São já quarenta anos de carreira ao mais alto nivel na Meca do Cinema. Depois de uma estreia que acabou por se tornar quase mitica até aos papeis mais leves dos dias de hoje, esta foi uma carreira marcada a letras de ouro com performances abençoadas pelos deuses. E é por isso que ele é hoje, sem duvida alguma, considerado um dos melhores actores de sempre...
Quem tem a sorte de se estrear em Hollywood com um filme tão forte como The Graduate e ser a estrela de tantos outros sucessos durante mais de tritna anos, só pode ser abençoado.
Pelos deuses mais pelo talento também. E talento é algo que não falta a este "monstro sagrado" que é Dustin Hoffman.
Nasceu a 8 de Agosto de 1937 em plena Cidade dos Anjos - L.A - numa altura em que essa já era a capital mundial do cinema. Talvez por isso se perceba que, desde sempre, Hoffman esteve em casa.
Depois de uma infancia marcada pela rebeldia dos californianos do pós-guerra, Hoffman mostrou não ter grande talento na escola. Até a um dia em que se inscreveu numa cadeira de representação porque um amigo lhe dinha tido que naquela disciplina ninguém reprovava.
E Hoffman não só não reprovou como encontrou ali a rampa de lançamento para uma carreira notável. No final decidiu-se pela arte de representar apenas pelo motivo de que não queria ir trabalhar como todos os outros. E ele não era como todos os outros, de facto.
Depois de anos a aprender numa escola de representação em Pasadena conheceu Gene Hackman. O actor que mais tarde viria a ser galardoado com dois óscares desistiu do curso e procurou a sorte em Nova Iorque. Meses depois Dustin Hoffman foi à sua procura e acabou por morar no chão da sua cozinha.
Eventualmente ambos acabariam por conhecer um terceiro actor, Robert Duvall, com quem partilhariam algumas agruras. E assim estava formada a coluna vertebral da representação norte-americana da década de 70 (faltará apenas Al Pacino, Jack Nicholson e de Niro).
Aos 29 anos conseguiu finalmente um papel diante das camaras. Foi numa produção televisiva, The Journey of the Fifth Horse.
No ano seguinte surgiria a estreia no cinema. Mel Brooks, vizinho de Hoffman, tinha-lhe dado o papel de destaque na peça The Producers que iria estrear esse ano na Broadway. Só que Anne Bancroft, mulher de Brooks, sugeriu Hoffman para The Graduate, o seu próximo filme. Na altura de escolhar entre Hollywood e a Broadway, Dustin Hoffman não teve duvidas. O filme foi um sucesso e a sua estreia foi apelidade da masi entusiasmante de sempre. Eventualmente chegaria a sua primeira nomeação ao óscar, logo no primeiro filme.
Dois anos depois mais um grande desempenho num filme de sucesso.
Ao lado de Jon Voight, o jovem Dustin Hoffman encarnou um tuberculoso cowboy em Midnight Cowboy, filme que acabaria galardoado com vários óscares. As cenas finais do filme, com Hoffman a morrer lentamente, tornaram-se marcantes e marcaram de imediato a sua carreira. A partir desse momento ele deixava de ser uma jovem promessa. O filme dar-lhe-ia, lado a lado com o colega Voight, a nomeação ao óscar de Melhor Actor, a segunda em três anos, algo notável para quem tinha feito apenas cinco filmes.
No entanto, e tirando Litle Big Men em que Hoffman vive Crazy Horse, o mitico indio, dos 17 aos 112 anos, foi preciso esperar mais quatro anos para ver o actor em grande forma. Em 1973 surgiu ao lado de Steve McQueen em Papillon.
No entanto a sua performance devastadora como o comediante maldito Lenny Bruce chegou em 1974 e conquistou tudo e todos, menos o óscar para o qual foi nomeado pela terceira vez em Lenny. Entretanto já lhe tinham recusado o lugar de Michael Corleone na saga The Godfather e preparavam-se para lhe dizer que não no filme One Flew Over the Cuckoo´s Nest, que viria a consagrar Jack Nicholson.
No entanto em 1976 deu-se o seu regresso em estilo em All the President´s Men onde viveu o jornalista Carl Bernstein, ao lado de Robert Redford no filme de Allan J. Pakula. Apesar das nomeações que o filme conseguiu, Hoffman falhou a sua quarta nomeação.
Mas muitos já afirmavam que estava na hora do actor ser consagrado, naquele que era uma década espectacular para Hoffman. Em 10 anos tinha interpretado já inumeros miticos papeis e conquistado quase uma mão cheia de nomeações.
Depois de Marathon Men, onde brilhou ao lado de Laurence Olivier, chegaria, três anos mais tarde, em 1979, o seu óscar. O filme, que venceria varias estatuetas, seria Kramer vs Kramer, e ao lado de Meryl Streep, que começava aqui uma carreira de glória, Hoffman esteve igual a si mesmo, ou seja genial. Na noite de glória, ele que tinha dito que não lhe interessavam os prémios depois de ter sido derrotado pela terceira vez em 1974, estava eufórico. A vitória era justa.
Os anos 80 por sua vez mostraram ser uma década atipica. Apesar dos seus dois melhores desempenhos de sempre terem aberto e fechado a década, a verdade é que Dustin Hoffman esteve afastado do cinema fazendo apenas cinco filmes em dez anos.
O primeiro seria Tootsie, provavelmente uma das comedias mais hilariantes da história do cinema norte-americano. Hoffman foi ele e ela neste notável filme e voltou a ser nomeado ao óscar, pela sexta vez. Perdeu, injustamente, para Ben Kingsley mas mostrou que após três anos de inactividade, estava de volta em estilo.
Só em 1988 é que Hoffman voltou ao seu melhor, depois de dois titulos menores a meio da década. Em Rain Man ele é absolutamente notável como o autista Charlie Babbit. A sua performance esmagadora valeu-lhe o seu segundo e último óscar de melhor actor. E para fechar os anos 80, Dick Tracy, filme onde mostrou o seu ar de vilão sedutor diante do charme de Warren Beatty.
O inicio dos anos 90 mostrou um Hoffman activo e em papeis interessantes. Exceptuando a sua performance no desastro Hook, em 1991, foi refrescante vê-lo em Billy Bathgate e Hero, que provaram ser dois dos seus melhores papeis de sempre.
Seguir-se-iam mais alguns anos de inactividade até 1997, altura em que, ao lado de Robert de Niro, viveu a personagem Stanley Motts no notável Wag the Dog. Contra todas as previsões, Hoffman conseguiu a sua sétima nomeação ao óscar de Melhor Actor, um feito notável. Apesar da derrota para o eterno rival Jack Nicholson (eles são, provavelmente, os dois melhores actores da geração de 69) esta foi a prova de que, aos sessenta anos, Hoffman ainda estava bem vivo.
Desde aí para cá as suas personagens têm-se tornado cada vez mais leves.
Se exceptuar-mos a sua notável aparição na Jean D´Arc de Luc Besson, o humor tem sido a nota dominante nos seus últimos anos de carreira. A prova está bem à vista este ano, tanto em I Hearth Huckbees como em Meet the Fockers.
O seu desempenho em Finding Neverland já foi igualmente louvado havendo a clara hipótese de em 2004 Hoffman ter a sua primeira nomeação como melhor Actor Secundário.
Dustin Hoffman é sem duvida um daqueles actores que, independentemente do filme em que entra, arrasta centenas de espectadores às salas de cinema. O seu estilo muito particular de encarar a camara dá-lhe uma força extra que poucos actores conseguem ter. E a sua diversidade de personagens que podem ir do moribundo Ratso Rizzo em Midnight Cowboy à hilariante Dorothy Michaels em Tootsie são a prova viva de que aqui mora uma das estrelas mais cintilantes da história do cinema.