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quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

A Fúria do Açucar

1991 — João Melo, Renato Solnado e João Didelet formam um grupo para espectáculos de Café Concerto, que permanece activo por dois anos. 

1994 — João Melo decide criar um outro projecto, com base musical, para o qual entram os músicos Ruca Rebordão, Filipe Larsen, Múcio Sá, Sónia Fonseca e Ellyza Miranda. 

1995 — Assinam com a PolyGram, entusiasmada com as características humorísticas do grupo, então  já designado como A Fúria do Açúcar. 

1996 — A PolyGram edita A Fúria do Açúcar, álbum de estreia que apresenta a advertência, "Este é um disco de pura palhaçada. Qualquer semelhança com a seriedade será mera coincidência." O disco inclui os extras «Track», «Bonus Track» e «Master Track», todos eles com sons de «traques»... O single promocional  "Batman (É Ele)" roda com insistência na rádio. O vídeo, uma paródia à Igreja Universal do Reino de Deus, é pouco passado na TV. O disco não resulta no mercado. Apenas com fins promocionais, a PolyGram lança um CD single com uma remistura de «Buraca» — a «Burakinha Mix» — da responsabilidade do DJ, Nuno Miguel. 

1997 Jan. — Editam o segundo álbum de originais O Maravilhoso Mundo do Acrílico que inclui uma canção «Long Dick Man», meio cantada em russo. 


Afterdeath

Surgidos em Lisboa em 1990 os Afterdeath são liderados por Sérgio Paulo, vocalista e único elemento original, também responsável pela editora e antiga fanzine Guardians Of Metal. O Grupo fez a sua estreia ao vivo em Março de 1991 e desde então realizou algumas digressões nacionais. 

Em 1992 surge a primeira maqueta intitulada «Behind Life» de onde é retirado o tema «Digital Horizons» incluído na colectânea «The Birth of a Tragedy» da MTM. 

Em 1993 os Afterdeath participam com "Dark Atmosphere" na compilação «Sometimes Death Is Better» da Shiver Records, uma editora belga. «Unreal Sight» é a segunda maqueta publicada em 1994 com uma nova formação. Após várias reviravoltas, o guitarrista original Nuno Maciel regressa aos Afterdeath, adicionando-se Mário Rui na bateria e José Ramos no baixo. Foi esta formação que gravou no Verão de 1995 o álbum de estreia Back Words onde misturam várias vertentes do metal com especial ênfase no death metal. Desde então, os Afterdeath já sofreram mais algumas mudanças de line-up e aguarda-se um segundo trabalho de originais. 

Ada de Castro

Ada de Castro Pereira nasceu a 13 de Agosto de 1937 na freguesia do Castelo, em Lisboa. Quando iniciou as lides fadistas, optou pelo nome mais curto e fácil de Ada de Castro. 

A sua carreira, após a estreia no restaurante típico Faia, fê-la peregrinar pelas mais importantes casas de fado e casinos do continente e da Madeira. Quando chegou a vez do teatro, Ada de Castro estreou-se na revista "Tudo à Mostra", no Teatro Maria Vitória, a 15 de Abril de 1966, cantando "Na Hora da Despedida", tendo sido um êxito para a jovem fadista. Ao longo da sua carreira, Ada de Castro gravou também marchas populares, nomeadamente aquelas de que tem sido madrinha. 

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Barry Gibb lança a canção de amor 'Butterfly' que escreveu com os irmãos Robin e Maurice quando eram crianças

Barry Gibb lançou uma canção chamada 'Butterfly' que ele escreveu e gravou originalmente com os irmãos Robin e Maurice Gibb quando eram apenas crianças na Austrália.


Barry Gibb lançou uma canção do seu novo álbum e desta vez é uma canção de amor impressionante que ele escreveu com seus irmãos Bee Gees Robin e Maurice Gibb quando eles eram apenas crianças.

O que aconteceu aos Climie Fisher?

Os Climie Fisher alcançaram o sucesso em meados da década de 1980, graças às suas contagiantes faixas pop. Depois de obter sucessos a nível internacional como 'Love Changes Everything' e 'Rise to the Occasion', eles simplesmente desapareceram.

Mas o que o grupo fez a seguir? Aqui está uma retrospectiva:

Quem eram os Climie Fisher?

Os Climie Fisher eram constituídos pelo cantor Simon Climie e pelo ex-teclista dos Naked Eyes, Rob Fisher. 

O grupo encontrou-se nos icônicos estúdios Abbey Road Studios, Depois de se darem bem rapidamente, incluindo o seu gosto especial pelos Beatles, eles decidiram formar um grupo juntos.


Quais foram os seus maiores sucessos?

O seu primeiro álbum, chamado Everything , ficou em 14º lugar no Reino Unido. Continha os singles 'Love Changes Everything' (# 2 no Reino Unido) e 'Rise to the Occasion' (# 10).

No entanto, o seu segundo álbum, Coming In For The Kill , não foi tão bem-sucedido e alcançou um decepcionante número 45.

O seu último sucesso no top 40 foi 'Love Like a River' (# 22), de 1988.


O que aconteceu depois?

A banda separou-se logo após o lançamento de seu segundo álbum.

Fisher mais tarde co-escreveu a canção de Rick Astley, 'Cry for Help'. Ele também contribuiu como compositor para os álbuns Free and Body & Soul de Astley (1993).

Fisher infelizmente morreu dia 25 de agosto de 1999, durante uma cirurgia a um cancro no intestino, com apenas 42 anos.

Antes da banda, Simon Climie co-escreveu o hit de George Michael e Aretha Franklin 'I Knew You Were Waiting (For Me)' em 1986.

Ele também trabalhou como produtor para artistas como Louise, MN8 e Five Star, e como compositor e músico para Eric Clapton.

Ele também trabalhou com Michael McDonald em seus álbuns da Motown e produziu o álbum de 2009 do vencedor do American Idol , Taylor Hicks.




terça-feira, 24 de novembro de 2020

Tina Turner: O legado desconhecido da sua carreira

Nascida no estado do Tennessee, nos Estados Unidos, a 26 de novembro de 1939, Tina Turner é muito provavelmente uma das melhores cantora pop do mundo da música. A norte-americana teve uma vida turbulenta, repleta de dificuldades, tragédias e problemas de saúde (como um AVC, um cancro do intestino e uma doença renal), mas ainda assim conseguiu construir uma carreira de enorme sucesso. A cantora ascendeu ao estrelato juntamente com o parceiro, Ike, tendo depois estado em destaque com uma carreira a solo, lançando diversos temas icónico, uns depois dos outros e tornando memoráveis muitos dos seus looks.

No entanto, nem todas as pessoas sabem que Tina Turner também conta com uma notável carreira no ecrã. A artista apareceu em diversos filmes, séries e programas de televisão, mostrando que também tem talento para a representação.

https://www.msn.com/pt-pt/lifestyle/noticias/tina-turner-o-legado-desconhecido-da-sua-carreira/ss-BB1bheUW#image=4

A 'vingança' dos Queen nos EUA. Quase 40 anos depois, “Greatest Hits” chega finalmente ao top 10

Mais vale tarde do que nunca. Lançado em 1981, o best of que reúne canções como 'Bohemian Rhapsody', 'Don't Stop Me Now' 'We Will Rock You' ou 'We Are The Champions' chegou ao top 10 nos Estados Unidos

Lançado em 1981, "Greatest Hits", o primeiro best of dos Queen, finalmente entrou no top 10 do top norte-americano.

A razão para esta proeza foi a reedição desta mesma coletânea em vinil, disponível em duas versões, com cores diferentes.

Apesar de nunca ter chegado, até agora, ao top 10 dos Estados Unidos, "Greatest Hits" arrecadou o galardão de nónupla platina, correspondente a nove milhões de discos vendidos, estando assim 'apenas' a um milhão do estatuto de disco de diamante.

Lançado em outubro de 1981, "Greatest Hits" é um disco duplo, com 'Bohemian Rhapsody', 'Don't Stop Me Now' 'We Will Rock You', 'We Are The Champions', 'Somebody To Love' ou 'Crazy Little Thing Called Love' no seu alinhamento.

https://www.msn.com/pt-pt/entretenimento/musica/a-vingan%c3%a7a-dos-queen-nos-eua-quase-40-anos-depois-%e2%80%9cgreatest-hits%e2%80%9d-chega-finalmente-ao-top-10/ar-BB1biZML

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Dançar ao som dos genéricos dos desenhos animados

Na primeira sexta-feira de cada mês, o bar do Teatro da Comuna abre as suas portas a uma festa temática que mantém um fiel grupo de seguidores — só na página de Facebook são 4 mil. O ator Hugo Franco é o DJ residente da Festa da Comuna, que criou em 2004 com os amigos João Tempera e Joaquim Horta, “quando ainda não estava na moda fazer festas dos anos 80”. Começou por ser uma festa para juntar os colegas que saíam dos ensaios ou dos espetáculos, e ao início eram sobretudos pessoas do “meio artístico e jornalistas”, mas, com o passa-palavra a funcionar, vieram os “betinhos” e outras tribos, e a festa rapidamente chegou a ter mil pessoas, o triplo da lotação da sala, a dançar ao som dos sucessos nacionais e internacionais dos anos 80.

Hugo Franco recorda que sempre houve em Lisboa espaços onde se podia ouvir música dos anos 80, quer no Cais do Sodré, onde os bares na altura ainda eram dominados por marinheiros e prostitutas, quer em bares de culto, como o Frágil, “que era muito inacessível para a maioria”. Ao lançar este conceito de festa revivalista, quiseram fazer diferente, desde logo, com uma política de entrada muito democrática e liberdade para todos os estilos e indumentárias. O único limite era mesmo o espaço: houve tempos em que a casa enchia logo após a abertura, à meia-noite, e a fila de espera estendia-se pela Praça da Espanha.

O trunfo maior era, sem dúvida, a música. Além dos clichês internacionais, como Billie Jean ou Like a Virgin, a festa tinha a maior representação de música portuguesa da noite lisboeta. Dos Xutos às Doce, passando pelo Chico Fininho e pelo Conquistador, sempre “músicas com letra”, com as colunas a calarem-se de vez em quando para deixar sobressair o coro dos convivas.

Hugo repetiu então essa fórmula vencedora na Comuna: na primeira vez que pôs a tocar o Serafim Saudade, a reação de espanto foi geral e a adesão imediata. E assim continuou até hoje, com o Dartacão, o Tom Sawyer e outros que tais a incendiarem a pista, como testemunha o DJ: “Um dia lembrei-me de pôr a tocar o Lá em cima [genérico da série Era Uma Vez… o Espaço] e, de repente, tinha grupos de amigos abraçados a cantar, uma loucura!” E é tão bom uma amizade assim…

Hugo Franco acredita que “esta coisa dos anos 80” é muito o cultivar do “ter vivido aquilo”, um “ah, lembras-te?” que cria uma certa superioridade de quem se lembra perante quem não se lembra. “É um estatuto dizer que se esteve lá”, remata.

Nuno Markl faz também a sua leitura sociológica da década que tanto explora nos seus programas: “Fomos uma geração sem grande turbulência nem grandes causas, o que soa um bocadinho patético se compararmos com o que se passou com os nossos pais, que viveram coisas como o maio de 68 ou o abril de 74. Mas estimamos as nossas referências menos heroicas e mais pop, porque nos fizeram felizes. Não vivemos revoluções, vivemos numa espécie de Disneylândia colorida que foram os anos 80, uma idade da inocência feita de desenhos animados, filmes, canções, brinquedos e guloseimas improváveis, em que as guerras eram frias e a inexistência de redes sociais e de reality shows nos fizeram crer que praticamente toda a gente era fixe, exceto os vilões dos filmes e das séries.”

https://observador.pt/especiais/por-que-gostamos-tanto-dos-anos-80/

O revivalismo está na moda?

Quando pensamos em memórias dos anos 80, a primeira referência que nos surge é Nuno Markl e a sua Caderneta de Cromos. A rubrica esteve presente nas Manhãs da Comercial entre 2009 e 2012, e nesses três anos de emissões contribuiu para duplicar o share da estação no horário matinal. “Os Cromos ajudaram, porque traziam uma mistura entre o hype do meu regresso à Comercial e a fazer rádio com um velho amigo, o Pedro Ribeiro, e porque não havia nada como aquilo”, recorda Markl ao Observador. “Eu adorava que alguém tivesse feito antes de mim, eu adorava ser ouvinte de uma rubrica que dissecasse e comentasse de forma quase obsessiva as nossas memórias dos anos 80. Foi mesmo um caso de ‘se ninguém faz isto, vou eu fazer’.”

O sucesso não se ficou pela rádio: vendeu mais de 50 mil livros, encheu Coliseus e teve até direito a um jogo de tabuleiro. A rubrica acabou por agradar também às faixas etárias abaixo do público-alvo mais previsível, e Markl explica porquê: “Eu tentei que a minha abordagem nos cromos não fosse do género, ‘ah, aquilo é que eram tempos!’. Tentei criar um compromisso entre tocar as memórias e o coração de quem passou por aquilo e, ao mesmo tempo, falar para quem não esteve lá, mostrando a coisa quase como uma visita a um planeta distante, diferente deste. Os fãs mais novos pegaram por aí. E também pelo facto de terem em casa pessoas que viveram essas aventuras. Um efeito da Caderneta de Cromos (e agora dos Cromos M80) que sempre adorei foi a maneira como abriu algumas janelas de conversa entre gerações.”

Inspirado na rubrica radiofónica de Nuno Markl, David Martins criou em 2012 o blogue Enciclopédia de Cromos, com a ajuda dos amigos Paulo Neto e Paulo Gomes. “Recordar é o mais próximo que temos da viagem no tempo, e era o que eu queria criar com a Enciclopédia, uma máquina do tempo, para viajar e partilhar as memórias”, conta David. A interação com os seguidores do blogue é também um aspeto importante: “cria-se um laço quando um grupo encontra um ponto comum, seja o tema musical de um desenho animado ou uma tragédia que acompanhámos em direto na TV”.

Atualmente, David Martins sente a falta do que considera “especial na TV e na música nacional na década de 80: uma vontade coletiva de arriscar e celebrar a variedade, desafiando o política e esteticamente correto”. É graças à Enciclopédia de Cromos que podemos recordar, por exemplo, a cena dos desenhos animados que nos surpreendeu em criança (e terá feito Alexandre Dumas dar voltas no túmulo), com a revelação de que o mosqueteiro Aramis era uma mulher.

Outro blogue que presta um excelente serviço a quem gosta de evocar memórias dos anos 80 em detalhe é o Ainda Sou do Tempo, de Hugo Silva, cujo nascimento foi também inspirado na Caderneta de Markl: “Às vezes ficava aborrecido por ele abordar de forma muito rápida os assuntos (por causa do tempo da rubrica), ou por não falar de outros que eu gosto, e criei o blogue.” Hugo investe na opinião pessoal sobre os tesourinhos que recorda, para que o blogue não seja um simples “lembram-se disto?”. As visitas dispararam quando “o próprio Markl falou dele no programa”, estando hoje numa média próxima dos mil visitantes por dia, conta Hugo Silva ao Observador.

Para explicar o fascínio pela década mais croma, o autor do blogue Ainda Sou do Tempo defende que “a televisão e a música dos anos 80 ganham pela originalidade, mesmo o que era mau ou piroso era interessante”. Sobre os desenhos animados de hoje, Hugo Silva lamenta que “pareçam todos iguais. A dobragem na televisão já nem tem muita atenção aos movimentos da boca, dantes tinha muito mais charme.”

Pegando no título do espaço infantil da sua infância, João Costa e Nuno Sobral criaram o blogue Brinca Brincando. “Sempre gostámos muito de televisão e sempre colecionámos muita coisa sobre o tema — não só gravações, mas também revistas e livros — e achámos que seria interessante partilhar algum desse material”, conta João Costa ao Observador. Embora seja trabalhoso, a motivação para dar continuidade ao blogue “resulta da viagem ao passado que ele proporciona”. João Costa entrega-se de alma e coração à investigação sobre cada programa: “pesquiso tudo o que tenho ao meu alcance, mergulho nele de tal maneira que sinto como se estivesse na época em que ele passou”.

Da sua infância, João Costa recorda que havia muito menos opções de entretenimento: “os computadores estavam a começar, não havia internet, e a televisão acabava por ser uma presença importante na vida de toda a gente”. Ao contrário da “facilidade com que hoje se tem acesso a tudo” e de podermos “andar para trás na box” quando perdemos a transmissão de algum programa, nos anos 80 não era assim: “se perdêssemos, tínhamos de aguardar que a RTP se lembrasse de repetir noutra ocasião”.

Mas nem só de blogues vive o revivalismo dos anos 80. Pedro Paulos lançou há pouco o podcast Brandos Costumes, onde revisita “os caminhos menos percorridos da música portuguesa”. Também aqui o toque de Midas de Nuno Markl foi decisivo: bastou uma recomendação veemente do radialista para que o primeiro episódio de Brandos Costumes saltasse para o topo da lista dos podcasts mais ouvidos no iTunes. Se quiser recordar êxitos muito lá do fundo do baú, como o Pérola, Rosa, Verde, Limão, Marfim de Dina, não deixe de ouvir o trabalho de Pedro Paulos.

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A televisão como agregadora de massas


O grande elemento aglutinador do imaginário dos anos 80 foi, sem dúvida, a televisão. A RTP era a única estação, dividida por dois canais complementares — havia até um sinal a piscar no ecrã para avisar que estava a começar um novo programa no outro canal. As emissões não duravam 24 horas, longe disso. No início da década de 80, o número de horas de emissão chegou até a ser reduzido, primeiro para poupar energia (!), mais tarde para cortar na despesa pública. Era caso para dizer, como n’A Árvore dos Patafúrdios: por incrível que pareça, não há nada que não nos aconteça!

Para Isabel Ferin da Cunha, investigadora na área dos media na Universidade de Coimbra, “os anos 80 caracterizam-se pelo domínio das telenovelas brasileiras e pelos concursos familiares”. O ano de 1977 é decisivo na história da televisão portuguesa, ficando marcado por dois programas precursores do seu género. A 16 de maio, estreava Gabriela, a primeira telenovela brasileira, que fazia parar o país — até o Parlamento adaptou os seus horários para que os deputados não perdessem um episódio — e introduzia novo vocabulário e comportamentos. Isabel Ferin da Cunha comenta ao Observador que “os espectadores, sobretudo as classes médias portuguesas em ascensão, percebiam os conteúdos das telenovelas como modelos de comportamentos, estilos de vida e valores inerentes à modernização”, o que foi um dos fatores do seu sucesso. Assim se inaugurava um filão que se manteria em alta durante toda a década de 80: entre 1980 e 1989, a RTP passaria 37 novelas brasileiras e cinco portuguesas

O ano de 1977 é decisivo na história da televisão portuguesa, ficando marcado por dois programas precursores: a telenovela "Gabriela" e o concurso "A Visita da Cornélia".

Três semanas depois de Gabriela, arrancava A Visita da Cornélia, um concurso apresentado por Raul Solnado e Fialho Gouveia, que juntava provas de cultura geral e de criatividade. Um dos concorrentes que se destacou neste concurso foi José Fanha, poeta que acompanhara Zeca Afonso e os “baladeiros” na época do 25 de abril. Foi depois autor de vários programas infantis, como o Zarabadim, em que cunhou a expressão pozinhos de perlimpimpim, e a incontornável Rua Sésamo. José Fanha recorda ao Observador os anos 80 como uma “época notável para a produção de ficção portuguesa, que se estendeu até meados dos anos 90”. Apesar de disporem de meios de produção muitos arcaicos, Fanha e os autores da altura tinham “uma enorme liberdade criativa” e havia um cuidado especial com a qualidade dos textos, “que hoje se perdeu”.

Nas limitadas horas de emissão, a grelha da RTP conseguia ter bastante variedade, com espaço para programas tão diversos como os desenhos animados de Leste trazidos por Vasco Granja, o didatismo do TV Rural e da Telescola, o humor disruptivo de Herman José n’O Tal Canal, ou a revelação de novos talentos artísticos n’O Passeio dos Alegres de Júlio Isidro. Já para não falar das séries americanas que conquistavam a juventude, como O Justiceiro, Os Três Duques, MacGyver ou Os Soldados da Fortuna, ou da série espanhola Verão Azul.

O monopólio da RTP é determinante para explicar este período de crescimento da televisão. Nuno Markl sublinha que “a RTP não tinha concorrência, por isso podia ter A Balada de Hill Street em horário nobre, ou dar-se ao luxo de produzir experiências loucas que acabavam por tornar-se populares, como o Duarte e Companhia. Até os concursos eram de uma imaginação prodigiosa, como o 1, 2, 3. E o público respondia a isso, também porque não conhecia outra realidade.”

A soma de todos estes sucessos transformou a televisão “num dos agentes mais ativos da modernização”, segundo Isabel Ferin da Cunha. A investigadora dá como exemplo do aumento da influência da televisão nos anos 80 a multiplicação da “caixinha mágica” nos lares portugueses: “em 1977, o número de aparelhos de televisão por mil habitantes rondava os 150”, ao passo que “no final da década de 80, cerca de 90% dos lares já tinham televisão”.

Paralelamente, com os gravadores de vídeo surgiu o hábito de registar momentos de televisão para a posteridade. Muito antes da RTP Memória e do YouTube, cada espectador já tinha uma maneira de rever vezes sem conta os episódios dos seus programas favoritos. Esta possibilidade de gravação veio a permitir que hoje haja tanto material disponível na internet, mesmo de “cromos difíceis”, como A Árvore dos Patafúrdios ou A Princesa Insensível.

“Foi principalmente a tecnologia a um preço acessível que permitiu que essa década pudesse ficar registada”, acredita Paulo Ferreira, criador de um dos melhores acervos de recordações da década de 80, o site Mistério Juvenil. Criado em 2000, centrava-se inicialmente na literatura juvenil de aventura e mistério, sobretudo de Enid Blyton, mas o site acabou por destacar-se pela coleção de vídeos e sons de publicidade, música, cinema e televisão. No seu canal de YouTube, podemos encontrar anúncios memoráveis, como o do Restaurador Olex (“Um preto de cabeleira loira ou um branco de carapinha não é natural”) e o das Fantasias de Natal (“o coelhinho foi com o Pai Natal e o palhaço no comboio ao circo”). “É como uma enciclopédia da infância através das imagens e do som”, orgulha-se Paulo Ferreira, que acalenta o sonho de criar no futuro um museu (virtual ou não) da infância.

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Ser criança no Portugal dos anos 80

Os filhos do 25 de abril foram a primeira geração a crescer num ambiente de descompressão, com liberdade de expressão, sem o espectro de ter de ir à guerra colonial, e já sem a tensão política e social dos primeiros anos após a Revolução. Apesar da crise financeira do Estado, que obrigou às intervenções do FMI em 1977 e 1983, a classe média procurava reproduzir os padrões de consumo das sociedades europeias mais avançadas: surgiram os centros comerciais e hipermercados, generalizou-se o acesso a equipamentos domésticos, como os televisores e os micro-ondas, e democratizaram-se as opções de lazer e cultura.

Por outro lado, esta foi talvez a última geração de crianças com liberdade de movimentos, habituadas a ir sozinhas para a escola desde cedo. Pelo contrário, os pais de hoje, crianças de então, já não abdicam de levar de carro os filhos à escola e às mil e uma atividades, enquanto recordam com saudade os tempos em que passavam as tardes a brincar na rua com os vizinhos, sem controlo parental, correndo grandes perigos, como o Dartacão (leia-se: tocar às campainhas e fugir).

Em casa, o ecrã da televisão servia para dois propósitos: para ver os desenhos animados, servidos em doses moderadas nas tardes de semana e nas manhãs de fim-de-semana, e as novelas e concursos ao serão, em família; ou para jogar nas vetustas consolas Atari ou ZX Spectrum (load aspas aspas enter play, lembram-se?). Jogos que eram muitas vezes um pretexto para ir a casa de amigos, ou não fosse esta geração mais gregária do que as seguintes.

Na música, surgiu um nicho de mercado infantil, protagonizado por Ana Faria e os Queijinhos Frescos, os Ministars e os Ondachoc. Mas mesmo os mais novos ouviam também o pop-rock português que cresceu em força nos anos 80, com a ascensão de nomes como Rui Veloso, Xutos & Pontapés, Heróis do Mar, Táxi e UHF, e o auge das carreiras de artistas como Lena d’Água ou os Trovante (aliás, o Trovante, como preferem ser chamados).

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Porque gostamos tanto dos anos 80?

Será um mero revivalismo de quem os viveu nos verdes anos, ou haverá algo de realmente especial que justifique o gozo de revisitar os cromos dos anos 80? Fomos investigar o tema.

Porque é que a geração dos nascidos entre 1970 e 1980 — mais ano, menos ano — tem uma relação tão emocional com as memórias dos anos 80? O que nos leva a consumir produtos como a Caderneta de Cromos, de Nuno Markl, e a ir aos concertos que voltam a reunir bandas dessa época? O que nos faz partilhar pela enésima vez o texto “Se nasceste antes de 1986”, que circula há vários anos pelas redes sociais, enaltecendo a liberdade das nossas infâncias, contra os excessos de tecnologia e de regulação securitária dos dias atuais?

De acordo com os reguladores e burocratas, todos nós que nascemos nos anos 60, 70 e princípios de 80, não devíamos ter sobrevivido até hoje. (…) Quando éramos pequenos viajávamos em carros sem cintos e airbags, viajar à frente era um bónus e uma guerra, para os que têm irmãos e irmãs. (…) Comíamos batatas fritas, pão com manteiga e bebíamos groselha com açúcar, sumos e Coca-Cola, mas nunca engordávamos porque estávamos sempre a brincar lá fora. (…) Estávamos incontactáveis e ninguém se importava com isso.

Havia desenhos animados (Abelha Maia, Sindbad, Conan, He-Man, Dartacão, Willie Fog, Bocas, Tom Sawyer, Huckleberry Finn, etc.), séries e programas giros (Duarte & Companhia, Buck Rogers, Galáctica, Espaço 1999, O Justiceiro, Soldados da Fortuna, Alf, Rua Sésamo, etc.), mas não dependíamos da TV. (…) Íamos a pé para casa dos amigos. Acreditem ou não íamos a pé para a escola. Não esperávamos que a mamã ou o papá nos levassem.

Podemos responder simplesmente que toda a gente gosta de lembrar a sua infância e de dizer que no seu tempo é que era bom. Ou podemos justificar que essa geração, agora nos trintas-quarentas, é quem hoje dita o entretenimento que é servido nos talk-shows televisivos e no horário nobre das rádios. Mas estaríamos assim a ignorar algumas características específicas que tornam a década de 80 icónica.

O que explica que os clássicos das Doce continuem a incendiar algumas pistas de dança e que José Cid mantenha uma popularidade invejável nas festas académicas? Que bandas novas como os Ciclo Preparatório e Os Capitães da Areia, cujos membros nasceram já na década de 90, assumam a estética e sonoridade da pop portuguesa dos anos 80 e tenham a Lena d’Água, diva nacional dos anos 80, como talismã? Ou que uma rádio que passa música entre 1970 e 2000 se chame simplesmente M80? Afinal, o que têm de tão especial os anos 80?

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