Será um mero revivalismo de quem os viveu nos verdes anos, ou haverá algo de realmente especial que justifique o gozo de revisitar os cromos dos anos 80? Fomos investigar o tema.
Porque é que a geração dos nascidos entre 1970 e 1980 — mais ano, menos ano — tem uma relação tão emocional com as memórias dos anos 80? O que nos leva a consumir produtos como a Caderneta de Cromos, de Nuno Markl, e a ir aos concertos que voltam a reunir bandas dessa época? O que nos faz partilhar pela enésima vez o texto “Se nasceste antes de 1986”, que circula há vários anos pelas redes sociais, enaltecendo a liberdade das nossas infâncias, contra os excessos de tecnologia e de regulação securitária dos dias atuais?
De acordo com os reguladores e burocratas, todos nós que nascemos nos anos 60, 70 e princípios de 80, não devíamos ter sobrevivido até hoje. (…) Quando éramos pequenos viajávamos em carros sem cintos e airbags, viajar à frente era um bónus e uma guerra, para os que têm irmãos e irmãs. (…) Comíamos batatas fritas, pão com manteiga e bebíamos groselha com açúcar, sumos e Coca-Cola, mas nunca engordávamos porque estávamos sempre a brincar lá fora. (…) Estávamos incontactáveis e ninguém se importava com isso.
Havia desenhos animados (Abelha Maia, Sindbad, Conan, He-Man, Dartacão, Willie Fog, Bocas, Tom Sawyer, Huckleberry Finn, etc.), séries e programas giros (Duarte & Companhia, Buck Rogers, Galáctica, Espaço 1999, O Justiceiro, Soldados da Fortuna, Alf, Rua Sésamo, etc.), mas não dependíamos da TV. (…) Íamos a pé para casa dos amigos. Acreditem ou não íamos a pé para a escola. Não esperávamos que a mamã ou o papá nos levassem.
Podemos responder simplesmente que toda a gente gosta de lembrar a sua infância e de dizer que no seu tempo é que era bom. Ou podemos justificar que essa geração, agora nos trintas-quarentas, é quem hoje dita o entretenimento que é servido nos talk-shows televisivos e no horário nobre das rádios. Mas estaríamos assim a ignorar algumas características específicas que tornam a década de 80 icónica.
O que explica que os clássicos das Doce continuem a incendiar algumas pistas de dança e que José Cid mantenha uma popularidade invejável nas festas académicas? Que bandas novas como os Ciclo Preparatório e Os Capitães da Areia, cujos membros nasceram já na década de 90, assumam a estética e sonoridade da pop portuguesa dos anos 80 e tenham a Lena d’Água, diva nacional dos anos 80, como talismã? Ou que uma rádio que passa música entre 1970 e 2000 se chame simplesmente M80? Afinal, o que têm de tão especial os anos 80?
https://observador.pt/especiais/por-que-gostamos-tanto-dos-anos-80/
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