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segunda-feira, 11 de agosto de 2025

António Mourão

 

António Manuel Dias Pequerrucho é o verdadeiro nome de António Mourão que viu a luz do dia, na vila do Montijo, a 3 de Junho de 1936. Foi dos poucos fadistas que trouxe para o fado, além de uma voz de belo timbre e extensão, um estilo sóbrio mas original de um dramatismo que, no início, era quase soluçante mas que, a pouco e pouco, devido à maturidade adquirida, se tornou versátil, ao ponto de estar tão à vontade no fado-canção como no folclore, ou até nas músicas inspiradas, mas profundas, de Alain Oulman e muito seguro, bom intérprete da poesia de Ary dos Santos, de Fernando Pessoa ou António Aleixo. 

Estreou-se na "Parreirinha de Alfama", mas passado pouco tempo, ao aceitar um convite para integrar, como atração nacional, o elenco da revista "E Viva o Velho", em 1965, no Teatro Maria Vitória, teve a rara oportunidade de cantar um fado de Eduardo Damas e Manuel Paião, que foi dos maiores sucessos que alguma vez saiu do Parque Mayer e é hoje um dos clássicos da música portuguesa, o sempre lembrado «Ó Tempo Volta para Trás». O sucesso foi tão grande que o público se deslocava propositadamente ao teatro para escutar este número na voz do seu criador que, entretanto, se situava já no primeiro lugar de vendas de discos no País. 

Dotado de uma excelente presença em cena, António Mourão foi várias vezes convidado como atração do teatro de revista, onde deixou bem marcadas as suas intervenções que sempre se traduziram em sucessos. Detentor de vários troféus e prémios de imprensa e da crítica, António Mourão, além dos espetáculos no continente é, ainda hoje, um incansável viajante, a convite das comunidades portuguesas
repartidas pelos quatro cantos do mundo.


DISCOGRAFIA: 
1968 - E Sempre Sucesso (LP, Decca).
1969 - Os Últimos Êxitos de António Mourão (LP, Decca).
1970 - Folclore das Provincias (LP, Decca). 
1971 - Meu Amor. Meu Amor (LP, Decca). 
1972 - Folclore (LP, Decca).
1973 - Se Quiseres Ouvir Cantar (LP, Decca). 
1974 - Fado e Folclore (LP, Decca). 
1975 - Pregão de Liberdade (LP, Decca). 
1976 - Cantigas Que a Gente Gosta (LP, Decca). 
1977 - Fado e Folclore 2 (LP, Decca). 
1978 - Canta o Amor (LP, Decca); O Nosso Folclore (LP, Decca).
1980 - Canto e Recanto (LP, Decca). 
1987 - Sucessos Populares (LP, Polydor). 
1992 - Temas de Ouro da Música Portuguesa (CD, Polydor). 
1994 - O Melhor dos Melhores(CD, Movieplay). 



sábado, 9 de agosto de 2025

António Menano

1895 - Nasce, a 5 de Maio, em Fornos de Algodres, na Serra da Estrela. 

1915 

- Mar. Já matriculado em Medicina, na Universidade de Coimbra, António Menano estreia-se em público num sarau organizado pela Associação Académica de Coimbra, com a participação da Tuna Académica e do Orfeão Académico. A reorganização que o orfeão sofre sob o Dr. Elias de Aguiar leva a que Menano seja nomeado solista e ensaiador do naipe dos primeiros tenores, passando igualmente a cantor «titular» de fados e canções nos espectáculos do orfeão. 

- Jun. (10) - Atua na festa de homenagem a Camões promovida pelos alunos do Liceu José Falcão, interpretando, em vez dos tradicionais fados de Coimbra, um trecho de "Os Lusíadas" musicado pelo Dr. Elias de Aguiar. Ainda neste ano, é publicada pela Livraria Neves a primeira edição musical com fados de autoria atribuída a António Menano, "Os Três Mais Lindos Fados de Coimbra". 

1918

- Abr. (29) - Manuel da Silva Gaio, secretário da Universidade de Coimbra, publica na revista "Ilustração Portugueza" um artigo rogando aos estudantes que não cantem fados de Coimbra mas sim cantigas populares. Este período coincide com um abandono por parte de António Menano dos fados de Coimbra, em favor de canções acompanhadas ao piano. 

- Jun. Conduzido à direção do Orfeão Académico, Menano atua nas Fogueiras de S. João interpretando novamente canções populares. 

1919 

- Dez. Organiza no Teatro Avenida, em nome da Associação Académica de Coimbra, um sarau musical cujo programa não inclui um único fado ou guitarrada. Pouco depois, uma proibição oficial de realização de serenatas acabará por ter o efeito oposto, provocando uma revitalização do género. 

1923 

- Abr. Já casado mas ainda não formado, participa na digressão do Orfeão e da Tuna Académica a Espanha, atuando em Salamanca, Madrid e Valladolid. Em Madrid, atua perante os reis de Espanha, acompanhado por Paulo de Sá e pelo seu irmão Alberto Menano, com tal sucesso que se vê forçado a fazer vários encores. 

1924 

- Jun. Atua em França integrado no Orfeão Académico, passando por Paris, Toulouse, Bordéus e Bayonne, cantando fados com Agostinho Fontes e acompanhado à guitarra por Artur Paredes. 

1925 

Conclui o curso de Medicina e passa a exercer clínica em Fornos de Algodres, a sua terra natal. 

1927 

Chega a acordo com a editora fonográfica parisiense Odeon para gravar em disco os seus fados de Coimbra. Menano gravará até 1929 várias dezenas de fados e canções que, publicados em 78 rpm, lhe granjearão grande popularidade e sucesso comercial. 

1929

É convidado pela Academia de Coimbra para integrar a Embaixada Artística enviada para atuar no festival oferecido aos reis de Espanha na inauguração do Pavilhão de Portugal da Exposição Ibero-Americana de Sevilha, composta ainda por Artur Paredes, Afonso de Sousa e Guilherme Barbosa. 

1933 

Parte para Moçambique para aí exercer clínica, abandonando a carreira artística. 

1956 

- Out. (22) Durante uma passagem por Lisboa, Menano dá um recital único no Instituto Superior de Agronomia, na Tapada da Ajuda, que apenas começa às duas horas da manhã e ficou lendário. 

1961

Regressa definitivamente a Lisboa. 

1967

 - (24) Atua nas escadarias da Sé Velha, em Coimbra, por ocasião da Serenata Monumental da reunião do Curso Jurídico de 1907-1912, do qual fazia parte o seu irmão Francisco Menano. 

Dez. 

(16) Faz a sua última apresentação pública, interpretando duas canções na inauguração da Galeria Rodin, em Lisboa. 

1969 

António Menano morre, a 11 de Setembro, na sua casa de Lisboa. 

1985 

Com o apoio da Secretaria de Estado da Cultura, a EMI-Valentim de Carvalho publica um duplo álbum que reúne 24 das mais conhecidas gravações de Menano, editadas pela primeira vez em LP. O sucesso obtido por este disco leva à edição, alguns meses depois, de um segundo volume. 

1995 

Ago. - É editada em Portugal uma compilação realizada pela firma macaense Tradisom para a sua série Arquivos do Fado, compilada à revelia dos herdeiros do cantor a partir de discos de 78 rpm. 

Set. - E publicado pela EMI-Valentim de Carvalho o primeiro de três CD retrospetivos realizados a partir da coleção particular de 78 rpm do Eng.° Nuno Menano, filho do cantor, transferidos para DAT nos estúdios de Abbey Road, em Londres, e tratados com o sistema de restauro digital CEDAR Audio Restoration. O segundo volume é publicado no Natal de 1995, e o terceiro no Outono de 1996. 

DISCOGRAFIA: 

1985 - Fados de Coimbra (LP, EMI). 

1986 - Fados de Coimbra, vol. II (LP, EMI). 

1995 - Arquivos do Fado (CD, Tradisom); Fados (CD, Odeon); Fados, vol. II (CD, Odeon). 

1996 - Canções (CD, Odeon). 


quinta-feira, 7 de agosto de 2025

António Macedo

 «Erguer a Voz e Cantar» e o «Casamento da Menina Manuela» são os dois grandes êxitos da carreira de António Macedo, um dos primeiros a integrar a chamada Nova Música Portuguesa ao lado de nomes como os de Manuel Freire, Fausto e Filarmónica Fraude. Nascido no Porto em 1946, António Inácio Reis de Macedo iniciou a carreira musical nos convívios dos bares das faculdades em Lisboa, nomeadamente na de Letras, onde tirava o curso de Germânicas. «Erguer a Voz e Cantar» tornou-se numa espécie de hino da juventude universitária enquanto «O Casamento da Menina Manuela» o revelou como um crítico da sociedade, ao estilo da Filarmónica Fraude («Flor de Laranjeira» e «Animais de Estimação»). 

terça-feira, 5 de agosto de 2025

António Emiliano

Nasce em Lisboa, onde continua a viver. É casado e tem dois filhos. Iniciou os seus estudos musicais aos quatro anos, com Raquel Simões. Estudou violoncelo, piano e música na Fundação Musical dos Amigos das Crianças. Prosseguiu os estudos de piano com Campos Coelho e estudou órgão com Gerhard Dohderer. 

1976 - Aos 17 anos, interrompe os estudos musicais. Fará, no entanto, uma carreira académica na área da linguística. Licencia-se em Línguas e Literaturas Modernas na Faculdade de Letras de Lisboa, onde faz o mestrado em Linguística Portuguesa. Posteriormente, será convidado para professor assistente e investigador do Departamento de Linguística da Universidade Nova. No início dos anos 90, prepara um doutoramento em Linguística. Numa entrevista a João Botelho da Silva, do Diário de Notícias, em 1991, diz temer «o dia em que tenha de fazer uma opção radical» entre a música e a universidade. 

1979 - Inicia a atividade de produtor e músico de estúdio que manterá durante oito anos. Dessa parte da sua atividade recordará «bons momentos» vividos em estúdio com Né Ladeiras ou José Mário Branco, e maus, como as gravações com Dino Meira, Marco Paulo e o Trio Odemira. «Aquilo era para rir ou para vomitar», disse na mesma entrevista. 

1983 - Assina a direção musical do espetáculo «Alana», de Anamar, produzido por Manuel Reis. Num campo radicalmente oposto, surge a sua primeira colaboração com Herman José, ao co-dirigir musicalmente, com Ramón Galarza, a série «O Tal Canal». 

1984 - Novo trabalho com Anamar e Manuel Reis, do Frágil, no espetáculo «Coproduction». Prossegue também a colaboração com Herman na RTP, de novo com Ramón Galarza, na série de programas «Hermanias». Ainda com Manuel Reis, realiza a sua primeira colaboração com o cantor de ópera Luís Madureira. É o espetáculo «Boite à Musique», concebido pelo recentemente desaparecido José Ribeiro da Fonte e baseado num repertório de canções francesas. O espetáculo será reposto em Viseu por Ricardo Pais, então a trabalhar na cidade beirã. É a primeira colaboração de António Emiliano e Ricardo Pais. Mais tarde, o compositor afirmou que o encenador foi decisivo para o levar a trocar a produção pela composição. No balanço de um ano já bem mais intenso do que o anterior surge a produção de «Em Pessoa», um disco de José Campos e Sousa sobre poemas do autor da «Mensagem», editado pela Rádio Triunfo. 

1985 - É o ano de viragem no percurso de António Emiliano, cuja estreia como compositor o catapulta automaticamente para o reconhecimento público. A chave da viragem é o espetáculo «Teatro de Enormidades apenas Criveis à Luz Elétrica», cuja autoria é dividida pelo encenador Ricardo Pais, a coreógrafa Olga Roriz, o cantor Luís Madureira e pelo próprio Emiliano. Concebido a partir de textos de Aquilino Ribeiro, o espetáculo é co-produzido pela Área Urbana/Viseu, de Ricardo Pais, e pelo ACARTE, tendo a estreia decorrido em Viseu, em Setembro. O espectáculo valeu a Emiliano o Prémio da Critica para a Melhor Música de Teatro. Executada pelo próprio músico em palco, a música de «Enormidades...» criava uma envolvência poderosa e revelava uma voz absolutamente original e distinta do que o panorama erudito então oferecia em Portugal. 

1986 - Estreia na música para bailado em Espaço Vazio, de Olga Roriz, na Gulbenkian e no cinema, ao compor as bandas sonoras de Repórter X (João Nascimento) e do primeiro filme de Joaquim Leitão, De "Uma Vez por Todas". Participa ainda nesse ano em «Na Vida Real», de Sérgio Godinho. 

1987 - Recebe pela segunda vez o Prémio da Crítica para a Melhor Música de Teatro, desta vez com Anatol, de Arthur Scnitzler, encenada por Ricardo Pais no início da passagem do encenador pela direção do D. Maria II. Nova colaboração com Olga Roriz, Treze Gestos para Um Corpo e com Luís Madureira e Ribeiro da Fonte, em «Le Samedi Soir à Paris», produzido para o Festival dos Capuchos. A sua carreira como produtor discográfico e músico de estúdio chega ao fim com as participações em «Aguaceiro», de Lena D'Água e «Negro Fado», de Vitorino. 

1988 - Compõe a música para o bailado Galvoreh, de Gagik Ismailan, na Gulbenkian. É, o primeiro trabalho original de António Emiliano que conhecerá posterior edição discográfica (1989, Nuno Rodrigues/Transmédia). Assina a sua terceira banda sonora para longas metragens em "A Mulher do Próximo", de Fonseca e Costa. Escreve ainda a música da curta-metragem para televisão "Voltar", de Joaquim Leitão. 

1989 - Reencontra Ricardo Pais no Teatro D. Maria para compor a música de Fausto, Fernando, Fragmentos, espetáculo realizado sobre um texto incompleto de Pessoa, com versão e dramaturgia de António Ribeiro. A música de Fausto, Fernando, Fragmentos será editada este ano em disco, de novo por Nuno Rodrigues, na Transmédia. O trabalho de Emiliano é distinguido com o Prémio Garrett especial de música, atribuído pela Secretaria de Estado da Cultura. Os dois discos do compositor são distinguidos com o Sele de Ouro para a música instrumental contemporânea. As bandas sonoras de "Repórter X" e "De Uma Vez por Todas" são também premiadas, nesse ano, com o Prémio de Música do Instituto Português de Cinema. Mantém a produção no bailado (Ad Vitam, de Paulo Ribeiro) e faz uma breve incursão na publicidade, com a campanha de rádio e televisão de "O Independente", premiada com uma menção honrosa da RTC. 

1990 - Nova banda sonora para José Fonseca e Costa, em "Os Cornos de Cronos" e novos trabalhos para curtas-metragens televisivas de Joaquim Leitão (The Island e The Ransom). Na dança, é a vez de Estranhezas, com coreografia de Paula Massano, uma encomenda do ACARTE. 

1991 - De novo o cinema e o bailado, uma vez mais Joaquim Leitão, que confia a Emiliano a banda sonora da longa-metragem "Até ao Fim". Volta a trabalhar com Olga Roriz em "Cavaleiros da Noite". Retoma também o trabalho com Ricardo Pais e António Ribeiro para uma versão de Amor de Perdição, integrado na Europália, em Bruxelas. Música sem «atonalismos, pós-serialismos e arritmias», apenas «uma música profundamente nostálgica», foi a forma como descreveu esse trabalho.