Nasce em Moçambique. O seu pai, um escrivão judicial, estimula as filhas para a descoberta das artes. É também um apaixonado por música e um fã de world antes do tempo: em casa de Amélia ouve-se Brassens, música esquimó, coros búlgaros, etc. Numa entrevista de 1994, Amélia comparará a sua música à atividade «de um escultor esquimó que trabalha a pedra por acreditar que há nela uma forma escondida».
1960 - Ao lado da irmã, Teresa, estreia-se na rádio de Lourenço Marques, hoje Maputo. Participa em espetáculos num cinema local que era conhecido como "O Foguetão", por existir uma réplica de um foguetão em palco.
1964 - Aos onze anos, é aluna de um professor que a marcará para toda a vida: José Afonso.
1967 - Vem a Portugal com o pai e, sempre com a irmã, grava um EP com composições originais. Gravou também um single em Moçambique. Pelo caminho, estuda piano durante dois anos. Toca guitarra desde os 13 anos.
1975 - A independência transforma a vida da cantora, que desenvolve uma intensa atividade cultural e pedagógica junto das populações do país. Formada em História na Universidade de Maputo, onde tira uma pós-graduação em Ciências da Educação, lecionará em ambas as áreas na universidade. Continua a compor de forma constante, musicando poetas como Camões, Pessoa, Drummond de Andrade, Ramos Rosa, Muti-mati ou Grabato Dias.
1978 - Grava algumas das suas canções em Lisboa mas o disco nunca viu a luz do dia. Grava ainda um programa para a RTP.
1980 - Atua num recital para convidados na Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), em Lisboa, onde pede ao público o favor de não aplaudir. Grabato Dias (António Quadros) acompanha-a. O repertório ouvido insere-se «num trabalho de pesquisa ligado à educação e aos seus problemas», declara então a "O Diário". Em Moçambique, acrescenta à sua atividade académica um trabalho de quatro anos num instituto para o aproveitamento da natureza.
1987 - Vem para Portugal onde prossegue a mesma atividade multifacetada que desenvolvia em Moçambique. Participa em múltiplos projetos na área da formação e do apoio ao emprego. Faz estudos de desenho e na área do audiovisual na AR.CO e na Gulbenkian, edita o livro Muipiti e duas obras para crianças. Na música, integra o grupo de Júlio Pereira.
1989 - A banda sonora da peça de teatro infantil "Caminhos Encobertos, Marzinhos Descobertos" é premiada como a melhor do ano nesta área, na qual Amélia Muge realizou diversos trabalhos.
1990 - Adere à União Portuguesa de Artistas de Variedades (UPAV) e multiplica os espetáculos a solo por todo o País.
1991 - Após anos e anos de atividade regular nos domínios do canto e da composição (o seu acervo será composto por mais de 600 canções), Amélia Muge grava enfim, na UPAV, o seu primeiro álbum de originais. Produzido pelo seu companheiro, António José Martins, "Múgica" conhece o aplauso geral da crítica. João Lisboa, no Expresso, compara-o às obras máximas de Zeca Afonso, José Mário Branco e Sérgio Godinho. Quase aos 40 anos, Amélia Muge começa realmente a sua carreira. O álbum é promovido por um EP que inclui, entre outros, «Em Mértola», escrito por Amélia em parceria com a irmã Teresa. "Múgica" é também o disco de afirmação de uma autora. No universo da música popular portuguesa, Amélia Muge é a primeira voz feminina que se assume como compositora. Além de escrever parte das letras das canções, a sua abordagem de textos poéticos de grandes autores é extremamente pessoal. No álbum apresenta ainda o resultado de uma visão muito própria da tradição musical portuguesa, que ela própria tende a classificar como «em construção». Para todos os efeitos, um olhar simultaneamente de dentro e de fora que, associado à sua formação e prática multi-disciplinar, ajuda a entender a originalidade do seu trabalho.
1992 - Ano muito ativo em termos de concertos. Atua no «Lisboa, Tejo e Tudo», no âmbito da Presidência Aberta de Mário Soares, toca em Paris e faz uma digressão de 13 espetáculos em universidades.
1994 - Em Janeiro, Amélia Muge apresenta 22 temas inéditos ao longo de três noites no Instituto Franco-Português, com António José Martins e Luís Sá Pessoa em palco. 1994 é também o ano da edição do seu segundo trabalho em disco, "Todos os Dias", sempre com o ex-Trovante António José Martins, mas agora já editado pela multinacional Sony.
1995 - Com José Mário Branco e João Afonso, sobrinho de Zeca, Amélia grava "Maio Maduro Maio" (Sony), disco de homenagem ao nome histórico da música portuguesa que fora também professor da cantora três décadas antes. E a homenagem a José Afonso feita dentro do universo da própria música popular portuguesa, um pouco em resposta à polémica abordagem de "Filhos da Madrugada" no ano anterior. Inteiramente composto por canções de Zeca Afonso e fortemente marcado pela presença do homem que em 1971 produzira "Cantigas do Maio", o disco é considerado o melhor do ano na MPP, sucedendo a Traz os Montes, de Né Ladeiras, ganhando o Prémio José Afonso, instituído pela Câmara Municipal da Amadora.

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