António de Almeida Santos, ex-presidente da Assembleia da República, nasceu em 1926, em Cabeça, concelho de Seia. Viveu em Coimbra de 1938 a 1953, ano em que se licenciou na Faculdade de Direito da Universidade. Enquanto estudante residiu na Real República Baco, urna república com sérias tradições no fado de Coimbra, uma vez que também foram «Bacos», cantores como Fernando Machado Soares e Fernando Gomes Alves, Dário Cruz (guitarra) e violas como Manuel Pepe e José Niza, e ainda, Francisco Bandeira Mateus, que escreveu as letras de alguns fados de Machado Soares.
Almeida Santos cantou no Orfeão Académico, tocou guitarra com a Tuna e foi, ainda, presidente da Secção Cultural da Associação Académica. Aprendeu a tocar guitarra com António Brojo, no final dos anos 40, e começou a cantar o fado nas digressões da Tuna e do Orfeão. Com este coro deslocou-se a Angola e Moçambique e, ainda, ao Brasil, em digressões consideradas históricas. E foi em Lourenço Marques que posteriormente se fixou para advogar, até pouco tempo antes do 25 de Abril de 1974. Em Coimbra, e para além de António Brojo, foi contemporâneo dos guitarristas Carvalho Homem, João Bagão e Manuel Branquinho e dos violas Tavares de Melo, Alfredo Caseiro da Rocha, Carlos Figueiredo, Aurélio Reis e outros. Os cantores do seu tempo (finais dos anos 40/inícios de 50) foram Anarolino Fernandes, Jorge Gouveia, Alexandre Herculano, Roxo Leão, e, ainda, Luiz Goes, já na fase final da sua passagem por Coimbra.
Almeida Santos tinha especial predilecção por alguns autores, cujos fados cantou: Armando Goes (tio de Luiz Goes), Paradela de Oliveira, Carlos Figueiredo, Tavares de Melo, Raposo Marques e Florêncio de Carvalho (autor da música e da letra de «Lá Longe», o fado que Almeida Santos interpreta no primeiro volume da colectânea Fados e Guitarradas de Coimbra, editado pela Movieplay em 1996).
Embora residindo em Moçambique - onde foi considerado o melhor advogado que por lá passou -, Almeida Santos deslocava-se frequentemente à metrópole, em viagens de trabalho, que sempre aproveitava para rever amigos e matar saudades de Coimbra. E assim, sempre que podia, rumava à Lusa--Atenas direto à «sua» velha Baco. Lá chegado — e quaisquer que fossem os estudantes residentes na altura - Almeida Santos pedia uma guitarra, integrava-se no ambiente e por ali ficava dois ou três dias (e noites) até que regressava a Moçambique.
E assim tem sido até hoje. Sempre que pode, lá está ele, com a sua excelente guitarra made in Grácio, a cantar, a tocar e a recordar os seus tempos de Coimbra.
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