Páginas

domingo, 28 de setembro de 2025

António Variações - Parte 1

Com 12 anos, António Joaquim Rodrigues Ribeiro abandona a sua aldeia natal, no Minho (na região de Braga), com uma mala de papelão e madeira (tal como descreve na canção «Olhei para Trás», do álbum de 1984 "Dar e Receber"). Filho de camponeses minhotos, já em pequeno expressava a sua paixão pela música, preferindo as romarias e o folclore aos trabalhos que lhe eram pedidos pelos pais. 

Em miúdo, recordará muitas vezes em entrevistas, passou vergonhas ao ser apanhado frente a um espelho, a trautear umas canções. 

1975 - Empregado de escritório em Lisboa, viaja até Londres, cidade onde se mantém durante um ano. Para ganhar dinheiro trabalha num colégio. Mais tarde confessa ter tido pena de, por a idade não lhe ser favorável, não ter ainda a sensibilidade para apreciar e explorar convenientemente a cidade. 

1976 - Regressa a Lisboa para, pouco depois, partir de novo, desta feita para Amesterdão, onde, durante um ano, aprende o oficio de cabeleireiro. 

1977 - De regresso a Lisboa abre, num centro comercial, o primeiro cabeleireiro unissexo da capital. Pouco depois, muda-se para um outro centro comercial e, alguns meses mais tarde, cansado do snobismo e das vaidades de muitos, regressa às origens, abrindo uma barbearia numa rua da Baixa lisboeta. Começa a desenvolver um visual diferente e bastante personalizado que privilegia cores, formas originais e alguns elementos de adorno como, por exemplo, brincos. Um dia, na Baixa, de encontro a duas senhoras, ouve a exclamação «Ai meu Deus, uma mulher com barba!» conta em en-trevista a "A Capital" em 1983. 

1978 - Muito antes da edição do seu primeiro single, grava uma maqueta com algumas canções, que apresenta à editora Valentim de Carvalho, com a qual virá a assinar contrato. Contudo, terá de esperar quase quatro anos para poder lançar o seu primeiro disco; a descrição dos arranjos pretendidos para a sua música, que define «entre Braga e Nova Iorque», cria alguma confusão no pessoal da editora. Além disso, a maior parte dos temas apresentados em maqueta não passam de esboços de música e letra, gravados numa cassete caseira apenas com a voz do cantor. Durante o período de espera, é posto em contacto com dois A&R da companhia, Mário Martins e Nuno Rodrigues, cada qual com ideias diametralmente opostas quanto ao caminho que Variações deveria tomar; o primeiro apontava essencialmente um repertório folclórico, o que não chegou a acontecer, enquanto o segundo preferiu dirigi-lo para áreas mais próximas do rock. 

1980 - O jornalista Luís Vitta, que cortava o cabelo na barbearia onde António trabalhava, leva os seus colegas do programa da Rádio Renascença «Meia de Rock», Rui Pêgo e António Duarte, a contactar com o músico, que ainda não vislumbrava a edição do primeiro disco. 


Nenhum comentário: