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quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Artur Garcia

Artur Garcia da Silva nasceu em Lisboa, no Bairro de Alcântara, a 15 de Abril de 1937. Começou a cantar aos 14 anos, como amador, e cedo passou ao profissionalismo, com muito boa aceitação por parte do público. No entanto, durante o dia mantinha-se como empregado dos armazéns Eduardo Martins, onde tinha uma série de colegas muito interessados pela rádio. Alguns deles conduziram Artur ao Centro de Preparação de Artistas da Rádio, que funcionava na Casa das Beiras, junto ao Largo de S. Domingos. 

Após prestar provas, Artur Garcia passou a ser considerado um dos cantores principais de uma nova geração que também incluía Maria de Fátima Bravo, Madalena Iglésias e Simone de Oliveira. Artur Garcia passou, aliás, a ser conhecido como «O Rouxinol», em parte devido às suas aptidões vocais, e em parte porque a sua estreia ocorreu com a interpretação do tema «Rouxinol dos Meus Amores», de Luís Mariano. 

Após cumprido o serviço militar, veio finalmente a consagração profissional, e surgiu na televisão a interpretar teatro e opereta. Apresentou-se em programas de variedades e fez revista nos teatros Maria Vitória e ABC, nomeadamente nas revistas "Sete Colinas", "Todos ao Mesmo" e "Frangas na Grelha". 

Em 1964 esteve presente no I Grande Prémio TV (que antecedeu o Festival RTP da Canção) com duas canções que ali foi interpretar. No ano seguinte alcançou o segundo lugar com o tema «Amor». Em 1966, numa votação paralela organizada pela imprensa, o público elegeu a sua canção «Porta Secreta». 

Venceu o primeiro prémio do Festival da Figueira da Foz, em 1968, e o primeiro prémio do Festival de Aranda de Duero, em 1967. No mesmo ano foi eleito "Rei da Rádio", após ter ficado em segundo lugar duas vezes consecutivas, e recebeu o Prémio da Imprensa em Moçambique. Por votação pública, em 1968 voltou a ser eleito "Rei da Rádio", e em 1969 "Príncipe do Espectáculo". 

Nos anos 60 fez diversas digressões na Guiné, Angola e Moçambique para as Forças Armadas Portuguesas. Atuou também em Espanha, França, Itália, Inglaterra, Canadá, Estados Unidos, Bermudas, Brasil e Índia. Em diversas ocasiões, cantou ao lado de Júlio Iglésias, Carmen Sevilla, Rafael ou Sylvie Vartan. «Como o Tempo Passa», «A Menina Triste», «Bom Dia», «Sonhando Contigo», «Olhos de Veludo», «O Homem do Leme» e «A Cidade ao Sol» são algumas das principais canções de Artur Garcia, provavelmente o mais premiado dos cantores portugueses da sua geração. 

sábado, 15 de novembro de 2025

Arte & Oficio

1976 -  O cantor António Garcez e o baixista e vocalista Sérgio Castro decidem fundar os Arte & Oficio. Dois músicos experientes: Garcez brilhara no primeiro Vilar de Mouros, em 1971, à frente do Psico, cuja formação Sérgio Castro integra a partir de 1974. 

Do Psico vêm ainda Juca, teclas, que abandonará o grupo antes do fim do ano, e Serginho, por oposição ao Serjão, Sérgio Castro, nas guitarras. Ao longo da primeira metade dos anos 70, este grupo, liderado por Toni Moura, aventura-se nos caminhos do heavy e do rock progressivo, em moda. Tecnicamente competentes, afirmam-se na cena nortenha, na idade artesanal em que as bandas funcionavam à margem, da imprensa e, quase sempre, das editoras. 

Alvaro Azevedo, ex-Pop Five - grupo que, ao contrário do Psico, gravou com êxito comercial - integra a primeira formação do Arte & Oficio e acompanhará Sérgio Castro por muitos anos, não só no Arte & Oficio como nos Trabalhadores do Comércio. Durante algum tempo, contarão com um violinista clássico que integra o grupo. Em duas palavras, trata-se de uma formação de veteranos formados na escola dura e com passagem por numerosos projetos que, passados à história os anos aventureiros do PREC, surgem no tempo certo com um projeto efectivamente profissional. 

Ao longo do ano assinalam êxitos em palco, desde o Festival de São João da Madeira até um concerto na Praça Humberto Delgado, no Porto, onde tocam para 12 mil espectadores. A estreia no Sul, ocorre no fim do ano, no festival de Moscavide. 

1977 - Já com outro veterano, Fernando Nascimento, nas guitarras, o grupo grava os primeiros singles: «Festival/Let Yourself Be» (Julho) e «The Little Story of Little Quibble» (Outubro), na Orfeu. Mas o ponto mais alto do ano é a primeira parte do concerto dos Can, perante um Pavilhão dos Desportos a rebentar pelas costuras. Garcez e companhia surpreendem pela energia e solidez, raramente ouvidas numa banda portuguesa. O público (e também a imprensa generalista) de Lisboa descobre-os efectivamente e rende-se à enorme capacidade de «bicho de palco» de Garcez. A bíblia rock nacional da época, a Música e Som, titula, pela pena de Jaime Fernandes: «Arte & Oficio, o êxito dos Can». Até a revista Família Cristã elogia «o som bem estruturado e sem os clichés que todos nós conhecemos em grupos portugueses». O rock directo do grupo estava de facto milhas à frente das tentativas menos conseguidas para apanhar, entre outros, o comboio do sinfónico. 

Conseguem uma credibilidade que nenhuma banda rock até aí conhecera, ao demarcar-se das vãs tentativas de tocar «à Yes» ou «à Pink Floyd». «Marijuana» é outra das canções de proa da banda. 

1978 - Novo êxito de palco, o elemento favorito deste grupo, nos festivais organizados pela Música e Som em Lisboa e no Porto. Este é o ano da edição de um novo single, para a editora de Arnaldo Trindade, «Come Hear the Band» em cujo lado B, no instrumental «Carcarejo da Galinha», o quinteto regressa às suas origens mais experimentais. O saxofonista Rui Cardoso, ex-Araripa, toca com o grupo nesse tema. Já consagrados como «o melhor grupo de rock português» continuam a investir nos concertos e adquirem um equipamento de palco que os distancia ainda mais da concorrência. Em Agosto, abre o Clube de Fãs Arte & Oficio. No fim do ano, tocam para três mil pessoas num festival na Madeira. 

1979 - É o ano do esperado álbum de estreia, "Faces", que sai em Maio na Orfeu. «Follow Me Over via Dover», «Young Chiks», «Contraditction», «Lobster Society», «All We Have to Do», «Turn the Lights», «Sea of Monsters», «Trip», «Endless Way» e «Finally» são os temas do disco, que surge na continuidade lógica do sucesso acumulado ao longo dos três anos anteriores, que a entrada do pianista António Pinho, mais tarde António Pinho Vargas, oriundo do jazz, parece vir reforçar. O êxito, porém, está prestes a ser torpedeado por factores externos e internos à banda portuense. Se a saída de Serginho, membro fundador e segundo guitarrista, não é um grande abalo, o mesmo não se dirá da saída de António Garcez, cujas potencialidades vocais e de showman eram um dos trunfos essenciais do grupo. 

Mas, ao fim de três anos de Arte & Oficio, o vocalista decide ir formar os Roxigénio com o guitarrista Filipe Mendes, uma lenda viva do rock português, que gravara o único disco dos Psico, já após a saída de Garcez e Sérgio Castro. Músico lendário, Filipe Mendes estava quase acabado, por diversas razões, quando surge ao lado de Garcez no Roxigénio, grupo cuja carreira não atingirá o impacte que todos pareciam adivinhar. O avanço do rock cantado em português, cuja guarda avançada, UHF, Rui Veloso e Heróis do Mar, tornaram subitamente vetustas as bandas que cantavam em inglês. O paradigma inverte-se do dia para a noite, mal cai o tabu de que o rock não podia ser cantado no idioma de Camões. Sérgio Castro, líder absoluto, após a saída de Garcez, continua fiel a esta ideia, mesmo se, no ano seguinte, decide fundar os Trabalhadores do Comércio onde, mais do que o português, explora o sotaque nortenho para produzir uma música positivamente hilariante. 

O grupo de «Lima 5» é o primeiro em Portugal que se assume em absoluto como uma fun band. Sem Garcez, o Arte & Oficio continua a funcionar como quarteto. "Marijuana" é editado no Outono e levará o nome do grupo portuense a um festival a favor da liberalização das drogas leves em Londres. No mesmo Outono, uma nova primeira parte, desta vez para os Stranglers, em Cascais, corre de forma diametralmente oposta à da noite do Verão de 77 em que o grupo tinha feito a abertura dos Can. 

Sem Garcez, a sala não reage do mesmo modo. O desastre acontece quando Serjão tenta um gimmick: muda de calças em palco e, perante a reação do público, prolonga o número até à exaustão, sem se aperceber que, atrás dele, António Pinho e Álvaro Azevedo decidem pura e simplesmente sair do palco! Sempre de costas para a banda, dá o tempo por duas vezes, obtendo como única resposta o silêncio. Quando se volta para trás, descobre que só lá está o guitarrista Fernando Nascimento... A força, porém, continua: a digressão nacional levará o grupo a 17 localidades do País. 

1980 - O grupo volta a ter cinco elementos, com a entrada de André Sarbib, que tinha tocado, anos antes, no Quinteto Académico. Surgem as primeiras atuações fora de portas. Abrem para Joe Jackson em vários países do Sul da Europa e apresentam «Marijuana» no festival LCC, a favor da legalização da cannabis, realizado em Londres e onde Bob Marley faz um dos seus últimos concertos, antes de morrer em 11 de Maio de 1981. Já na PolyGram editam o segundo álbum, Danzas. Mas os ventos já não sopram de feição para estes músicos do Norte, 1980 é o ano de Cavalos de Corrida, de Ar de Rock e da afirmação do rock cantado em português. 

Sérgio Castro e Alvaro Azevedo desdobram-se, com o «miúdo», João Luís, nos Trabalhadores do Comércio. Mas esse trabalho não demove Sérgio Castro das suas ideias. «É um profundo equívoco cantar rock em português», diz, numa entrevista a Manuel Dias, do Sele, em que justifica a opção seguida nos Trabalhadores do Comércio, pelo facto de este não ser um grupo de rock. O equívoco, porém, era de Sérgio Castro. O fim dos Arte & Oficio, bem como dos Tantra, marca o fim de uma era: a dos grupos tecnicistas e fiéis ao inglês, submergidos pela primeira vaga das bandas que adotaram o português e as correntes mais simples, do ponto de vista musical, surgidas desde 1976 na Europa. 

O rock português emancipava-se e sacrificava aqueles que, como os Arte & Oficio, haviam de facto aberto os caminhos da popularidade e da credibilidade aos grupos portugueses. 


quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Armando Gama

Autor, compositor e intérprete, Armando António Capelo Dinis da Gama, artisticamente conhecido como Armando Gama, nasceu a 1 de Abril de 1954, em Luanda. Aos cinco anos tocava harmónica para a família, aos sete estudou acordeão e aos 14 aprendeu viola e fez a sua primeira composição. Em 1970, Armando Gama formou o seu primeiro conjunto, enquanto estudava piano e solfejo na Academia de Música, de Luanda. No ano seguinte, integrado no duo Marinho e Gama, gravou o primeiro disco com duas músicas de sua autoria. Em 1974, Armando Gama abandonou Angola e em Lisboa contacta imediatamente músicos de todos os géneros e também editoras discográficas. 

Os seus esforços têm resultados e em 1976, o artista formou os Tantra, com Manuel Cardoso, que gravaram um single e um LP para a Valentim de Carvalho. Dois anos depois, em 1978, formou o Duo Sarabanda, com Chris Kopke, participando no Festival da RTP de 1980 com a canção «Made in Portugal». Na década de 80, Armando Gama manteve grande atividade como arranjador e produtor, trabalhando com nomes como Dina, Mário Mata, Dino Meira, Doce, Herman José, Trio Odemira e Nicolau Breyner, cantou para as séries de televisão «Bana e Flapi» e «Sport Billy», formou os Canone, com quem gravou «Miúda Funky» e editou o primeiro álbum a solo, "Quase Tudo", em 1982, para a Rádio Triunfo. Deste álbum saiu a canção «Esta Balada Que Te Dou» que venceu em 1983 o XX Festival RTP da Canção que se realizou no Porto. A canção, segundo o seu autor, foi editada em 17 países da Europa, foi classificada no top da Bélgica e vendeu mais de 80 mil cópias em Portugal. Antes, em 1981, editara o álbum "Export" (com os Sarabanda), com as colaborações, entre outros, de Zé Nabo, Ramón Gallarza, Mike Sergeant, Rui Veloso, Diria, Paulo de Carvalho, Guilherme Inês e Rui Cardoso. 

O álbum inclui «Baby, Eu Já Não Danço o Rock 'N' Roll Contigo», «A Cidade nos Teus Olhos», «Singing My Song», «Get Away», «Sonho Parado», «E É», «You Make Me Feel (So Right)», «Pocket Full», «See Her Dancing» e «Coisas Simples». Tozé Brito produziu "Coisas Simples". «You Make Me Feel» foi concebido e cantado a pensar em John Lennon, assassinado um ano antes. «Toda a nossa geração lhe deve qualquer coisa. Nós, a Lena, a Tucha, a Dina e o Mike devíamos-lhe o amor com que aqui lhe cantámos», escreve-se no disco. Com sua mulher Valentina, ex-locutora da RTP, forma um duo, percorrendo o circuito da chamada «música pimba». 

DISCOGRAFIA: 

1976 - Tantra (LP, Valentim de Carvalho)

1978 - Duo Sarabanda (LP, Valentirn de Carvalho)

1981 - Export (LP, PolyGram); Canone (LP, Valentim de Carvalho)

1982 - Quase Tudo (LP, Rádio Triunfo)

1993 - Portugal Amor e Mar (com Valentina) (CD, Discossete)

domingo, 5 de outubro de 2025

António Sala

 


1949 - António Manuel Sala Mira Gomes, nasce em Vilar de Andorinha, Vila Nova de Gaia, a 14 de Janeiro. Vem para Lisboa ainda miúdo e instala-se com a mãe numa casa antiga. É no piano existente a um canto da casa que António aprende a tocar as melodias que ouve na rádio. 

1960 - Compõe a sua primeira canção, «Sereia», que nunca chegou a gravar. 

1965 - Compõe «Recordação de Amor» que consegue convencer Shegundo Galarza a ouvir. Pouco depois, o famoso orquestrador grava a canção com a cantora madeirense Cecília Cardoso. 

1966 - Forma os Fachos, conjunto pop «yé-yé» cujo repertório inclui essencialmente versões de sucessos dos Shadows e dois ou três temas originais. Forma os Argonautas, conjunto mais virado para o rock'n'roll de Bill Haley e Elvis Presley. Entretanto, começa a trabalhar na Rádio Graça, dos Emissores Associados de Lisboa, como técnico de som. No final da década de 60, profissionaliza-se como realizador e locutor a tempo inteiro apresentando, diariamente, entre as 6 e as 8 horas da manhã o programa «Olá como Estão». 

1969 - Participa em coros de Igreja, onde canta temas gospel e forma, com mais oito dos elementos do coro de 60 pessoas que integra, o grupo Maranata. Reduzida a seis elementos, a formação definitiva dos Maranata inclui Miguel Baião, Miriam Selembier, Salete, Enoque, António Sala e Elizabete com quem António casará dois anos depois. Ainda em 1969, os Maranata gravam para a Musicord o seu primeiro disco - uma versão do espiritual negro He's Ever'thing to Me. 

1971 - "Vem e Canta" é o titulo do primeiro álbum dos Maranata. 

1975 - Começa a apresentar na Rádiodifusão Portuguesa, RDP, o «Programa da Manhã». Depois de ter actuado várias vezes na televisão como cantor, António Sala estreia-se como apresentador de televisão no programa «Música Maestro» do 2.° canal. Este programa assinala o início de uma carreira na RTP que incluirá a apresentação de programas como «Ou Vai ou Taxa», «Foguete», «Você Decide», «Palavra Puxa Palavra», «Quem é o Quê» e «1, 2, 3». Em simultâneo com a sua participação nos Maranata, António Sala inicia uma carreira musical a solo com a edição do single «Recado de Telex». 

1977 - Os Maranata lançam o álbum "Cores da Música". 

1978 - António Sala estreia-se na Rádio Renascença diariamente entre as 10 e as 12 horas com o programa «Nem mais nem menos». 

1979 - Assina com Vasco de Lima Couto um dos maiores sucessos de música portuguesa deste ano «Zé Brasileiro Português de Braga» interpretado por Alexandra. Como compositor, António Sala continua a escrever, nos anos que se seguem, muitas vezes sob o pseudónimo de Manuel Bernardo, alguns dos maiores sucessos de cantores como Alexandra, Rodrigo, Clemente, Ana, Sérgio e Madi, Simone, Cidália Moreira, José Malhoa e Nuno Henrique. Afastando-se um pouco das adaptações de clássicos, Bach e Mozart, com secções rítmicas, os Maranata começam este ano a gravar músicas originais de António Sala e Miguel Baião quase sempre para poemas de Vasco de Lima Couto. "A Velha Estrada" é o primeiro original dos Maranata a conseguir um Disco de Prata, galardão que voltarão a receber pelas vendas do single «Aleluia» - a versão portuguesa do tema israelita que vencera nesse ano o Festival da Canção. Ainda em 1979, António Sala começa a apresentar e realizar todas as manhãs, entre as 7 e as 10 horas, na Rádio Renascença, o programa «Despertar» que se tornará no programa mais popular da rádio portuguesa. 

1980 - E editado "Maranata", o último álbum deste grupo vocal. Neste mesmo ano, António Sala ganha, com Alexandra, no Festival RTP da Canção, o Prémio de Melhor Intérprete, ex-aequo com José Cid. 

1982 - O single «Caminhos», dos Maranata, um tema composto com base na 4•a Sinfonia de Mozart, atinge a marca de Disco de Ouro. Ainda em 1982, ao fim de uma carreira de 10 anos, recheada com 34 singles, três álbuns e centenas de espectáculos em Portugal e no estrangeiro, os Maranata separam-se. António Sala continuará a gravar a solo e actuar ao vivo por todo o mundo. 

1983 - Uma sondagem publicada pelo semanário "Expresso" elege António Sala como a figura mais popular do País, estatuto habitualmente atribuído a Mário Soares. Neste mesmo ano, Sala estreia-se como autor de programas de televisão, ao lado de Carlos Paião e Luís Arriaga, em «O Foguete». 

1984 - Lança o seu primeiro livro de anedotas "Dicionário de Anedotas" que se torna um verdadeiro best-seller e edita o álbum "Segredos", produzido pelo maestro José Calvário, disco que interpretará ao vivo num espectáculo realizado em Lisboa, no Teatro São Luís. 

1986 - Lança o seu segundo livro de anedotas, "Anedotas de Sala". A convite de José Nuno Martins, realiza no Loucuras, em Lisboa, com a Orquestra da Felicidade do Brilho e da Glória, um espectáculo ao vivo em que o repertório é exclusivamente constituído por boleros. Comemora 20 anos de carreira com espectáculos nos Coliseus do Porto e de Lisboa em que conta novamente com a colaboração da Orquestra da Felicidade do Brilho e da Glória, mas em que não se limita a cantar boleros. O espetáculo de Lisboa tem como convidada principal Amália Rodrigues. 

1987 - Lança o álbum "Bons Velhos Tempos", parcialmente constituído por boleros e em que participa também a Orquestra da Felicidade do Brilho e da Glória. 

1988 - No "Festival Internacional dos Pequenos Cantores" ganha o prémio de melhor poema atribuído a «Zacatraz». 

1989 - Lança o álbum "Microfone e Voz" para o qual tinha começado a trabalhar, no ano anterior, com Carlos Paião, antes do falecimento do músico em Agosto de 1988. Após uma pausa de vários meses, em 1989 António Sala recomeça a trabalhar em "Microfone e Voz" com Luís Filipe que passaria a produzir todos os seus discos. 

1992 - Passa a exercer na Rádio Renascença o cargo de director de programas do Canal 1. Edita o single «Timor História de Um Povo», depois de ter ficado impressionado com o poema desta composição de Dinis da Fonseca. 

1993 - Lança o álbum "Histórias" que inclui um inédito de Carlos Paião — uma canção sobre Lisboa intitulada «Pecado Capital». 

1996 - Edita no final do ano a coletânea "Trinta Anos de Carreira" cujas vendas atingem, em poucas semanas, o Disco de Ouro. 

1997 - Regressa aos microfones da Rádio Renascença, ao programa «Despertar», após uma longa ausência em consequência de uma delicada operação a um tumor benigno no ouvido, feita nos Estados Unidos. Em Maio, no Coliseu de Lisboa, realizou-se um espectáculo comemorativo dos seus 30 anos de carreira, pouco antes de ter abandonado o «Despertar». 


sexta-feira, 3 de outubro de 2025

António dos Santos

António dos Santos nasceu em Lisboa, na freguesia do Socorro, a 14 de Março de 1919, e morreu a 18 de Setembro de 1993, também em Lisboa. Começou a cantar aos 15 anos, mas o seu repertório compunha-se exclusivamente de fados humorísticos, que ele próprio escrevia, na linha de Joaquim Carreiro. 

O seu cantar, originalíssimo, dava-lhe o direito de se considerar o único «baladeiro, autêntico», precursor de um estilo que, em Lisboa, onde o fado era a canção urbana, só ele cultivava. Tinha admiradores que se deslocavam à sua casa típica, "O Cantinho do António", em Alfama, para o ouvir, acompanhado à viola, cantar com a sua grave, mas belíssima voz, as tais canções «parentes do fado», mas muito mais entusiásticas, nostálgicas por demais, a que só António dos Santos soube dar a dimensão criativa, única, que o impôs. 

Homem pouco dado à autopromoção, cantava por prazer. As suas gravações são raras, mas inesquecíveis. Quem não se lembra de títulos como «Adeus Parceiro da Farra», «Partir É Morrer Um Pouco» ou esse perfeito, modelar «Minha Alma de Amor Sedenta»? Não deixou seguidores, o que prova a sua autenticidade e sublinha os seus dotes inigualáveis de intérprete. 

DISCOGRAFIA: 

1964 - Alfama-Lisboa (EP, Columbia); Nostalgia de Alfàma (EP, Columbia)

1968 - Fado e Canto Peregrino (EP, Columbia)

1971 - Minha Alma de Amor Sedenta (LP, Columbia)

1986 - Saudade (LP, EMI)


quarta-feira, 1 de outubro de 2025

António Portugal

António Jorge Moreira Portugal nasceu a 23 de Outubro de 1931, na República Centro-Africana e morreu em Coimbra, a 26 de Junho de 1994, com 62 anos. Com um ano de idade foi viver para Coimbra (a sua família era de Penacova) e aí fez a escola primária, os estudos secundários e se licenciou em Direito. 

Foi no Liceu D. João III que conheceu Luiz Goes e José Afonso e que os começou a acompanhar, em 1949, com um grupo constituído por Manuel Mora (2.a guitarra) e Manuel Costa Brás (militar de Abril e ex-ministro) e António Senão, à viola. António Portugal teve como professores dois guitarristas «futricas», barbeiros de profissão e irmãos (o Flávio e o Fernando), tendo acompanhado o primeiro até à morte deste, em 1950. 

Em 1951, matriculou-se na Faculdade de Direito e ingressou também na Tuna e no Orfeão Académico. Em 1952 conhece António Brojo, que o convida para integrar o histórico grupo de fados e guitarradas do qual faziam parte os cantores Luiz Goes, José Afonso, Florêncio de Carvalho, Fernando Rolim e, um pouco mais tarde, Machado Soares. Para além de António Brojo e de António Portugal, nas guitarras, faziam ainda parte do grupo os violas Aurélio Reis e Mário de Castro. 

Em 1953, depois de muitos anos em que não se gravaram discos de fados de Coimbra, o grupo liderado por António Brojo registou uma série de oito discos de 78 rotações por minuto, os quais constituem a razão de ser da coletânea "Fados e Guitarradas de Coimbra", editada em 1996 pela Movieplay, uma vez que nela se reúnem as primeiras gravações de José Afonso, Luiz Goes, Fernando Rolim, Machado Soares e, ainda, as guitarras de António Brojo e António Portugal. 

António Portugal, durante mais de 45 anos, foi omnipresente em tudo o que se relaciona com a canção de Coimbra (designação que ele considerava mais correcta do que a de «fado de Coimbra», por esta ser demasiado restritiva e não englobar formas musicais como a balada ou a trova que o Zeca e o Adriano imortalizaram). De 1949 a 1994, António Portugal criou uma obra ímpar, quer pela qualidade e inovação das suas composições e arranjos quer pela forma perfeita como sabia ensinar os cantores, e com eles criar uma dinâmica de acompanhamento que o distingue de todos os outros guitarristas do seu tempo. Mas não só: António Portugal deixou, de longe, a mais ampla e completa discografia do fado e da guitarra de Coimbra, aliás bem patente na coletânea "Fados e Guitarradas de Coimbra", onde, além de solista de guitarra, acompanha todos os cantores, excepto Almeida Santos: Adriano, António Bernardino, Zeca, Luiz Goes, Machado Soares, Fernando Rolim, Sutil Roque e Lacerda e Megre. 

Embora de forma esquemática e muito resumida, o percurso musical de António Portugal poderá ser dividido em quatro fases. A primeira, iniciática, em que António Portugal se aplica na execução e pesquisa da guitarra, e na sua colaboração, já referida, com os maiores e mais importantes nomes da geração de 50. A segunda, que se inicia com a formação do grupo do Coimbra Quintet (Luiz Goes, Jorge Godinho - 2.a guitarra, também já falecido, Manuel Pepe e Levy Baptista), corresponde à transição para a renovação do fado e da guitarra de Coimbra, que culminou com a gravação da «Balada do Outono», de José Afonso e onde, pela primeira vez ao lado de António Portugal, surge a viola de Rui Pato. 

A terceira fase - início dos anos 60 - é fundamentalmente marcada pela canção de intervenção e pelos nomes de Adriano Correia de Oliveira e Manuel Alegre. A «Trova do Vento Que Passa», de que António Portugal é autor da música, é o hino e o emblema da resistência ao regime e à guerra colonial, a «Grândola» do Abril antes do Abril. 

A quarta e última fase é também a mais longa: é o período da maturidade e da consagração. Depois do 25 de Abril, António Portugal, que ao longo dos anos tinha sido um activista político persistente e eficaz na luta contra o fascismo, «trocou» temporariamente a guitarra pela política activa, quer na Assembleia Municipal de Coimbra, onde foi, até à sua morte, líder da bancada do PS, quer na Assembleia da República, como deputado. Ultrapassado o período revolucionário de 1975 - em que a onda de contestação não poupou também as tradições coimbrãs - e com o «regresso» de António Brojo ao gosto e ao gozo da guitarra, reconstitui-se o grupo dos anos 50 e foi reiniciada uma atividade de intensa participação, quer em espectáculos em Portugal e no resto do mundo quer numa série de programas para a RTP, quer ainda a gravação de uma coletânea de seis LP, "Tempos de Coimbra" (1990) - oito décadas no canto e na guitarra -, onde se registam para a História - desde Augusto Hilário à atualidade - dezenas de fados e guitarradas, fruto de laboriosa e cuidada recolha. 

A sua morte interrompeu o seu último projeto, que vinha realizando com António Brojo, sobre a guitarra de Coimbra: ambos os solistas preparavam um duplo álbum de guitarradas, em que alternadamente se acompanhavam um ao outro e que já ia a caminho da sua finalização. O disco acabaria por ser editado em 1994, pela EMI, precisamente com o título "Variações Inacabadas". No dia 10 de Junho de 1994, quando se encontrava no Oriente para atuar com o seu grupo nas Comemorações do Dia de Portugal, o Presidente da República, Dr. Mário Soares, atribui-lhe, em Coimbra, a Ordem da Liberdade. 

António Portugal não teve a alegria de ver, e ostentar, essa justíssima condecoração porque, à chegada ao aeroporto de Pedras Rubras, foi vitimado por acidente vascular cerebral, morrendo dias depois, em Coimbra. 


domingo, 28 de setembro de 2025

António Variações - Parte 4

 

1989 Jun. - No quinto aniversário da sua morte, a EMI-VC reedita a discografia de António Variações numa edição especial que inclui os álbuns "Anjo da Guarda" e "Dar e Receber" e o maxi--single "Estou Além/Povo Que Lavas no Rio". 

Jul. - "Dar e Receber" é publicado em CD. 

Nov. - Lena D'Água edita "Tu Aqui", um álbum composto por nove composições inéditas de António Variações, escolhidas pela cantora entre um vasto acervo de temas nunca divulgados, que a família do cantor a autorizou a gravar em exclusivo. 

1993 Jun. - No programa «Sons do Sol», de Júlio Isidro, a lembrar a passagem de nove anos sobre a sua morte, surge a primeira homenagem a António Variações, contando com a presença em estúdio da sua mãe e irmão. Algumas canções suas são interpretadas por outros artistas (Miguel Ângelo, Jorge Palma, Nucha, entre outros) e um original, de homenagem, com letra de José Jorge Letria é depois cantado por todos. 

1994 Jan. - Em edição da EMI-VC, é lançado o álbum de homenagem "Variações — As Canções de António", que reúne, em torno de versões de originais de António Variações, os Mão Morta («Visões Ficções»), Três Tristes Tigres («Anjo da Guarda»), Resistência («Voz Amália de Nós»), Sitiados («O Corpo É Que Paga»), Madredeus («Canção»), Sérgio Godinho («E P'ra Amanhã»), Santos & Pecadores («Perdi a Memória»), Delfins («Sempre Ausente»), Isabel Silvestre («Estou Além») e os Ritual Tejo («Dar e Receber»). Mal recebido pela crítica, o disco queda-se bastante aquém do homem que pretendia homenagear. Em jeito de brincadeira, nos corredores de rádios e jornais há quem lhe chame «Estou Aquém», mas ainda assim o álbum atinge o Disco de Prata por vendas superiores a 10 mil discos. 

1995 - As Amarguinhas incluem no seu CD single de estreia, editado pela NorteSul, uma versão de «Estou Além». 

1996 Maio. - O projecto MDA inclui uma versão de «Estou Além» e uma de «Dar e Receber» no seu álbum de estreia 

1996 - "vol.1", álbum que viria a ser retirado do mercado por falta de autorização de Pedro Ayres Magalhães para a versão de «O Pastor», dos Madredeus. 

1997 Maio. - É editada pela EMI-VC a compilação «O Melhor de António Variações», recuperando material dos dois álbuns e do maxi "Povo Que Lavas no Rio", remisturado e remasterizado por Marku Sáley. O álbum atinge, à saída, o 1.° lugar do top português e rapidamente atinge o Disco de Platina por vendas superiores a 40 mil discos. 

DISCOGRAFIA:

1982 - Estou Além / Povo Que Lavas no Rio (Single, Valentim de Carvalho). 

1983 - Anjo-da-Guarda (LP, Valentim de Carvalho); «É P'ra Amanhã» (Single, Valentim de Carvalho).

1984 - Dar e Receber (LP, EMI-VC). 

1997 - O Melhor De António Variações (CD, EMI-VC). 

António Variações - Parte 3

António Variações mudava, repentina e honradamente, a noção de espectáculo na música portuguesa. Numa discoteca, na Rua da Imprensa Nacional, dá uma festa para amigos e convidados na qual chega a actuar ao vivo. 

1984 Fev. (6 a 25) - António Variações entra nos Estúdios Valentim de Carvalho, em Paço d'Arcos, para gravar o seu segundo (e último) álbum. Pedro Ayres Magalhães e Carlos Maria Trindade, dos Heróis do Mar, são os produtores e directores musicais do disco, e os cinco músicos dos Heróis formam a banda de estúdio que participa nas gravações, com Rui Pregal da Cunha a assinar igualmente a conceção da capa. 

Abr. - No programa «A Festa Continua», de Júlio Isidro, aparece pela última vez em público, poucas semanas antes da edição do disco. Vestido com uma espécie de pijama de flanela, com coelhinhos e ursinhos estampados, canta dois temas do novo álbum, e diz que tem estado um pouco engripado. Esta será a única vez que canções de "Dar e Receber" chegam, com António, ao pequeno ecrã. 

Maio - E editado o álbum "Dar e Receber" que, unanimemente bem recebido pelo público e crítica, não consegue contudo impor nenhum tema de êxito como «E P'ra Amanhã...» ou «... O Corpo É Que Paga» do álbum anterior. «Canção do Engate» será o tema que mais se aproximará do sucesso. 

Maio (18) - Dá entrada no Hospital Pulido Valente com «um problema brônquico-asmático», sendo assistido pelo Dr. Iglésias Oliveira. A pedido da família é, pouco depois, transferido para o Hospital da Cruz Vermelha. Com um estado em agravamento progressivo, é solicitada a reanimadora Dra. Maria Cristina Câmara. 

Jun. - Em insuficiência respiratória aguda, é submetido a uma prótese ventilatória (Engstrom). Na madrugada do dia 13, dia de Santo António, enquanto a cidade se deitava depois de uma noite de festas populares, falecia no Hospital da Cruz Vermelha, em consequência de, como então se disse, «broncopneumonia bilateral grave». Desaparecia um dos mais importantes renovadores da nova música portuguesa. Dois dias depois é sepultado no cemitério de Amares (Braga), a poucos quilómetros da sua aldeia natal, num funeral onde poucos músicos estarão presentes. "Dar e Receber" atingirá o Disco de Prata. 

1987 Abr. - Os Delfins incluem uma versão de «Canção de Engate» no seu álbum de estreia, "Libertação", produzido por Carlos Maria Trindade. É a primeira versão gravada de um original de António Variações. 

1988 - A EMI-Valentim de Carvalho reedita o maxi-single de "Estou Além". 

Nov. - "Anjo da Guarda" é editado em CD pela primeira vez. 


António Variações - Parte 2

Com uma equipa de gravação, Rui Pêgo vai a casa de Variações, toda pintada de verde, e grava dois ou três temas, entre os quais «Toma o Comprimido», que depois toca no programa. Tímido, Variações quase pede desculpa à equipa da RR pelo «incómodo» de lá terem ido a casa! 

1981 Fev. - Apresenta-se pela primeira vez em público na televisão, no programa de Júlio Isidro «O Passeio dos Alegres», transmitido em directo dos estúdios da RTP no Lumiar, como António & Variações (Variações sendo então o nome do grupo que o acompanhava). Vestido de aspirina, enquanto lança Smarties ao público e às câmaras, canta, «Toma o Comprimido», tema que grava num estúdio em Campo de Ourique depois de ter conhecido Júlio Isidro na barbearia. A cassete com a gravação regressa a casa com o próprio Variações e, como a RTP não guardou o registo em vídeo da atuação e o tema nunca foi gravado nem editado em disco, dela apenas resta a memória de alguns e umas fotografias (na posse de Júlio Isidro). Depois da estreia na televisão, António Variações participa nalgumas emissões do programa da Rádio Comercial, «Febre de Sábado de Manhã», apresentado por Isidro e transmitido em directo do Cinema Nimas aos sábados de manhã. A primeira destas participações decorre pouco depois da apresentação na TV, interpretando de novo o mesmo tema. 

1982 - Depois de uma intervenção do irmão Jaime, advogado de profissão, junto da editora, relembrando a existência de um contrato ainda não concretizado e ameaçando a companhia de ação legal caso não sejam tomadas medidas, a Valentim de Carvalho reúne-se com António Variações e, depois de ouvir novas maquetas do cantor, conclui que está na altura de gravar. 

Jun. - Pela Valentim de Carvalho, e já sob o nome António Variações (porque «é uma palavra que sugere elasticidade, liberdade», comenta em entrevista a "O País"), edita finalmente o primeiro single, um duplo lado-A com «Povo Que Lavas no Rio», uma versão para um fado de Pedro Homem de Mello e Joaquim Campos imortalizado por Amália Rodrigues, de quem se tornara um ex-libris, e «Estou Além», um original próprio. Embora o nome impresso no disco seja o de Nuno Rodrigues, A&R do cantor, é a Ricardo Camacho que se deve a produção do tema. O sacrilégio de ousar regravar «Povo Que Lavas no Rio» cai mal em alguns círculos, mas «Estou Além» obtém a popularidade de rádio que escapa ao outro tema. «Se tivesse nascido em Nova Iorque seria um rocker, mas como nasci no Minho prefiro ser um folclorista que também ensaia o rock» afirmará nalgumas entrevistas, por ocasião da promoção do single. 

1983 Jun. - Edita, e dedica a Amália Rodrigues, o seu primeiro álbum, "Anjo da Guarda", na contracapa do qual inscreve «A Amália que sempre me deu e fez sentir a importância de uma verdadeira identidade.» O disco encerra, aliás, com a canção «Voz Amália de Nós», que prossegue a sua homenagem à fadista de quem era grande admirador. O álbum é o resultado de um ano de gravações tumultuosas: iniciadas em 1982 com Vítor Rua e Tóli César Machado, dos colegas de editora GNR, como arranjadores e produtores, as sessões de estúdio são interrompidas pelos desentendimentos que originam a saída de Rua dos GNR, levando a editora a programar para o final de 1982 a edição de um mini-álbum com os cinco temas que haviam ficado prontos. Contudo, essa edição nunca é publicada e as sessões são retomadas mais tarde, agora sob a supervisão de José Moz Carrapa, que termina o álbum (e ao qual é creditada na capa a produção). "Anjo da Guarda" acabará por ser uma «manta de retalhos» - aos cinco temas gravados em 1982 com Tóli e Rua junta-se «Estou Além», do single de estreia, e quatro temas orientados por Caparra. O álbum é muitíssimo bem recebido pela imprensa, que aponta a inovação e originalidade do som apresentado, bem como a presença do cantor, e a rádio (e o grande público) elegem António Variações como um dos grandes nomes do momento. Um estranho caso de popularidade transforma, de repente, o exótico barbeiro numa estrela popular à escala nacional. «Estou Além», «E P'ra Amanhã...» e «...0 Corpo É Que Paga» estão entre as músicas mais tocadas do ano. «E P'ra Amanhã...» será aliás editado como single ainda no Verão. 

Jul. - Durante todo o Verão António Variações é um dos nomes mais solicitados para atuações ao vivo, sobretudo no circuito das muitas festas das pequenas aldeias e outras localidades onde, superando de longe os «adversários» roqueiros, chega mesmo a competir em popularidade com os artistas de primeira linha como Marco Paulo ou Carlos do Carmo. 

António Variações - Parte 1

Com 12 anos, António Joaquim Rodrigues Ribeiro abandona a sua aldeia natal, no Minho (na região de Braga), com uma mala de papelão e madeira (tal como descreve na canção «Olhei para Trás», do álbum de 1984 "Dar e Receber"). Filho de camponeses minhotos, já em pequeno expressava a sua paixão pela música, preferindo as romarias e o folclore aos trabalhos que lhe eram pedidos pelos pais. 

Em miúdo, recordará muitas vezes em entrevistas, passou vergonhas ao ser apanhado frente a um espelho, a trautear umas canções. 

1975 - Empregado de escritório em Lisboa, viaja até Londres, cidade onde se mantém durante um ano. Para ganhar dinheiro trabalha num colégio. Mais tarde confessa ter tido pena de, por a idade não lhe ser favorável, não ter ainda a sensibilidade para apreciar e explorar convenientemente a cidade. 

1976 - Regressa a Lisboa para, pouco depois, partir de novo, desta feita para Amesterdão, onde, durante um ano, aprende o oficio de cabeleireiro. 

1977 - De regresso a Lisboa abre, num centro comercial, o primeiro cabeleireiro unissexo da capital. Pouco depois, muda-se para um outro centro comercial e, alguns meses mais tarde, cansado do snobismo e das vaidades de muitos, regressa às origens, abrindo uma barbearia numa rua da Baixa lisboeta. Começa a desenvolver um visual diferente e bastante personalizado que privilegia cores, formas originais e alguns elementos de adorno como, por exemplo, brincos. Um dia, na Baixa, de encontro a duas senhoras, ouve a exclamação «Ai meu Deus, uma mulher com barba!» conta em en-trevista a "A Capital" em 1983. 

1978 - Muito antes da edição do seu primeiro single, grava uma maqueta com algumas canções, que apresenta à editora Valentim de Carvalho, com a qual virá a assinar contrato. Contudo, terá de esperar quase quatro anos para poder lançar o seu primeiro disco; a descrição dos arranjos pretendidos para a sua música, que define «entre Braga e Nova Iorque», cria alguma confusão no pessoal da editora. Além disso, a maior parte dos temas apresentados em maqueta não passam de esboços de música e letra, gravados numa cassete caseira apenas com a voz do cantor. Durante o período de espera, é posto em contacto com dois A&R da companhia, Mário Martins e Nuno Rodrigues, cada qual com ideias diametralmente opostas quanto ao caminho que Variações deveria tomar; o primeiro apontava essencialmente um repertório folclórico, o que não chegou a acontecer, enquanto o segundo preferiu dirigi-lo para áreas mais próximas do rock. 

1980 - O jornalista Luís Vitta, que cortava o cabelo na barbearia onde António trabalhava, leva os seus colegas do programa da Rádio Renascença «Meia de Rock», Rui Pêgo e António Duarte, a contactar com o músico, que ainda não vislumbrava a edição do primeiro disco. 


sexta-feira, 12 de setembro de 2025

António Pinto Basto

Nasce em Évora, a 6 de Maio. Desde cedo mostra gosto pela música em geral e, em particular, pelos cantos tradicionais e pelo fado que, enquanto adolescente, começa a cantar em festas. 

1970-1974 - Licenciado em Engenharia, pelo Instituto Superior Técnico, de Lisboa, grava três EP, que hoje renega, por considerar que desde então evoluiu bastante na forma de interpretar o fado. 

1974-1988 - Decide não gravar, por entender que o fado exige dos seus intérpretes mais do que a simples intuição natural. Não deixou, no entanto, de se apresentar em público em Portugal, Estados Unidos, Brasil, Espanha, França e Angola. 

1988 - Editou o seu primeiro álbum, "Rosa Branca", para a PolyGram, com sucesso assinalável. Ganha o "Grande Prémio de Revelação" da Rádio Renascença e dois "Seles de Ouro", um para revelação e outro para fado. 

1989 - Depois de mais de 120 concertos em todo o País, edita no final do ano o duplo álbum "Maria", com repetição de sucesso de vendas e de crítica. Ganha o "Grande Prémio de Popularidade" da Rádio Renascença e o "Grande Prémio de Popularidade" da Casa da Imprensa. 

1991 - E editado o terceiro álbum, "Confidências à Guitarra". 

1992 - No primeiro semestre do ano, visita os quatro continentes, actuando nomeadamente em Macau no Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, e em Hong Kong perante diplomatas locais. Canta ainda o fado em Angola e em Sevilha, na EXPO-92. Nos Estados Unidos faz uma apresentação numa rede portuguesa de TV. 

1993 - Lançamento da compilação "Os Grandes Sucessos de António Pinto Basto". 

1994 - Convidado pelo Instituto Cultural de Macau, é solista da Orquestra Chinesa de Macau, com 68 elementos, numa digressão por Portugal. Um dos espectáculos de Lisboa é integrado no programa de Lisboa-94. 

1995 - Participa em Macau no "VI Festival de Artes" e dá dois concertos em Goa. No final do ano, é lançada uma vídeocassete intitulada «António Pinto Basto em Évora», baseada num concerto na sua terra natal. 

1996 - É editado, na BMG, o álbum "Desde o Berço". 

DISCOGRAFIA: 

1970 - Povo Sagrado (EP). 

1973 - Saudades Peregrinas (EP). 

1974 - Tem Fé Caminheiro (EP). 

1988 - Rosa Branca (LP, Philips). 

1989 - Maria (CD, Philips). 

1991 - Confidências à Guitarra (CD, Philips). 

1993 - Os Grandes Sucessos (CD, Philips). 

1994 - O Melhor dos Melhores (CD, Movieplay). 

1996 - Desde o Berço (CD, BMG). 

António Pinho Vargas

Nasce a 15 de Agosto, em Vila Nova de Gaia. 

1960 - Inicia lições de piano. 

1967 - Entra para os Grelha, grupo de liceu formado por um colega. 

1968 - Termina o liceu e vem para Lisboa estudar Direito, afastando-se da música. 

1971 - Pede transferência para o curso de História, mas um atraso na entrega da documentação impede-o de iniciar o curso ainda nesse ano lectivo. Regressa ao Porto e aos Grelha. 

1972 - Começa a interessar-se pela música clássica e pelo jazz, com a ajuda do musicólogo e jornalista Jorge Lima Barreto. Decide então procurar um professor de piano, e os Grelha inflectem para o free-jazz por influência das teorias de Barreto. 

1974 - Decide aprender jazz tradicional. 

1975 - Envereda a sério pela carreira musical, interrompendo os estudos de História. 

1976 - Participa num festival de jazz em Liubliana como acompanhante de Rão Kyao. 

1977 - Participa no Festival de Jazz de Cascais desse ano. Forma o primeiro dos seus dois grupos, o Zanarp, com José Nogueira, José Martins e Artur Guedes. 

1978 - Forma o grupo Abralas, com Fernando Girão. 

1979 - Participa no Festival de Jazz de Cascais. Atua pela primeira vez em Macau. A formação do Quarteto de António Pinho Vargas consolida-se, com José Nogueira, Mário Barreiros e Pedro Barreiros. 1980 - Participa no Festival de Jazz de Cascais. Decide retomar os seus estudos de História e completa o curso. 

1981 - Depois de uma passagem pelos Arte & Oficio, de Sérgio Castro, passa a integrar a Banda Sonora, de Rui Veloso, como pianista. 

1982 - Participa nas gravações do álbum "Fora de Moda", de Rui Veloso, como integrante da Banda Sonora, mas abandona o grupo ainda neste ano. 

1983 - Edita pela PolyGram o seu primeiro LP a solo, "Outros Lugares", que é aclamado pela crítica e obtém boa receção do público, esgotando duas tiragens sucessivas. O álbum é mais tarde definido pelo pianista como «um resumo» do seu trabalho até aí, pois os temas mais antigos remontavam já a 1976. Participa no Festival de Jazz de Cascais. 

1984 - Participa no Festival de Jazz de Cascais. 

Ago. - Participa no Jazz em Agosto, da Fundação Calouste Gulbenkian. Atua pela segunda vez em Macau. Atua no Festival de Jazz de Paris. 

1985 Abr. - Transfere-se da PolyGram para a EMI-Valentim de Carvalho, anunciando igualmente a gravação de um novo disco em Junho. 

Ago. - Participa no Jazz em Agosto, da Fundação Calouste Gulbenkian. 

Out. (15) - Inicia uma série de oito concertos em Paris com o Quarteto APV, a convite da Maison de Jeunes et de la Culture. 

Nov. - Edita o seu segundo álbum e primeiro para a EMI-VC, "Cores e Aromas". O tema de abertura, «Dança dos Pássaros», torna-se num inesperado êxito de rádio, algo de invulgar para um disco de jazz, e o álbum esgota a sua primeira tiragem. 

(21) - Em entrevista ao jornal "Êxito", António Pinho Vargas afirma que a sua saída da PolyGram se deveu à desatenção e incompreensão da editora, que deixou o álbum "Outros Lugares" esgotado vários meses e pretendia transformá-lo num novo Rão Kyao, numa alusão a um outro artista (sob contrato com a PolyGram) que, proveniente da área do jazz, se tornara num fenómeno de popularidade ao optar por um som mais easv listening e comercial. 

1986 Jun. (14) - Atua no Cinema Alvalade, no seu primeiro concerto ao vivo em Lisboa, desde a edição de "Cores e Aromas". 

1987 Abr. (24) - Apresenta ao vivo o seu novo álbum no Auditório Carlos Alberto. 

Maio - Edita o álbum "As Folhas Novas Mudam de Cor", do qual o tema «Tom Waits» se torna num enorme sucesso de rádio. O álbum atingirá o 8.° lugar do top nacional de vendas, durante uma estada de três meses no top. O título do disco é retirado de um verso de Eugénio de Andrade. Simultaneamente, é director musical da encenação teatral de Hamlet, de Shakespeare, feita por Carlos Avillez para o ACARTE. 

Jul. (24) - António Pinho Vargas apresenta-se ao vivo no Rivoli do Porto com o seu sexteto. 

(26) - Atua na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa. Compõe a banda sonora do filme de João Botelho, "Tempos Difíceis". 

Out. - Parte para a Holanda como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, a fim de estudar composição contemporânea com Klaas de Vries e Otto Ketting. 

(15) - Apresenta-se no Auditório Nacional Carlos Alberto, num concerto onde estreia em palco quatro novos temas e se apresenta com uma formação invulgar, com dois percussionistas, em vez do tradicional baterista. 

Nov. (5-12) - Realiza uma minidigressão nacional com datas fixas em Coimbra, Évora, Beja, Loulé, Lagos e Faro. 

1988 Abr. (10) - Atua no Auditório Nacional Carlos Alberto num concerto organizado para comemorar o 10.° aniversário da Liga dos Amigos do Hospital de Santo António. 

Ago. - Atua no Festival Jazz em Agosto, da Fundação Calouste Gulbenkian, com o Vargas Jazz Ensemble, designação nova para o sexteto, apresentando quatro temas inéditos que serão posteriormente gravados no álbum "Os Jogos do Mundo". Compõe a obra para orquestra «Geometral», encomendada pela Fundação Calouste Gulbenkian para os "XIII Encontros de Música Contemporânea". 

Nov. - "As Folhas Novas Mudam de Cor" é publicado em CD. 

1989 Abr. - É editado o álbum "Os Jogos do Mundo", que inclui «Do Teatro», baseado no tema principal da peça Hamlet, e «Do Cinema», inspirado num dos temas escritos para Tempos Difíceis. 

Maio (13) - «Geometral» é estreada nos "XIII Encontros de Música Contemporânea" da Fundação Calouste Gulbenkian, sob a direção do maestro Michel Tabaschnik, com a participação dos solistas Aníbal Lima (violino), Paulo Gaio Lima (violoncelo) e Olga Prats (piano). 

Set. (15-20) - Realiza uma minidigressão promovida pela Secretaria de Estado da Cultura, passando pelo Porto, Ovar, Viana do Castelo e Braga. 

1990 Maio (15) - "Outros Lugares" é reeditado pela EMI-VC, ao mesmo tempo que é finalmente editado em CD "Cores e Aromas". Diploma-se em Composição pelo Conservatório de Roterdão. Escreve música para a coreografia de Paulo Massano "A Bailarina do Mar".  

1991 Maio - É editado o álbum "Selos e Borboletas", gravado em quarteto com José Nogueira, Arild Andersen e Adam Rudolph. 

Jun. (1) - Atua no Coliseu do Porto para apresentação ao vivo do álbum Selos e Borboletas. 

(7) - Atua no Coliseu de Lisboa com a presença de Rui Veloso. A sua composição «Estudo/Figura» é premiada no IV Concurso de Composição da Oficina Musical. A peça é estreada em Amesterdão nesse mesmo ano. Ingressa como professor na Escola Superior de Música de Lisboa. 

1992 - Escreve a peça para orquestra e solistas de jazz «Explicit Drama», encomendada pela Comissão dos Descobrimentos Portugueses. Escreve «Mechanical String Toys», por encomenda da Orquestra Metropolitana de Lisboa de Miguel Graça Moura. 

1993 Abr. (6) - Atua em abertura do Simbiosis Jazz Festival na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa. O grupo de música contemporânea de Estugarda Musik Fabrik estreia nas 2.as Jornadas de Arte Contemporânea do Porto a peça para quarteto de cordas «Monodia — Quasi un Requiem». 

1994 Abr. (29) - Apresenta-se ao vivo no Coliseu dos Recreios de Lisboa num espectáculo integrado na série Coliseu's por iniciativa de Lisboa-94, com a presença dos convidados Laurent Filipe, Maria João e o Quarteto de Cordas da Orquestra Metropolitana de Lisboa e como convidado-surpresa Vitorino, abarcando a sua carreira como jazzman e compositor contemporâneo. O concerto é repetido a 5 de Maio no Teatro São João, no Porto. 

Nov. - Estreia-se na composição contemporânea com «Nocturno-Diurno», encomendada pelo sexteto de cordas AIEC, de Lille. 

1995 Jan. - É editado o seu primeiro disco de música contemporânea, "Monodia", que inclui cinco peças contemporâneas escritas entre 1986 e 1994 e interpretadas sob a supervisão do compositor. Para marcar bem a diferença de material em relação às suas gravações anteriores, o álbum é editado através do selo EMI Classics. 

Set. - Anuncia-se o regresso de Pinho Vargas aos estúdios de gravação, para um álbum de jazz em trio com a cantora Maria João e o seu saxofonista habitual José Nogueira. 

1996 Abr. (30) - E editado "A Luz e a Escuridão", gravado em Frankfurt com Maria João e José Nogueira. A par de temas inéditos, o álbum recupera ainda várias peças já gravadas em discos anteriores, casos de «Brinquedos» (de "Selos e Borboletas"), «Dinky Toys» (de "Outros Lugares") «Vilas Morenas» (de "As Folhas Novas Mudam de Cor") ou «Thelonious Schizo Sketch» (de "Os Jogos do Mundo"). 

Maio (4) - António Pinho Vargas apresenta-se ao vivo no Centro Cultural de Belém num concerto único com a participação de Maria João e José Nogueira para estreia ao vivo de "A Luz e a Escuridão". 

DISCOGRAFIA: 

1983 - Outros Lugares (LP, PolyGram). 

1985 - Cores e Aromas (LP, EMI-VC). 

1987 - As Folhas Novas Mudam de Cor (LP, EMI-VC). 

1989 - Os Jogos do Mundo (LP, EMI-VC). 

1991 - Selos e Borboletas (CD, EMI--VC). 

1995 - Monodia (CD, EMI Classics). 

1996 --A Luz e a Escuridão (CD, EMI-VC). 

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

António Mourão

 

António Manuel Dias Pequerrucho é o verdadeiro nome de António Mourão que viu a luz do dia, na vila do Montijo, a 3 de Junho de 1936. Foi dos poucos fadistas que trouxe para o fado, além de uma voz de belo timbre e extensão, um estilo sóbrio mas original de um dramatismo que, no início, era quase soluçante mas que, a pouco e pouco, devido à maturidade adquirida, se tornou versátil, ao ponto de estar tão à vontade no fado-canção como no folclore, ou até nas músicas inspiradas, mas profundas, de Alain Oulman e muito seguro, bom intérprete da poesia de Ary dos Santos, de Fernando Pessoa ou António Aleixo. 

Estreou-se na "Parreirinha de Alfama", mas passado pouco tempo, ao aceitar um convite para integrar, como atração nacional, o elenco da revista "E Viva o Velho", em 1965, no Teatro Maria Vitória, teve a rara oportunidade de cantar um fado de Eduardo Damas e Manuel Paião, que foi dos maiores sucessos que alguma vez saiu do Parque Mayer e é hoje um dos clássicos da música portuguesa, o sempre lembrado «Ó Tempo Volta para Trás». O sucesso foi tão grande que o público se deslocava propositadamente ao teatro para escutar este número na voz do seu criador que, entretanto, se situava já no primeiro lugar de vendas de discos no País. 

Dotado de uma excelente presença em cena, António Mourão foi várias vezes convidado como atração do teatro de revista, onde deixou bem marcadas as suas intervenções que sempre se traduziram em sucessos. Detentor de vários troféus e prémios de imprensa e da crítica, António Mourão, além dos espetáculos no continente é, ainda hoje, um incansável viajante, a convite das comunidades portuguesas
repartidas pelos quatro cantos do mundo.


DISCOGRAFIA: 
1968 - E Sempre Sucesso (LP, Decca).
1969 - Os Últimos Êxitos de António Mourão (LP, Decca).
1970 - Folclore das Provincias (LP, Decca). 
1971 - Meu Amor. Meu Amor (LP, Decca). 
1972 - Folclore (LP, Decca).
1973 - Se Quiseres Ouvir Cantar (LP, Decca). 
1974 - Fado e Folclore (LP, Decca). 
1975 - Pregão de Liberdade (LP, Decca). 
1976 - Cantigas Que a Gente Gosta (LP, Decca). 
1977 - Fado e Folclore 2 (LP, Decca). 
1978 - Canta o Amor (LP, Decca); O Nosso Folclore (LP, Decca).
1980 - Canto e Recanto (LP, Decca). 
1987 - Sucessos Populares (LP, Polydor). 
1992 - Temas de Ouro da Música Portuguesa (CD, Polydor). 
1994 - O Melhor dos Melhores(CD, Movieplay). 



sábado, 9 de agosto de 2025

António Menano

1895 - Nasce, a 5 de Maio, em Fornos de Algodres, na Serra da Estrela. 

1915 

- Mar. Já matriculado em Medicina, na Universidade de Coimbra, António Menano estreia-se em público num sarau organizado pela Associação Académica de Coimbra, com a participação da Tuna Académica e do Orfeão Académico. A reorganização que o orfeão sofre sob o Dr. Elias de Aguiar leva a que Menano seja nomeado solista e ensaiador do naipe dos primeiros tenores, passando igualmente a cantor «titular» de fados e canções nos espectáculos do orfeão. 

- Jun. (10) - Atua na festa de homenagem a Camões promovida pelos alunos do Liceu José Falcão, interpretando, em vez dos tradicionais fados de Coimbra, um trecho de "Os Lusíadas" musicado pelo Dr. Elias de Aguiar. Ainda neste ano, é publicada pela Livraria Neves a primeira edição musical com fados de autoria atribuída a António Menano, "Os Três Mais Lindos Fados de Coimbra". 

1918

- Abr. (29) - Manuel da Silva Gaio, secretário da Universidade de Coimbra, publica na revista "Ilustração Portugueza" um artigo rogando aos estudantes que não cantem fados de Coimbra mas sim cantigas populares. Este período coincide com um abandono por parte de António Menano dos fados de Coimbra, em favor de canções acompanhadas ao piano. 

- Jun. Conduzido à direção do Orfeão Académico, Menano atua nas Fogueiras de S. João interpretando novamente canções populares. 

1919 

- Dez. Organiza no Teatro Avenida, em nome da Associação Académica de Coimbra, um sarau musical cujo programa não inclui um único fado ou guitarrada. Pouco depois, uma proibição oficial de realização de serenatas acabará por ter o efeito oposto, provocando uma revitalização do género. 

1923 

- Abr. Já casado mas ainda não formado, participa na digressão do Orfeão e da Tuna Académica a Espanha, atuando em Salamanca, Madrid e Valladolid. Em Madrid, atua perante os reis de Espanha, acompanhado por Paulo de Sá e pelo seu irmão Alberto Menano, com tal sucesso que se vê forçado a fazer vários encores. 

1924 

- Jun. Atua em França integrado no Orfeão Académico, passando por Paris, Toulouse, Bordéus e Bayonne, cantando fados com Agostinho Fontes e acompanhado à guitarra por Artur Paredes. 

1925 

Conclui o curso de Medicina e passa a exercer clínica em Fornos de Algodres, a sua terra natal. 

1927 

Chega a acordo com a editora fonográfica parisiense Odeon para gravar em disco os seus fados de Coimbra. Menano gravará até 1929 várias dezenas de fados e canções que, publicados em 78 rpm, lhe granjearão grande popularidade e sucesso comercial. 

1929

É convidado pela Academia de Coimbra para integrar a Embaixada Artística enviada para atuar no festival oferecido aos reis de Espanha na inauguração do Pavilhão de Portugal da Exposição Ibero-Americana de Sevilha, composta ainda por Artur Paredes, Afonso de Sousa e Guilherme Barbosa. 

1933 

Parte para Moçambique para aí exercer clínica, abandonando a carreira artística. 

1956 

- Out. (22) Durante uma passagem por Lisboa, Menano dá um recital único no Instituto Superior de Agronomia, na Tapada da Ajuda, que apenas começa às duas horas da manhã e ficou lendário. 

1961

Regressa definitivamente a Lisboa. 

1967

 - (24) Atua nas escadarias da Sé Velha, em Coimbra, por ocasião da Serenata Monumental da reunião do Curso Jurídico de 1907-1912, do qual fazia parte o seu irmão Francisco Menano. 

Dez. 

(16) Faz a sua última apresentação pública, interpretando duas canções na inauguração da Galeria Rodin, em Lisboa. 

1969 

António Menano morre, a 11 de Setembro, na sua casa de Lisboa. 

1985 

Com o apoio da Secretaria de Estado da Cultura, a EMI-Valentim de Carvalho publica um duplo álbum que reúne 24 das mais conhecidas gravações de Menano, editadas pela primeira vez em LP. O sucesso obtido por este disco leva à edição, alguns meses depois, de um segundo volume. 

1995 

Ago. - É editada em Portugal uma compilação realizada pela firma macaense Tradisom para a sua série Arquivos do Fado, compilada à revelia dos herdeiros do cantor a partir de discos de 78 rpm. 

Set. - E publicado pela EMI-Valentim de Carvalho o primeiro de três CD retrospetivos realizados a partir da coleção particular de 78 rpm do Eng.° Nuno Menano, filho do cantor, transferidos para DAT nos estúdios de Abbey Road, em Londres, e tratados com o sistema de restauro digital CEDAR Audio Restoration. O segundo volume é publicado no Natal de 1995, e o terceiro no Outono de 1996. 

DISCOGRAFIA: 

1985 - Fados de Coimbra (LP, EMI). 

1986 - Fados de Coimbra, vol. II (LP, EMI). 

1995 - Arquivos do Fado (CD, Tradisom); Fados (CD, Odeon); Fados, vol. II (CD, Odeon). 

1996 - Canções (CD, Odeon). 


quinta-feira, 7 de agosto de 2025

António Macedo

 «Erguer a Voz e Cantar» e o «Casamento da Menina Manuela» são os dois grandes êxitos da carreira de António Macedo, um dos primeiros a integrar a chamada Nova Música Portuguesa ao lado de nomes como os de Manuel Freire, Fausto e Filarmónica Fraude. Nascido no Porto em 1946, António Inácio Reis de Macedo iniciou a carreira musical nos convívios dos bares das faculdades em Lisboa, nomeadamente na de Letras, onde tirava o curso de Germânicas. «Erguer a Voz e Cantar» tornou-se numa espécie de hino da juventude universitária enquanto «O Casamento da Menina Manuela» o revelou como um crítico da sociedade, ao estilo da Filarmónica Fraude («Flor de Laranjeira» e «Animais de Estimação»). 

terça-feira, 5 de agosto de 2025

António Emiliano

Nasce em Lisboa, onde continua a viver. É casado e tem dois filhos. Iniciou os seus estudos musicais aos quatro anos, com Raquel Simões. Estudou violoncelo, piano e música na Fundação Musical dos Amigos das Crianças. Prosseguiu os estudos de piano com Campos Coelho e estudou órgão com Gerhard Dohderer. 

1976 - Aos 17 anos, interrompe os estudos musicais. Fará, no entanto, uma carreira académica na área da linguística. Licencia-se em Línguas e Literaturas Modernas na Faculdade de Letras de Lisboa, onde faz o mestrado em Linguística Portuguesa. Posteriormente, será convidado para professor assistente e investigador do Departamento de Linguística da Universidade Nova. No início dos anos 90, prepara um doutoramento em Linguística. Numa entrevista a João Botelho da Silva, do Diário de Notícias, em 1991, diz temer «o dia em que tenha de fazer uma opção radical» entre a música e a universidade. 

1979 - Inicia a atividade de produtor e músico de estúdio que manterá durante oito anos. Dessa parte da sua atividade recordará «bons momentos» vividos em estúdio com Né Ladeiras ou José Mário Branco, e maus, como as gravações com Dino Meira, Marco Paulo e o Trio Odemira. «Aquilo era para rir ou para vomitar», disse na mesma entrevista. 

1983 - Assina a direção musical do espetáculo «Alana», de Anamar, produzido por Manuel Reis. Num campo radicalmente oposto, surge a sua primeira colaboração com Herman José, ao co-dirigir musicalmente, com Ramón Galarza, a série «O Tal Canal». 

1984 - Novo trabalho com Anamar e Manuel Reis, do Frágil, no espetáculo «Coproduction». Prossegue também a colaboração com Herman na RTP, de novo com Ramón Galarza, na série de programas «Hermanias». Ainda com Manuel Reis, realiza a sua primeira colaboração com o cantor de ópera Luís Madureira. É o espetáculo «Boite à Musique», concebido pelo recentemente desaparecido José Ribeiro da Fonte e baseado num repertório de canções francesas. O espetáculo será reposto em Viseu por Ricardo Pais, então a trabalhar na cidade beirã. É a primeira colaboração de António Emiliano e Ricardo Pais. Mais tarde, o compositor afirmou que o encenador foi decisivo para o levar a trocar a produção pela composição. No balanço de um ano já bem mais intenso do que o anterior surge a produção de «Em Pessoa», um disco de José Campos e Sousa sobre poemas do autor da «Mensagem», editado pela Rádio Triunfo. 

1985 - É o ano de viragem no percurso de António Emiliano, cuja estreia como compositor o catapulta automaticamente para o reconhecimento público. A chave da viragem é o espetáculo «Teatro de Enormidades apenas Criveis à Luz Elétrica», cuja autoria é dividida pelo encenador Ricardo Pais, a coreógrafa Olga Roriz, o cantor Luís Madureira e pelo próprio Emiliano. Concebido a partir de textos de Aquilino Ribeiro, o espetáculo é co-produzido pela Área Urbana/Viseu, de Ricardo Pais, e pelo ACARTE, tendo a estreia decorrido em Viseu, em Setembro. O espectáculo valeu a Emiliano o Prémio da Critica para a Melhor Música de Teatro. Executada pelo próprio músico em palco, a música de «Enormidades...» criava uma envolvência poderosa e revelava uma voz absolutamente original e distinta do que o panorama erudito então oferecia em Portugal. 

1986 - Estreia na música para bailado em Espaço Vazio, de Olga Roriz, na Gulbenkian e no cinema, ao compor as bandas sonoras de Repórter X (João Nascimento) e do primeiro filme de Joaquim Leitão, De "Uma Vez por Todas". Participa ainda nesse ano em «Na Vida Real», de Sérgio Godinho. 

1987 - Recebe pela segunda vez o Prémio da Crítica para a Melhor Música de Teatro, desta vez com Anatol, de Arthur Scnitzler, encenada por Ricardo Pais no início da passagem do encenador pela direção do D. Maria II. Nova colaboração com Olga Roriz, Treze Gestos para Um Corpo e com Luís Madureira e Ribeiro da Fonte, em «Le Samedi Soir à Paris», produzido para o Festival dos Capuchos. A sua carreira como produtor discográfico e músico de estúdio chega ao fim com as participações em «Aguaceiro», de Lena D'Água e «Negro Fado», de Vitorino. 

1988 - Compõe a música para o bailado Galvoreh, de Gagik Ismailan, na Gulbenkian. É, o primeiro trabalho original de António Emiliano que conhecerá posterior edição discográfica (1989, Nuno Rodrigues/Transmédia). Assina a sua terceira banda sonora para longas metragens em "A Mulher do Próximo", de Fonseca e Costa. Escreve ainda a música da curta-metragem para televisão "Voltar", de Joaquim Leitão. 

1989 - Reencontra Ricardo Pais no Teatro D. Maria para compor a música de Fausto, Fernando, Fragmentos, espetáculo realizado sobre um texto incompleto de Pessoa, com versão e dramaturgia de António Ribeiro. A música de Fausto, Fernando, Fragmentos será editada este ano em disco, de novo por Nuno Rodrigues, na Transmédia. O trabalho de Emiliano é distinguido com o Prémio Garrett especial de música, atribuído pela Secretaria de Estado da Cultura. Os dois discos do compositor são distinguidos com o Sele de Ouro para a música instrumental contemporânea. As bandas sonoras de "Repórter X" e "De Uma Vez por Todas" são também premiadas, nesse ano, com o Prémio de Música do Instituto Português de Cinema. Mantém a produção no bailado (Ad Vitam, de Paulo Ribeiro) e faz uma breve incursão na publicidade, com a campanha de rádio e televisão de "O Independente", premiada com uma menção honrosa da RTC. 

1990 - Nova banda sonora para José Fonseca e Costa, em "Os Cornos de Cronos" e novos trabalhos para curtas-metragens televisivas de Joaquim Leitão (The Island e The Ransom). Na dança, é a vez de Estranhezas, com coreografia de Paula Massano, uma encomenda do ACARTE. 

1991 - De novo o cinema e o bailado, uma vez mais Joaquim Leitão, que confia a Emiliano a banda sonora da longa-metragem "Até ao Fim". Volta a trabalhar com Olga Roriz em "Cavaleiros da Noite". Retoma também o trabalho com Ricardo Pais e António Ribeiro para uma versão de Amor de Perdição, integrado na Europália, em Bruxelas. Música sem «atonalismos, pós-serialismos e arritmias», apenas «uma música profundamente nostálgica», foi a forma como descreveu esse trabalho. 


domingo, 3 de agosto de 2025

António Calvário

António Calvário da Paz nasce, em Lourenço Marques (Moçambique), a 17 de Outubro de 1938. Aos 7 anos, começa a ter aulas de piano, sonhando já com a possibilidade de vir a estudar no Conservatório. Em 1946 muda-se, com a família, algarvia, para Faro. É aí que, aos 14 anos, é escolhido para cantar numa festa do liceu: a sua primeira atuação como cantor. Pouco tempo depois vai estudar para Lisboa, para o Colégio Académico. Uma prima da sua avó, Corina Freire, uma das maiores vozes do teatro de revista, é, então, a sua professora de canto. Em 1957, com 18 anos, concorre, ao lado de outros trinta cantores, a uma vaga na Emissora Nacional. É aprovado e passa a atuar, com regularidade, nos «Serões para Trabalhadores», nas «Vozes de Portugal» e nos «Passatempos Pac». 

Com a canção «Regresso» vence, em 1959, o II Festival de Canção Portuguesa que se realiza no Coliseu do Porto. É o seu primeiro triunfo num certame onde participam, também, nomes como Simone, Madalena Iglésias, Alice Amaro e Guilherme Kjolner. O sucesso obtido por esta vitória leva a Valentim de Carvalho a assinar com António Calvário, que assim grava o seu primeiro EP: Regresso. Seguem-se Sabor a Sal e Perdão para Nós Dois. Durante uma atuação, em 1960, no restaurante típico português Fado, em Madrid, conhece Lucia Bosé, que muito o elogia. Em 1962 é eleito, pela primeira vez, Rei da Rádio, título que reconquista em 1964, 65, 66 e 72. Toma-se num ídolo da canção, arrastando multidões de jovens admiradoras que chegam a rasgar-lhe camisas e casacos nalgumas invasões de palco. Ao mesmo tempo, por contraponto, há quem o descreva como o rei dos pirosos. As opiniões dividem-se... 

Nesse mesmo ano recebe o Prémio Popularidade, da revista com o mesmo nome, de rádio, e TV, e o Óscar da Imprensa. No auge da popularidade chega a cobrar 20 contos por atuação, uma fortuna para a época. Semanalmente, recebe centenas de cartas, umas com elogios, declarações de amor ou pedidos de fotografias autografadas, outras com insultos, pragas e mesmo orações com bruxarias... 

Ao longo da década de 60 faz digressões pelos Estados Unidos, Canadá, México, Brasil, Venezuela, Holanda e Alemanha Federal. Na revista Chapéu Alto, no Teatro ABC, estreia-se, em 1963, no teatro. Ao longo dos anos seguintes conhecerá igualmente o êxito nas peças "Lábios Pintados", "Zero, Zero Zé", "Ordem para Pagar", "Esta Lisboa Que Eu Amo", "Mãos à Obra" e "Duas Pernas, Um Milhão". Em 1964 vence com «Oração», que a Valentim de Carvalho edita num EP, o I Grande Prémio da Canção da RTP, e representa Portugal na sua primeira participação no Festival da Canção, na Dinamarca, onde se desloca acompanhado apenas por um representante da RTP. A canção obtém zero pontos. 

Durante a sua atuação, um grupo de manifestantes invade o palco com cartazes onde se lia «Abaixo Franco e Salazar». A policia dinamarquesa intervém, mas as câmaras desviam-se da ação, mostrando outras imagens. António Calvário, que em 1964 apresentara também a canção «Para Cantar Portugal» no I Grande Prémio da Canção, voltará a concorrer em 1965 (com «Você não Vê», «Bom Dia» e «Por Causa do Mar»), em 1966 (com «Encontro para Amanhã») e em 1968 (com «O Nosso Mundo»). 

Representou, ainda, por três vezes, Portugal no Festival de Aranda do Douro. A sua estreia no cinema acontece também em 1964, ao lado de Madalena Iglésias, em "Uma Hora de Amor", de Augusto Fraga, que lhe valerá o Prémio Popularidade Cinema desse ano. Participará, depois, nos filmes "Rapazes de Táxis", de Constantino Esteves, em 1965, "Sarilhos de Fraldas", de novo com Madalena Iglésias, naquele que foi o seu maior sucesso na Sétima Arte, numa realização de Constantino Esteves, em 1966, e "O Amor Desceu em Pára-quedas", de Constantino Esteves, em 1968. 

Em 1969, decide produzir "O Diabo Era o Outro", filme de Constantino Esteves, com Milu, Nicolau Breyner, Hermínia Silva, Fernanda Borsatti, Armando Cortêz e Julieta Castelo. Nessa época, a produção de um filme rondava, habitualmente, os 900 contos, quantia que era comportada pelos 1200 contos que António Calvário tinha no banco. O filme, todavia, acabou por custar 3200 contos, num lento processo que levou perto de um ano a ser concluído. Endividado em 2000 contos, António Calvário pagou tudo, ao último tostão, atuando em todo o lado onde pudesse ganhar dinheiro, tendo inclusivamente cantado em circos como atração. «Meteram-me numa alhada, mas não se ficaram a rir de mim», afirmaria mais tarde em entrevista a "A Capital", em 1984. 

Em 1970 faz uma digressão por Portugal, Angola e Moçambique, com o filme "O Diabo Era o Outro", cujos direitos adquire. Inesperado, o sucesso obtido pelo single «Mocidade, Mocidade», editado em 1979 pela Rossil, devolve António Calvário às rádios e aos escaparates das discotecas. O single atinge o galardão de Disco de Ouro. Em 1984 comemora os 25 anos de atividade artística com um concerto no Teatro São Luís, em Lisboa, onde marcam presença Simone de Oliveira, Tony de Matos e a antiga professora de canto Corina Freire. A RTP não comparece. A EMI-VC edita o LP "O Melhor de António Calvário", regravado. Em 1988, num novo acordo editorial com a CBS, edita o single «Adeus Isabel/Santa Luzia», duas versões de canções internacionais, arranjadas por Ana Faria. Ligado à companhia itinerante Revista À Vista, corre o País, de povoação em povoação. No Verão de 1996, a EMI edita o CD Oração, na série Caravela, com uma compilação de canções, entre as quais «Oração», «O Meu Chapéu», «Mocidade, Mocidade», «Alma de Boémio», «Pop Fado», «Helio Dolly», «Sabor a Sal» e «Meu Coração da Madeira». 

DISCOGRAFIA: 

1960 - Sem Ti (A Voz do Dono); O Papá e a Mamã (A Voz do Dono), com Maria de Lourdes Resende.

1961 - Carnaval do Estoril (A Voz do Dono), com Maria de Lourdes Resende; Oração de Amor (A Voz do Dono); O Meu Chapéu (A Voz do Dono). 

1962 - António Calvário Canta Desse Amor (A Voz do Dono); Perdão para Nós Dois (A Voz do Dono).

1963 - O Dia Mais Longo (A Voz do Dono); Fado Hilário (A Voz do Dono); Avé Maria dos Namorados (A Voz do Dono); António Calvário com Los Guairehos (A Voz do Dono); Boas Festas (A Voz do Dono). 

1964 - O Meu Senhor (A Voz do Dono); Oração (A Voz do Dono); Madalena Iglésias e António Calvário em trechos do filme Uma Hora de Amor (A Voz do Dono); Sabor a Sal (A Voz do Dono); Natal de Belém (A Voz do Dono). 

1965 - Fados (A Voz do Dono); Meu Coração da Madeira (A Voz do Dono); Rapazes de Táxis (A Voz do Dono); Ce Monde (A Voz do Dono). 

1966 - Encontro para Amanhã (A Voz do Dono); Marchas do Estoril (A Voz do Dono); Pop Fado (A Voz do Dono); Cantar na Estrada (A Voz do Dono); Canções de Natal (A Voz do Dono); O Fado Nasceu na Rua (Belter).

1968 - Canções de Mv Fair Ladv (Decca,), com Simone. 

1979 - Mocidade, Mocidade (Rossil). 

Álbuns: 

1967 - Canções de Natal (Coimbra). 

1973 - Regresso (A Voz do Dono). 

1984 - Saudade (EMI). 

1994 - O Melhor de António Calvário (EMI). 

1996 - Oração (Caravela--EMI). 

1997 - Eu Canto Avé Maria (Strauss). 


sexta-feira, 1 de agosto de 2025

António Brojo

António Pinho de Brojo nasceu a 28 de Novembro de 1927, em Coimbra. Fez o liceu nesta cidade e licenciou-se na Escola Superior de Farmácia. Em 1950 concluiu, na Universidade do Porto, a licenciatura em Ciências Farmacêuticas, regressando a Coimbra para passar a exercer as funções de assistente na Faculdade de Farmácia, entretanto criada. De 1954 a 1958 preparou a tese de doutoramento na Universidade de Basileia, onde foi assistente, doutorando-se na Universidade do Porto em 1961. É professor catedrático da Faculdade de Farmácia de Coimbra. Foi vice-reitor da Universidade e é, atualmente (1996), presidente do Conselho Social da Universidade. António Brojo foi, também, o primeiro presidente da Assembleia Municipal de Coimbra, tendo sido candidato a deputado, pelo PS, às eleições legislativas de 1983. 

Iniciou-se na guitarra quando andava no liceu, em 1941, e teve como professores os guitarristas João Bagão, José Maria Amaral e Carvalho Homem, os quais acompanhou a partir de 1945. Foi contemporâneo dos cantores Augusto Camacho Vieira, Anarolino Fernandes, Alcides Santos, Alexandre Herculano e dos violas Aurélio Reis, Mário de Castro e Tavares de Melo, com os quais se iniciou o programa radiofónico «Serenata de Coimbra», emitido pelo Emissor Regional de Coimbra da ex-Emissora Nacional. A sua passagem pelo Porto ficou também assinalada pela sua colaboração com o orfeão universitário desta cidade e com guitarristas e cantores como Cunha Gomes, Viriato Santos, Aureliano Veloso (pai de Rui Veloso), Álvaro Andrade e Napoleão Amorim. 

Em 1951, de novo em Coimbra, constitui com Florêncio de Carvalho, José Afonso, Luiz Goes, Fernando Rolim, mais tarde, Machado Soares, e ainda com António Portugal, um grupo histórico que regista, em 1953, oito discos de 78 rotações por minuto, incluídos no primeiro volume da coletânea Fados e Guitarradas de Coimbra, editada pela Movieplay em 1996, e que constituem as primeiras gravações de todos os grandes nomes atrás citados, exceto Machado Soares, que gravou, pela primeira vez, em 1956. 

Em 1961 e depois de diversas viagens a África, Brasil e Goa, entre outras --- António Brojo desloca-se a Angola e Moçambique, integrado como professor num curso de férias. Em Lourenço Marques, no Rádio Clube de Moçambique, grava um EP, posteriormente editado pela etiqueta Alvorada, com Almeida Santos, Roxo Leão, Gabriel de Castro e Caseiro da Rocha. Desse disco foram selecionados para a coletânea duas variações em que é solista, «Balada de Coimbra» e «Variações em Lá Menor» e o fado «Lá Longe», cantado por Almeida Santos, então a advogar em Moçambique. 

Segue-se um período de sensível redução da sua atividade musical, entre 1967 e 1977, ano em que volta aos estúdios para gravar dois LP com José Mesquita. Com o regresso de António Portugal a Coimbra, depois de terminada a sua atividade de deputado na Assembleia da República, reconstitui-se o histórico grupo dos anos 50, agora naturalmente com novos cantores, como António Bernardino, Alfredo Correia, Luís Marinho (deputado europeu pelo PS - 1996) e José Mesquita, professor catedrático da Faculdade de Ciências. 

Os últimos anos, sempre integrado no grupo de que também faziam parte António Portugal, Aurélio Reis e Luís Filipe (nas violas), constituíram para o professor Brojo um período de intensa atividade musical, em Portugal e no estrangeiro, em programas de televisão e em gravações de discos. Em Junho de 1994, António Brojo viajou com António Portugal, António Bernardino e outros, até ao Oriente (Tailândia, Malásia). Foi a última digressão que realizou com o seu companheiro de sempre, António Portugal, falecido poucos dias depois do regresso a Portugal, a 26 de Junho de 1994. Os dois guitarristas preparavam - e tinham quase concluída - a gravação de dois LP de guitarradas, em que ambos são solistas. O disco acabaria por ser editado em 1994, pela EMI, precisamente com o título Variações Inacabadas. 

O professor António Brojo, com mais de 50 anos de guitarra, é talvez o maior «fundista» da maratona musical de Coimbra: ninguém, como ele, acompanhou tantas gerações de fadistas e guitarristas. Mas dos seus dedos, da sua sensibilidade, do seu gozo e do seu talento peculiar de tocar guitarra, virão ainda novas surpresas. António Brojo, já reformado da sua cátedra de Farmácia, continua e vai continuar ativo na sua outra cátedra, a da guitarra de Coimbra.