O mestre do suspense é um nome incontornável na história do cinema. Nos EUA sempre o viram como mais um excêntrico inglês, mas foi na Europa que o seu valor como um dos mais notáveis cineastas de todos os tempos, foi consagrado. Alfred Hitchcock fez-nos ver o que era de facto o medo!
Estava o século XIX a dar os últimos suspiros quando pela primeira vez respirou aquele que viria a ser o maior génio do cinema britânico. Alfred Hitchcock nasceu em Leytonstone, um bairro na cidade de Londres.
Teve uma educação segundos os principios vitorianos da época e sempre esteve destinado a seguir uma profissão popular, como o seu pai que era merceeiro.
No entanto, nos anos 20 Alfred descobriu o cinema e nunca mais o largou.
Nesse ano foi contratado como desenhador de titulos, uma profissão que desempenhou durante dois anos. Em 1923 o realizador do estúdio ficou gravemente doente e o director mandou Hitchcock acabar as filmagens. O filme era Always Tell Your Wife e o seu desempenho como realizador impressionou de tal forma os responsáveis que a partir desse momento Alfred Hitchcock se tornou oficialmente realizador do estúdio. Só que no mês seguinte o estúdio abriu falência e o jovem de 24 anos teve de ir trabalhar como assistente de direcção para Michael Balcon.
Foi preciso esperar até 1925 para que na Gainsborough Pictures lhe dessem finalmente a oportunidade de realizar um filme. The Pleasure Garden foi o título que o acabaria por lançar para a ribalta do cinema britânico.
Em 1927 chega o seu primeiro grande sucesso, The Lodger. O filme seria também o primeiro de uma série infindável em que o próprio realizador fazia um pequeno "cameo" no início. Tornar-se-ia uma das suas imagens de marca.
Outra seria revelada a François Truffaut numa entrevista concedida nos anos 60. O realizador chamou-lhes "MacGuffins", ou seja o engodo para a narrativa. Todos os filmes do realizador se passaram a distinguir dos demais filmes de suspense exactamente devido aos MacGuffins.
Com Blackmail em 1929, The Man Who Knew To Much em 1934, The 39 Steps em 1935 e Sabotage em 1936, Hitchcock tornou-se no mais reputado realizador inglês. Não surpreendeu ninguém que em 1940 tentasse uma aventura em Hollywood. A principio todos os estudios o rejeitaram dizendo que seria incapaz de fazer um filme à maneira de Hollywood. Até que David Selznick lhe ofereceu um contrato para realizar Titanic. O filme não se fez e em vez disso Hitchcock realizou Rebeca. O seu primeiro filme americano seria coroado de sucesso e seria mesmo o vencedor do óscar de Melhor Filme. O que era para ser uma aventura, acabou por se tornar um mito.
Apesar de Rebeca ter sido o grande vencedor da noite dos óscares, o realizador nunca ganhou nenhum. Algo imperdoável para muitos, incluindo para o próprio que, quando em 1980 recebeu um óscar honorário, sarcasticamente agradeceu com um simples "thank you".
Mas a verdade foi que é a partir de Rebeca que o mito do mestre do suspense inicia.
Em 1941, Suspicion é de novo um sucesso o mesmo se passando com o notável Shadow of a Doubt no ano seguinte. Em 1945 Spellbound voltou a ser um exito imenso tal como Notorious em 1946. Mesmo os seus filmes menos célebres se tornavam clássicos, como o próprio chegou a dizer.
Em 1948 com o filme Rope, inicia uma relação de grande cumplicidade com James Stewart que se vai estender durante a década de 50 em mais três filmes: o remake de The Man Who Knew To Much (1956) , Rear Window (1954) e a sua obra-prima, Vertigo (1958).
Também Cary Grant cedo se tornou um dos seus actores fetiches. Depois de entrar em Suspicion e Notorious, foi a estrela de To Catch a Thief (1955) e North By Northwest (1959) .
Mas quem conhece Hitchock sabe que nos seus filmes o papel principal cabe às mulheres. Mulheres sempre misteriosas com algo a esconder mas profundamente sensuais. Normalmente loiras, foram várias as que fizeram parte da vida e filmografia do realizador. Desde Madaleine Carrol a Tipi Hedren, passando pelas inevitáveis Ingrid Bergman, Grace Kelly, Kim Novak ou Janet Leigh. As mulheres eram a sua perdição e a dos seus personagens principais, mas eram também um objecto com que o realizador jogava habilmente. Como chegou a dizer, para ele o interessante nas mulheres era que se podiam "comportar como senhoras, mas depois serem umas verdadeiras putas quando a porta se fechava". O próprio Hitchcock chegou a dizer que actrizes como Marilyn Monroe ou Brigitt Bardot não lhe interessavam porque tinham o "sexo na cara".
Ao entrar na década de 60, chegaram as suas últimas grandes obras. Em 1960 o mitico Psico, em 1963 The Birds, Marnie em 1964 e Torn Curtain em 1966.
No entanto, depois destes poucos foram os projectos que o realizador acabou por levar até ao fim. A doença começava-o a atingir gravemente e, cada vez mais debilitado, o realizador acabou por sucumbir finalmente em 1980.
Mesmo na hora da morte o seu humor caústico esteve presente na inscrição que queria colocar na lápide "É isto que acontece a meninos que se portam mal"!.
A perda de Alfred Hitchcock foi uma das maiores perdas que o cinema já teve de suportar. Nunca nenhum realizador conseguiu fazer o público sofrer tanto, e de uma forma quase masoquista, porque é raro encontramos um filme dele que não tenha sido coroado de sucesso, quer económico quer cinematográfico.
O mestre do suspense deixou-nos, mas o seu fantasma ecoará para sempre nas salas de cinema, onde soube ser criar uma atmosfera única!
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