Após o fim do grupo Corpo Diplomático, em Setembro de 1980, Pedro Ayres Magalhães recruta António José de Almeida (baterista dos Tantra) e Rui Pregal da Cunha para dar corpo a um novo projecto intitulado Heróis do Mar.
Continuavam com Pedro Ayres, vindos do Corpo Diplomático, Carlos Maria Trindade e Paulo Pedro Gonçalves.
Após vários meses de ensaios, os Heróis do Mar lançam o seu primeiro single em Agosto de 1981. Este disco continha os temas "Saudade" e "Brava Dança dos Heróis".
O grupo reflecte alguma estética nacionalista nas suas roupas e nas letras das canções. Houve, até, quem os acusasse de neofascistas ou neonazis.(1)
O seu LP de estreia contém os temas do single e outros como "Magia Papoila", por exemplo.
O seu estilo musical, de início, ainda que próximo de algumas fontes portuguesas ia beber ao fenómeno neo-romântico que despontava em Inglaterra capitaneado por grupos como os Spandau Ballet ou os Duran Duran.
Em Junho de 1982 é editado o máxi-single "O Amor"(2), o seu primeiro mega-sucesso comercial. Este disco conta, no lado B, com uma versão em que canta Né Ladeiras, artista com a qual os Heróis do Mar tinham gravado (enquanto músicos de estúdio) o LP "Alhur".
Em Agosto seguinte tocam na primeira parte do concerto dos King Crimson e dos Roxy Music, que os levam até Paris para actuarem na primeira parte da sua actuação em França.
O seu segundo disco "Mãe" tinha uma bela capa, mas apresentava fragilidades a nível das vocalizações de Rui Pregal e nenhuma canção deste disco se consegue impor com sucesso. Os temas de maior destaque são "Cachopa" e "Volta P'ra Mim".
O seu disco seguinte ("Paixão") obtém, finalmente, o êxito que tinha fugido com "Mãe" e leva a revista inglesa "The Face" a considerar os Heróis como o melhor grupo de Rock da Europa.(3)
Os músicos dos Heróis são os acompanhantes de António Variações no seu segundo disco "Dar & Receber", gravado em 1984.
Segue-se a edição do disco "O Rapto", [mini-álbum com 4 canções] que inclui "Supersticioso" e "Só Gosto de Ti". Os Heróis do Mar mudam de visual e apresentam-se com camisas rasgadas e tendo já muito pouco a ver com a sua estética nacionalista inicial.
Após lançarem no mercado outro single virado para as pistas de dança intitulado "Alegria" [lançado em Julho de 1985; no início do ano tinham lançado uma colectânea] e terem participado em espectáculos no país e no estrangeiro, partem para Macau onde ficam um mês.
As vivências de Macau transportam-nas para o seu novo disco, justamente intitulado "Macau", gravado nos Estúdios de Paço de Arcos da Valentim de Carvalho, com quem tinham firmado contrato após divergências com a editora inicial, a Polygram.
"Macau" [editado em Dezembro de 1986] é completamente diferente daquilo que os Heróis do Mar fizeram até então. Musicalmente muito mais avançados, os Heróis abandonam as suas vestimentas e deixam a música falar por si própria.
Deste disco, o tema "Fado" teria um relativo sucesso. Pedro Ayres estava já, por esta época, com os Madredeus, o que retirava algum tempo aos Heróis do Mar.
António José de Almeida abandona o grupo, em 1988, e já não participa na gravação do último disco chamado "Heróis do Mar"(4). A bateria é substituída por uma caixa de ritmos, nas gravações, e António Garcia (ex-Mler Ife Dada) é convidado para novo baterista. No entanto, ele não chegará a aquecer o lugar porque o grupo dá por terminadas as suas actividades, devido a diferentes opções dos seus elementos e a diferentes projectos onde, cada um, estava envolvido. (5)
O documentário sobre os Heróis do Mar, "Brava Dança", do jornalista Jorge P. Pires e do realizador José Pinheiro, estreou comercialmente em Abril de 2007. Na mesma altura foi editada a compilação "Amor" com temas gravados para a EMI e para a Polygram.
(0) Pedro Ayres Magalhães participou no último disco dos Tantra.
(1) «Houve gente nalguns meios de comunicação que não quis que as pessoas percebessem, apostada em confundir. Um movimento determinado a transformar os Heróis do Mar num ícone de um regresso da Direita, a associar-nos aos paraquedistas de Tancos, aos comandos do Jaime Neves e trinta por uma linha. Depois vim a saber onde é que isso foi combinado, porque foi efectivamente combinado, com votos a favor e votos contra. Durante pelo menos dois anos não conseguimos ir tocar a Sul de Setúbal, no Alentejo, porque éramos 'fascistas'. Chamaram-nos fascistas, a putos sem protecção nenhuma que apenas queriam reclamar uma herança histórica, numa altura em que nem na palavra 'pátria' se podia falar. Lançavam-nos: 'Querem é a herança do Salazar!', quando o que pretendíamos era a criação de um showbiz civilizado. Fazíamos tudo como uma companhia de ciganos independente.» PAM
(2) «O "Amor" foi feito em 22 minutos. Entrámos na sala de ensaio e decidimos fazer um 'funkalão' que fosse um êxito para calar toda a gente com aquela história do fascismo. Não é fácil. Na altura o Miguel Esteves Cardoso escreveu que tínhamos feito a coisa mais complicada que qualquer artista podia fazer: uma música comercial e boa» RPC. Primeiro disco de platina português.
A resposta à pergunta engraçadíssima do Paulo Pedro Gonçalves (colocada no meu primeiro encontro com os elementos da banda, à mesa do Califa) foi gravada, 2 meses depois (11/06/82 ) no Máxi-Single Amor. No lado A acompanhava o Rui Pregal da Cunha em uníssono até à 2ª voz "trocam doçuras/trocam delícias". Na versão nocturna (B) ficou a minha voz a solar até ao refrão.Eles tinham uma energia, tanto em estúdio como ao vivo, contagiante. Da introversão de Alhur veio a minha resposta tão espontânea quanto a pergunta do Pedro Paulo Gonçalves: “Tens alguma coisa contra a música de dança?” “Ó aaaaaaaaaaamor não me mataste o desejo” o refrão mais ouvido e dançado no Verão de 82. (Né Ladeiras/blog)
(3) «Embora tivéssemos sido considerados uma das dez melhores bandas da Europa, pela "The Face" e pela "Rock & Folk", e a "Actuel" nos tivesse considerado uma das cem melhores ideias da década, o certo é que, por cá, nunca tivemos nenhum dinheiro nem apoio, nem para a casa, nem para o carro, nem para as contas nem para nada... Foram muitos anos de uma vida difícil». PAM
(4) «Não encontrámos nenhum título que nos satisfazesse e qualquer outro nome só iria parecer artificial. plástico.» CMT
(5) Dão o último concerto em Outubro de 1989.
DISCOGRAFIA
Heróis do Mar (LP, Polygram, 1981)
Mãe (LP, Polygram, 1983)
O Rapto (Mini-LP, Polygram,1984)
A Lenda dos Heróis do Mar (1981-1984) (Compilação, EMI,1985)
Macau (LP, EMI, 1986)
Heróis do Mar IV (LP, EMI, 1988)
Heróis do Mar Vol. 1 (1981-1982) (Compilação, Polygram, 1992)
Heróis do Mar Vol. 2 (1982-1986) (Compilação, Polygram, 1992)
Paixão (Compilação, Universal, 2001)
Amor (Compilação, EMI, 2007)
SINGLES
Saudade/Brava Dança dos Heróis (Single, Polygram, 1981)
Amor (Partes I e II)/Amor (versão Nocturna) (Máxi, Polygram, 1982)
Amor (Parte I)/Amor (Parte II) (Single, Polygram, 1982)
Paixão (Máxi, Polygram, 1983)
Paixão/Cachopa (Versão Nova) (Single, Polygram, 1983)
Alegria/A Glória do Mundo (Single, Polygram, 1985)
Alegria/A Glória do Mundo/Castelo de S. Jorge (Máxi, Polygram, 1985)
Mad Mix / Fun Mix (remisturas de Adriano Remix) (Máxi, Polygram, 1986) 4
Fado/Fado (Versão a Guitarra) (Single, EMI, 1986)
Só No Mar/Os Canhões da Belavista (Single, EMI, 1987)
O Inventor (Máxi, EMI, 1987)
O Inventor/Homenagem (single, EMI, 1987)
Eu Quero (Mistura Possessiva)/Rossio/Eu Quero (Máxi, EMI, 1988)
Africana/Eu Não Mereci/D.F.S. (Máxi, EMI, 1989)
Paixão (Single, Universal, 2001)
COMPILAÇÕES SE
O Melhor de 2 - Heróis do Mar/Afonsinhos do Condado (Compilação, Universal, 2001)
colectâneas
Portugal Remix (2005) -
O single "Amor (Hap Hap Happy Day)/Pasión", edição limitada a 2000 exemplares, foi oferecido com o MEP 12" Philips 880079-1 (1984).
O CD single "Paixão", de 2001, inclui a versão longa de Paixão (editada em 1983) e duas remisturas de 1986 da autoria de Adriano Remix.
Os elementos do grupo lançaram alguns discos a solo: Carlos Maria Trindade lançou o single "Princesa/Em Campo Aberto" (Vimúsica, 1982). Toda a edição do álbum "Tédio" foi destruída devido à falência da editora; Paulo Pedro Gonçalves lançou "Rapazes de Lisboa" (FA, 1984) e Paulo Ayres Magalhães lançou o máxi "Ocidental Infernal" (FA, 1985) que seria o primeiro de cinco discos instrumentais.
COMENTÁRIOS
«Depois do fim do Corpo Diplomático, eu, o Pedro e o Carlos Maria estávamos completamente desiludidos e eu lembro-me de ter encontrado o Pedro no Cais do Sodré e lhe ter dito 'Acho que é altura de fazermos um grupo português, que tenha a ver com Portugal'. Nasceram ai os Heróis do Mar e aquela pose toda do primeiro disco...» PPG/Blitz
«Havia ministérios dentro do grupo. O Rui Cunha era o cérebro da imagem. Ele e o Paulo eram os cérebros da roupa e da animação 'anglo-americana'. O Tó Zé, com a experiência que trazia dos Tantra, era um génio da organização de concertos num país onde não havia produção de concertos. O Carlos Maria era um génio da música, como ainda hoje é. Eu tinha a determinação, uma permanente disponibilidade, estava lá quando não estava mais ninguém. Eu talvez fosse apenas a personificação de um serviço aquela organização». PAM/Público
(...) Inclusivamente já conhecia algumas das músicas dos Madredeus porque elas já tinham sido apresentadas na última fase dos Heróis do Mar. Nunca chegaram a sair. É um disco que está escrito e não saiu. Não saiu nunca. Seria o quinto LP, mas não chegou a sair porque o grupo seguiu caminhos diferentes. (...) quando se muda de projecto, algumas coisas vão para o projecto seguinte. Muitas coisas do Corpo Diplomático foram para os Heróis do Mar. Pelo menos três ou quatro músicas do primeiro LP estiveram nos Corpo Diplomático, com aquele formato quase, com outro nome, filosofia e estética. CMT/Blitz
Com a rotina, sentia-me a nível criativo muito limitado e achei que podia aplicar a criatividade noutra área. Tirei o curso de percussão, no Conservatório, e também estudei flauta. Isso ajudou-me imenso numa montagem, porque os ritmos são iguais. São artes que parecem distantes, mas não o são. (...)Desde que decidi que estava farto, nunca mais me sentei à bateria. Tinha uma, transparente e a única que havia em Portugal. Foi para o Kalú dos "Xutos", que tocou nela durante anos. AJA/JN 16.06.2006
NO RASTO DE...
Pedro Ayres Magalhães foi o fundador e principal mentor dos Madredeus e Resistência. Chegou também a tocar com os Delfins.
Pedro Paulo Gonçalves e Rui Pregal da Cunha fundaram os LX-90, que editaram o álbum "1 Revolução por Minuto", tendo posteriormente emigrado para Inglaterra e alterado o nome para Kick Out of The Jams (lançaram o disco "Santo António em Lisboa").
Carlos Maria Trindade editou os álbuns "Mr. Wollogallu" (1991) e "Deep Travel" (1996). Em 2006 lançou o disco do projecto No Data. Foi A&R da Polygram tendo saído para substituir Rodrigo Leão nos Madredeus. Produziu discos de Rádio Macau, Delfins, Xutos, Issabary ou Paulo Bragança. Mais recentemente produziu discos de Santos & Pecadores e Mariza, entre outros.
O baterista Tó Zé Almeida foi de todos o primeiro a deixar os Heróis do Mar, em 1987, para se dedicar a tempo inteiro à Panavídeo, empresa de produção publicitária e televisiva da qual é um dos proprietários, tendo-se afastado desde então da actividade musical. (Pública/99)
Paulo Pedro Gonçalves abriu, em Londres, um atelier/loja a que chamou Pavement. Ele e a mulher Andreia dedicaram-se a criar roupa a partir de roupa ("customizar"). Vestiram nomes como David Bowie e Blur. Também fizeram peças para o filme "Velvet Goldmine". PPG lançou um disco com o projecto Ovelha Negra. Mais recentemente regressaram a Portugal onde abriram a Loja Crucifixo (Lisboa).
Rui Pregal da Cunha tem um projecto de DJ denominado Bradoral. Participou num programa da TVI onde cantou com o actor José Wallenstein. Um dos temas foi uma interessante versão de "A Glória do Mundo". Colaborou em disco com Homem Invisivel (2000) e com os Golpes (2010) e em concertos com Delfins, José Cid ou Nouvelle Vague.
Informação retirada daqui
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