1961 Bom Dia Lisboa (EP, Alvorada). 

1962 Simpatia (EP, Alvorada). 

1963 Vaidosa (EP, Alvorada). 

1964 Ser Moderno (EP, Alvorada). 

1967 Sou Quem Sou (EP, Alvorada); Alfacinha de Gema (EP, Alvorada). 

1968 Lisboa dos Milagres (EP, Alvorada); Tic-Tac do Amor (EP, Alvorada). 

1971 A Rua do Zé Ninguém (EP, Alvorada).