Os CTT surgiram em pleno "boom" do Rock Português, tentando cavalgar na onda de Rui Veloso, UHF e GNR.
Com origens no Conjunto Típico Torreense, de Torres Vedras, um grupo de baile, a banda decidiu colocar apenas as iniciais para se lançar no Rock Português.
Constituídos por Luís Plácido (voz), Augusto Alves (teclas), Tozé Monteiro (guitarra), Hernâni (aka Nani) Teixeira (baixo) e Gabriel Matos (bateria), os CTT lançaram, em 1981, o single "Destruição" (com "Vai No Ar", no lado B) que teve uma razoável aceitação do público.
Este era um grupo que já existia, ao contrário de muitos outros que se formaram de propósito para gravarem discos. Essa vantagem daria razões aos CTT para se manterem na crista da onda, mas tal não viria a suceder.
No final do ano de 1981 lançariam novo "single", desta vez com os temas "Hora de Ponta" e "A Moda Que Eu Quero".
As solicitações para concertos começaram a surgir e o autor deste artigo lembra-se de ver a banda ao vivo, fazendo a primeira parte das Girlschool, uma banda inglesa de Heavy Metal constituída apenas por raparigas. No concerto houve um incidente com a banda, quando os técnicos ingleses resolveram desligar a aparelhagem e os microfones à banda, tendo esta interrompido o concerto abruptamente.
Augusto Alves, que os restantes membros da banda chamam carinhosamente o "Sr. Augusto" por ser de muito mais idade que eles, colocava o som do órgão a sobressair entre aquela massa musical de maneira diferente do que faziam os restantes teclistas. Isso fazia com que os CTT tivessem um som próprio que os distinguia dos restantes grupos que pululavam por essa época.
Em 1982 editam o seu derradeiro testemunho musical, um LP intitulado "Oito Encomendas Discriminadas No Verso".
Produzido por António José de Almeida (baterista dos Heróis do Mar), este LP contém, tal como o título indica, 8 canções: "Ovni", "Em Terra De Cego...", "Ai Que Sina A Minha", "Uma Noite Passada", "É Bom", "Ilusão", "Há Uma Lei" e "Chapa Batida".
O "design" da capa é como uma encomenda dos Correios e está muito bem conseguido.
Apesar da produção de António José Almeida e de algumas das propostas musicais apresentadas no disco não serem de deitar fora, a banda não teve sucesso com este disco. Podem ouvir-se um bom vocalista, um bom baixista e o sempre presente som do órgão do Sr. Augusto a comandar as operações.
Os CTT continuariam, ainda, por mais dois ou três anos como banda de Rock, regressando, como grupo de baile (até 1994).
O Sr. Augusto tem uma empresa de promoção e produção de bandas e Nani Teixeira é o único que continua como músico profissional, fazendo parte da banda que acompanha Luís Represas.
Para a história do Rock Português ficam os CTT, como uma das bandas que não conseguiu singrar, depois de feita a "separação das águas". No entanto, como já foi referido, tratava-se de uma banda com propostas interessantes.
De carreira ainda mais curta [do que a de outros grupos da época] foram os CTT, designação que este grupo adoptou durante o período do "boom" sem querer renegar a origem de Conjunto Típico Torreense. Tinham também uma sonoridade pesada e foi com "Destruição, Destruição, Destruição" que entraram a matar nos tops nacionais. Vinham dos circuitos dos bailes, conheceram o mesmo sucesso rompante e fulminante, a mesma loucura de gravação contra-relógio. "Tinha-se pouco, pouquíssimo tempo de estúdio", recorda Luís Plácido, o ex-vocalista dos CTT: "Aquilo era entrar já com tudo muito bem ensaiado e toca a andar. Não havia tempo para experimentações em estúdio ou para testar fossem quais fossem as possibilidades". Ainda no mesmo ano de 1981, os CTT gravaram um álbum, "Oito Encomendas", mas já havia desencanto no ar.
O ex-baixista dos CTT, Nani Teixeira, de todos o único que ainda permanece como músico profissional", aponta que "viveu-se ali uma época de grande evolução, uma evolução de qualidade e de diversificação, mas em nome da qual foram justamente as bandas que abriram as portas do 'boom' do rock português que depois acabaram por pagar a factura". O líder do grupo, Augusto Alves, recorda que os CTT tinham "uma história muito diferente da maioria das bandas que apareceram naquela altura": "Já existíamos antes, já tocávamos todos juntos como Conjunto Típico Torreense muito antes de toda aquela loucura acontecer. Já tínhamos clientela antes, a certa altura fizemos aquilo, e depois regressámos ao público que tínhamos". Recusando-se a acreditar que os CTT tenham sido "um fenómeno de época balnear", o ex-baterista da banda, Gabriel Matos, afirma que os CTT "ainda continuaram mais uns anos, mas deixou-se de acreditar nas gravações". (...)
Augusto Alves, o "senhor Augusto", como a ele se referem os demais ex-elementos da banda, muito pela diferença de idades, mais ainda pelo respeito àquele que identificam como o "dono" do grupo, foi o homem que levou pela mão o Conjunto Típico Torreense dos bailaricos ao estatuto de banda roqueira, nos tempos do pioneirismo do rock cantado em português. E, se o Conjunto Típico Torreense dos bailes sobreviveu até 1994, os CTT que entraram nos tops dos inícios dos anos 80, a cantar "Destruição, Destruição, Destruição", já há muito tinham ficado para trás.
DISCOGRAFIA
Destruição/Vai No Ar (Single, Polygram, 1981)
Hora de Ponta/A Moda Que Eu Quero (Single, Polygram, 1982)
Oito Encomendas (LP, Polygram, 1982)
NO RASTO DE...
O baixista da banda, Tozé Monteiro, 44 anos, deixou o grupo por meados da década 80, por dificuldades de compatibilização com o trabalho que desempenha ainda nas Finanças de Torres Vedras. (Pública/99)
Luís Plácido, 40 anos, o vocalista que tocava guitarra como Jimmy Hendrix - com os dentes - é técnico de electrodomésticos e refrigeração e tomou em braços muito da programação cultural da colectividade da Caixaria, para os lados de Torres Vedras. (Pública/99)
O baterista, Gabriel Matos, 49 anos, foi desenhador, funcionário público, agora é decorador de interiores, mas continua teimosamente na música, com uma banda que roda pelos circuitos dos bares, a Banda Sonora, em que de vez em quando também alinha Tozé Monteiro. (Pública/99)
Hernâni Teixeira, 40 anos, dono e senhor dos solos de viola baixo nos CTT é, de todos, o único que permanece como músico profissional. Depois de uma busca de "refúgio" no Luxemburgo, porque só afastando-se conseguiria sair dos CTT, regressou a Portugal e tem acompanhado desde já há algum tempo Luís Represas. (Pública/99) Nani Teixieira também chegou a acompanhar Mafalda Veiga.
Augusto Alves tem uma empresa de produção e promoção de bandas.