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domingo, 5 de outubro de 2025

António Sala

 


1949 - António Manuel Sala Mira Gomes, nasce em Vilar de Andorinha, Vila Nova de Gaia, a 14 de Janeiro. Vem para Lisboa ainda miúdo e instala-se com a mãe numa casa antiga. É no piano existente a um canto da casa que António aprende a tocar as melodias que ouve na rádio. 

1960 - Compõe a sua primeira canção, «Sereia», que nunca chegou a gravar. 

1965 - Compõe «Recordação de Amor» que consegue convencer Shegundo Galarza a ouvir. Pouco depois, o famoso orquestrador grava a canção com a cantora madeirense Cecília Cardoso. 

1966 - Forma os Fachos, conjunto pop «yé-yé» cujo repertório inclui essencialmente versões de sucessos dos Shadows e dois ou três temas originais. Forma os Argonautas, conjunto mais virado para o rock'n'roll de Bill Haley e Elvis Presley. Entretanto, começa a trabalhar na Rádio Graça, dos Emissores Associados de Lisboa, como técnico de som. No final da década de 60, profissionaliza-se como realizador e locutor a tempo inteiro apresentando, diariamente, entre as 6 e as 8 horas da manhã o programa «Olá como Estão». 

1969 - Participa em coros de Igreja, onde canta temas gospel e forma, com mais oito dos elementos do coro de 60 pessoas que integra, o grupo Maranata. Reduzida a seis elementos, a formação definitiva dos Maranata inclui Miguel Baião, Miriam Selembier, Salete, Enoque, António Sala e Elizabete com quem António casará dois anos depois. Ainda em 1969, os Maranata gravam para a Musicord o seu primeiro disco - uma versão do espiritual negro He's Ever'thing to Me. 

1971 - "Vem e Canta" é o titulo do primeiro álbum dos Maranata. 

1975 - Começa a apresentar na Rádiodifusão Portuguesa, RDP, o «Programa da Manhã». Depois de ter actuado várias vezes na televisão como cantor, António Sala estreia-se como apresentador de televisão no programa «Música Maestro» do 2.° canal. Este programa assinala o início de uma carreira na RTP que incluirá a apresentação de programas como «Ou Vai ou Taxa», «Foguete», «Você Decide», «Palavra Puxa Palavra», «Quem é o Quê» e «1, 2, 3». Em simultâneo com a sua participação nos Maranata, António Sala inicia uma carreira musical a solo com a edição do single «Recado de Telex». 

1977 - Os Maranata lançam o álbum "Cores da Música". 

1978 - António Sala estreia-se na Rádio Renascença diariamente entre as 10 e as 12 horas com o programa «Nem mais nem menos». 

1979 - Assina com Vasco de Lima Couto um dos maiores sucessos de música portuguesa deste ano «Zé Brasileiro Português de Braga» interpretado por Alexandra. Como compositor, António Sala continua a escrever, nos anos que se seguem, muitas vezes sob o pseudónimo de Manuel Bernardo, alguns dos maiores sucessos de cantores como Alexandra, Rodrigo, Clemente, Ana, Sérgio e Madi, Simone, Cidália Moreira, José Malhoa e Nuno Henrique. Afastando-se um pouco das adaptações de clássicos, Bach e Mozart, com secções rítmicas, os Maranata começam este ano a gravar músicas originais de António Sala e Miguel Baião quase sempre para poemas de Vasco de Lima Couto. "A Velha Estrada" é o primeiro original dos Maranata a conseguir um Disco de Prata, galardão que voltarão a receber pelas vendas do single «Aleluia» - a versão portuguesa do tema israelita que vencera nesse ano o Festival da Canção. Ainda em 1979, António Sala começa a apresentar e realizar todas as manhãs, entre as 7 e as 10 horas, na Rádio Renascença, o programa «Despertar» que se tornará no programa mais popular da rádio portuguesa. 

1980 - E editado "Maranata", o último álbum deste grupo vocal. Neste mesmo ano, António Sala ganha, com Alexandra, no Festival RTP da Canção, o Prémio de Melhor Intérprete, ex-aequo com José Cid. 

1982 - O single «Caminhos», dos Maranata, um tema composto com base na 4•a Sinfonia de Mozart, atinge a marca de Disco de Ouro. Ainda em 1982, ao fim de uma carreira de 10 anos, recheada com 34 singles, três álbuns e centenas de espectáculos em Portugal e no estrangeiro, os Maranata separam-se. António Sala continuará a gravar a solo e actuar ao vivo por todo o mundo. 

1983 - Uma sondagem publicada pelo semanário "Expresso" elege António Sala como a figura mais popular do País, estatuto habitualmente atribuído a Mário Soares. Neste mesmo ano, Sala estreia-se como autor de programas de televisão, ao lado de Carlos Paião e Luís Arriaga, em «O Foguete». 

1984 - Lança o seu primeiro livro de anedotas "Dicionário de Anedotas" que se torna um verdadeiro best-seller e edita o álbum "Segredos", produzido pelo maestro José Calvário, disco que interpretará ao vivo num espectáculo realizado em Lisboa, no Teatro São Luís. 

1986 - Lança o seu segundo livro de anedotas, "Anedotas de Sala". A convite de José Nuno Martins, realiza no Loucuras, em Lisboa, com a Orquestra da Felicidade do Brilho e da Glória, um espectáculo ao vivo em que o repertório é exclusivamente constituído por boleros. Comemora 20 anos de carreira com espectáculos nos Coliseus do Porto e de Lisboa em que conta novamente com a colaboração da Orquestra da Felicidade do Brilho e da Glória, mas em que não se limita a cantar boleros. O espetáculo de Lisboa tem como convidada principal Amália Rodrigues. 

1987 - Lança o álbum "Bons Velhos Tempos", parcialmente constituído por boleros e em que participa também a Orquestra da Felicidade do Brilho e da Glória. 

1988 - No "Festival Internacional dos Pequenos Cantores" ganha o prémio de melhor poema atribuído a «Zacatraz». 

1989 - Lança o álbum "Microfone e Voz" para o qual tinha começado a trabalhar, no ano anterior, com Carlos Paião, antes do falecimento do músico em Agosto de 1988. Após uma pausa de vários meses, em 1989 António Sala recomeça a trabalhar em "Microfone e Voz" com Luís Filipe que passaria a produzir todos os seus discos. 

1992 - Passa a exercer na Rádio Renascença o cargo de director de programas do Canal 1. Edita o single «Timor História de Um Povo», depois de ter ficado impressionado com o poema desta composição de Dinis da Fonseca. 

1993 - Lança o álbum "Histórias" que inclui um inédito de Carlos Paião — uma canção sobre Lisboa intitulada «Pecado Capital». 

1996 - Edita no final do ano a coletânea "Trinta Anos de Carreira" cujas vendas atingem, em poucas semanas, o Disco de Ouro. 

1997 - Regressa aos microfones da Rádio Renascença, ao programa «Despertar», após uma longa ausência em consequência de uma delicada operação a um tumor benigno no ouvido, feita nos Estados Unidos. Em Maio, no Coliseu de Lisboa, realizou-se um espectáculo comemorativo dos seus 30 anos de carreira, pouco antes de ter abandonado o «Despertar». 


sexta-feira, 3 de outubro de 2025

António dos Santos

António dos Santos nasceu em Lisboa, na freguesia do Socorro, a 14 de Março de 1919, e morreu a 18 de Setembro de 1993, também em Lisboa. Começou a cantar aos 15 anos, mas o seu repertório compunha-se exclusivamente de fados humorísticos, que ele próprio escrevia, na linha de Joaquim Carreiro. 

O seu cantar, originalíssimo, dava-lhe o direito de se considerar o único «baladeiro, autêntico», precursor de um estilo que, em Lisboa, onde o fado era a canção urbana, só ele cultivava. Tinha admiradores que se deslocavam à sua casa típica, "O Cantinho do António", em Alfama, para o ouvir, acompanhado à viola, cantar com a sua grave, mas belíssima voz, as tais canções «parentes do fado», mas muito mais entusiásticas, nostálgicas por demais, a que só António dos Santos soube dar a dimensão criativa, única, que o impôs. 

Homem pouco dado à autopromoção, cantava por prazer. As suas gravações são raras, mas inesquecíveis. Quem não se lembra de títulos como «Adeus Parceiro da Farra», «Partir É Morrer Um Pouco» ou esse perfeito, modelar «Minha Alma de Amor Sedenta»? Não deixou seguidores, o que prova a sua autenticidade e sublinha os seus dotes inigualáveis de intérprete. 

DISCOGRAFIA: 

1964 - Alfama-Lisboa (EP, Columbia); Nostalgia de Alfàma (EP, Columbia)

1968 - Fado e Canto Peregrino (EP, Columbia)

1971 - Minha Alma de Amor Sedenta (LP, Columbia)

1986 - Saudade (LP, EMI)


quarta-feira, 1 de outubro de 2025

António Portugal

António Jorge Moreira Portugal nasceu a 23 de Outubro de 1931, na República Centro-Africana e morreu em Coimbra, a 26 de Junho de 1994, com 62 anos. Com um ano de idade foi viver para Coimbra (a sua família era de Penacova) e aí fez a escola primária, os estudos secundários e se licenciou em Direito. 

Foi no Liceu D. João III que conheceu Luiz Goes e José Afonso e que os começou a acompanhar, em 1949, com um grupo constituído por Manuel Mora (2.a guitarra) e Manuel Costa Brás (militar de Abril e ex-ministro) e António Senão, à viola. António Portugal teve como professores dois guitarristas «futricas», barbeiros de profissão e irmãos (o Flávio e o Fernando), tendo acompanhado o primeiro até à morte deste, em 1950. 

Em 1951, matriculou-se na Faculdade de Direito e ingressou também na Tuna e no Orfeão Académico. Em 1952 conhece António Brojo, que o convida para integrar o histórico grupo de fados e guitarradas do qual faziam parte os cantores Luiz Goes, José Afonso, Florêncio de Carvalho, Fernando Rolim e, um pouco mais tarde, Machado Soares. Para além de António Brojo e de António Portugal, nas guitarras, faziam ainda parte do grupo os violas Aurélio Reis e Mário de Castro. 

Em 1953, depois de muitos anos em que não se gravaram discos de fados de Coimbra, o grupo liderado por António Brojo registou uma série de oito discos de 78 rotações por minuto, os quais constituem a razão de ser da coletânea "Fados e Guitarradas de Coimbra", editada em 1996 pela Movieplay, uma vez que nela se reúnem as primeiras gravações de José Afonso, Luiz Goes, Fernando Rolim, Machado Soares e, ainda, as guitarras de António Brojo e António Portugal. 

António Portugal, durante mais de 45 anos, foi omnipresente em tudo o que se relaciona com a canção de Coimbra (designação que ele considerava mais correcta do que a de «fado de Coimbra», por esta ser demasiado restritiva e não englobar formas musicais como a balada ou a trova que o Zeca e o Adriano imortalizaram). De 1949 a 1994, António Portugal criou uma obra ímpar, quer pela qualidade e inovação das suas composições e arranjos quer pela forma perfeita como sabia ensinar os cantores, e com eles criar uma dinâmica de acompanhamento que o distingue de todos os outros guitarristas do seu tempo. Mas não só: António Portugal deixou, de longe, a mais ampla e completa discografia do fado e da guitarra de Coimbra, aliás bem patente na coletânea "Fados e Guitarradas de Coimbra", onde, além de solista de guitarra, acompanha todos os cantores, excepto Almeida Santos: Adriano, António Bernardino, Zeca, Luiz Goes, Machado Soares, Fernando Rolim, Sutil Roque e Lacerda e Megre. 

Embora de forma esquemática e muito resumida, o percurso musical de António Portugal poderá ser dividido em quatro fases. A primeira, iniciática, em que António Portugal se aplica na execução e pesquisa da guitarra, e na sua colaboração, já referida, com os maiores e mais importantes nomes da geração de 50. A segunda, que se inicia com a formação do grupo do Coimbra Quintet (Luiz Goes, Jorge Godinho - 2.a guitarra, também já falecido, Manuel Pepe e Levy Baptista), corresponde à transição para a renovação do fado e da guitarra de Coimbra, que culminou com a gravação da «Balada do Outono», de José Afonso e onde, pela primeira vez ao lado de António Portugal, surge a viola de Rui Pato. 

A terceira fase - início dos anos 60 - é fundamentalmente marcada pela canção de intervenção e pelos nomes de Adriano Correia de Oliveira e Manuel Alegre. A «Trova do Vento Que Passa», de que António Portugal é autor da música, é o hino e o emblema da resistência ao regime e à guerra colonial, a «Grândola» do Abril antes do Abril. 

A quarta e última fase é também a mais longa: é o período da maturidade e da consagração. Depois do 25 de Abril, António Portugal, que ao longo dos anos tinha sido um activista político persistente e eficaz na luta contra o fascismo, «trocou» temporariamente a guitarra pela política activa, quer na Assembleia Municipal de Coimbra, onde foi, até à sua morte, líder da bancada do PS, quer na Assembleia da República, como deputado. Ultrapassado o período revolucionário de 1975 - em que a onda de contestação não poupou também as tradições coimbrãs - e com o «regresso» de António Brojo ao gosto e ao gozo da guitarra, reconstitui-se o grupo dos anos 50 e foi reiniciada uma atividade de intensa participação, quer em espectáculos em Portugal e no resto do mundo quer numa série de programas para a RTP, quer ainda a gravação de uma coletânea de seis LP, "Tempos de Coimbra" (1990) - oito décadas no canto e na guitarra -, onde se registam para a História - desde Augusto Hilário à atualidade - dezenas de fados e guitarradas, fruto de laboriosa e cuidada recolha. 

A sua morte interrompeu o seu último projeto, que vinha realizando com António Brojo, sobre a guitarra de Coimbra: ambos os solistas preparavam um duplo álbum de guitarradas, em que alternadamente se acompanhavam um ao outro e que já ia a caminho da sua finalização. O disco acabaria por ser editado em 1994, pela EMI, precisamente com o título "Variações Inacabadas". No dia 10 de Junho de 1994, quando se encontrava no Oriente para atuar com o seu grupo nas Comemorações do Dia de Portugal, o Presidente da República, Dr. Mário Soares, atribui-lhe, em Coimbra, a Ordem da Liberdade. 

António Portugal não teve a alegria de ver, e ostentar, essa justíssima condecoração porque, à chegada ao aeroporto de Pedras Rubras, foi vitimado por acidente vascular cerebral, morrendo dias depois, em Coimbra. 


domingo, 28 de setembro de 2025

António Variações - Parte 4

 

1989 Jun. - No quinto aniversário da sua morte, a EMI-VC reedita a discografia de António Variações numa edição especial que inclui os álbuns "Anjo da Guarda" e "Dar e Receber" e o maxi--single "Estou Além/Povo Que Lavas no Rio". 

Jul. - "Dar e Receber" é publicado em CD. 

Nov. - Lena D'Água edita "Tu Aqui", um álbum composto por nove composições inéditas de António Variações, escolhidas pela cantora entre um vasto acervo de temas nunca divulgados, que a família do cantor a autorizou a gravar em exclusivo. 

1993 Jun. - No programa «Sons do Sol», de Júlio Isidro, a lembrar a passagem de nove anos sobre a sua morte, surge a primeira homenagem a António Variações, contando com a presença em estúdio da sua mãe e irmão. Algumas canções suas são interpretadas por outros artistas (Miguel Ângelo, Jorge Palma, Nucha, entre outros) e um original, de homenagem, com letra de José Jorge Letria é depois cantado por todos. 

1994 Jan. - Em edição da EMI-VC, é lançado o álbum de homenagem "Variações — As Canções de António", que reúne, em torno de versões de originais de António Variações, os Mão Morta («Visões Ficções»), Três Tristes Tigres («Anjo da Guarda»), Resistência («Voz Amália de Nós»), Sitiados («O Corpo É Que Paga»), Madredeus («Canção»), Sérgio Godinho («E P'ra Amanhã»), Santos & Pecadores («Perdi a Memória»), Delfins («Sempre Ausente»), Isabel Silvestre («Estou Além») e os Ritual Tejo («Dar e Receber»). Mal recebido pela crítica, o disco queda-se bastante aquém do homem que pretendia homenagear. Em jeito de brincadeira, nos corredores de rádios e jornais há quem lhe chame «Estou Aquém», mas ainda assim o álbum atinge o Disco de Prata por vendas superiores a 10 mil discos. 

1995 - As Amarguinhas incluem no seu CD single de estreia, editado pela NorteSul, uma versão de «Estou Além». 

1996 Maio. - O projecto MDA inclui uma versão de «Estou Além» e uma de «Dar e Receber» no seu álbum de estreia 

1996 - "vol.1", álbum que viria a ser retirado do mercado por falta de autorização de Pedro Ayres Magalhães para a versão de «O Pastor», dos Madredeus. 

1997 Maio. - É editada pela EMI-VC a compilação «O Melhor de António Variações», recuperando material dos dois álbuns e do maxi "Povo Que Lavas no Rio", remisturado e remasterizado por Marku Sáley. O álbum atinge, à saída, o 1.° lugar do top português e rapidamente atinge o Disco de Platina por vendas superiores a 40 mil discos. 

DISCOGRAFIA:

1982 - Estou Além / Povo Que Lavas no Rio (Single, Valentim de Carvalho). 

1983 - Anjo-da-Guarda (LP, Valentim de Carvalho); «É P'ra Amanhã» (Single, Valentim de Carvalho).

1984 - Dar e Receber (LP, EMI-VC). 

1997 - O Melhor De António Variações (CD, EMI-VC). 

António Variações - Parte 3

António Variações mudava, repentina e honradamente, a noção de espectáculo na música portuguesa. Numa discoteca, na Rua da Imprensa Nacional, dá uma festa para amigos e convidados na qual chega a actuar ao vivo. 

1984 Fev. (6 a 25) - António Variações entra nos Estúdios Valentim de Carvalho, em Paço d'Arcos, para gravar o seu segundo (e último) álbum. Pedro Ayres Magalhães e Carlos Maria Trindade, dos Heróis do Mar, são os produtores e directores musicais do disco, e os cinco músicos dos Heróis formam a banda de estúdio que participa nas gravações, com Rui Pregal da Cunha a assinar igualmente a conceção da capa. 

Abr. - No programa «A Festa Continua», de Júlio Isidro, aparece pela última vez em público, poucas semanas antes da edição do disco. Vestido com uma espécie de pijama de flanela, com coelhinhos e ursinhos estampados, canta dois temas do novo álbum, e diz que tem estado um pouco engripado. Esta será a única vez que canções de "Dar e Receber" chegam, com António, ao pequeno ecrã. 

Maio - E editado o álbum "Dar e Receber" que, unanimemente bem recebido pelo público e crítica, não consegue contudo impor nenhum tema de êxito como «E P'ra Amanhã...» ou «... O Corpo É Que Paga» do álbum anterior. «Canção do Engate» será o tema que mais se aproximará do sucesso. 

Maio (18) - Dá entrada no Hospital Pulido Valente com «um problema brônquico-asmático», sendo assistido pelo Dr. Iglésias Oliveira. A pedido da família é, pouco depois, transferido para o Hospital da Cruz Vermelha. Com um estado em agravamento progressivo, é solicitada a reanimadora Dra. Maria Cristina Câmara. 

Jun. - Em insuficiência respiratória aguda, é submetido a uma prótese ventilatória (Engstrom). Na madrugada do dia 13, dia de Santo António, enquanto a cidade se deitava depois de uma noite de festas populares, falecia no Hospital da Cruz Vermelha, em consequência de, como então se disse, «broncopneumonia bilateral grave». Desaparecia um dos mais importantes renovadores da nova música portuguesa. Dois dias depois é sepultado no cemitério de Amares (Braga), a poucos quilómetros da sua aldeia natal, num funeral onde poucos músicos estarão presentes. "Dar e Receber" atingirá o Disco de Prata. 

1987 Abr. - Os Delfins incluem uma versão de «Canção de Engate» no seu álbum de estreia, "Libertação", produzido por Carlos Maria Trindade. É a primeira versão gravada de um original de António Variações. 

1988 - A EMI-Valentim de Carvalho reedita o maxi-single de "Estou Além". 

Nov. - "Anjo da Guarda" é editado em CD pela primeira vez. 


António Variações - Parte 2

Com uma equipa de gravação, Rui Pêgo vai a casa de Variações, toda pintada de verde, e grava dois ou três temas, entre os quais «Toma o Comprimido», que depois toca no programa. Tímido, Variações quase pede desculpa à equipa da RR pelo «incómodo» de lá terem ido a casa! 

1981 Fev. - Apresenta-se pela primeira vez em público na televisão, no programa de Júlio Isidro «O Passeio dos Alegres», transmitido em directo dos estúdios da RTP no Lumiar, como António & Variações (Variações sendo então o nome do grupo que o acompanhava). Vestido de aspirina, enquanto lança Smarties ao público e às câmaras, canta, «Toma o Comprimido», tema que grava num estúdio em Campo de Ourique depois de ter conhecido Júlio Isidro na barbearia. A cassete com a gravação regressa a casa com o próprio Variações e, como a RTP não guardou o registo em vídeo da atuação e o tema nunca foi gravado nem editado em disco, dela apenas resta a memória de alguns e umas fotografias (na posse de Júlio Isidro). Depois da estreia na televisão, António Variações participa nalgumas emissões do programa da Rádio Comercial, «Febre de Sábado de Manhã», apresentado por Isidro e transmitido em directo do Cinema Nimas aos sábados de manhã. A primeira destas participações decorre pouco depois da apresentação na TV, interpretando de novo o mesmo tema. 

1982 - Depois de uma intervenção do irmão Jaime, advogado de profissão, junto da editora, relembrando a existência de um contrato ainda não concretizado e ameaçando a companhia de ação legal caso não sejam tomadas medidas, a Valentim de Carvalho reúne-se com António Variações e, depois de ouvir novas maquetas do cantor, conclui que está na altura de gravar. 

Jun. - Pela Valentim de Carvalho, e já sob o nome António Variações (porque «é uma palavra que sugere elasticidade, liberdade», comenta em entrevista a "O País"), edita finalmente o primeiro single, um duplo lado-A com «Povo Que Lavas no Rio», uma versão para um fado de Pedro Homem de Mello e Joaquim Campos imortalizado por Amália Rodrigues, de quem se tornara um ex-libris, e «Estou Além», um original próprio. Embora o nome impresso no disco seja o de Nuno Rodrigues, A&R do cantor, é a Ricardo Camacho que se deve a produção do tema. O sacrilégio de ousar regravar «Povo Que Lavas no Rio» cai mal em alguns círculos, mas «Estou Além» obtém a popularidade de rádio que escapa ao outro tema. «Se tivesse nascido em Nova Iorque seria um rocker, mas como nasci no Minho prefiro ser um folclorista que também ensaia o rock» afirmará nalgumas entrevistas, por ocasião da promoção do single. 

1983 Jun. - Edita, e dedica a Amália Rodrigues, o seu primeiro álbum, "Anjo da Guarda", na contracapa do qual inscreve «A Amália que sempre me deu e fez sentir a importância de uma verdadeira identidade.» O disco encerra, aliás, com a canção «Voz Amália de Nós», que prossegue a sua homenagem à fadista de quem era grande admirador. O álbum é o resultado de um ano de gravações tumultuosas: iniciadas em 1982 com Vítor Rua e Tóli César Machado, dos colegas de editora GNR, como arranjadores e produtores, as sessões de estúdio são interrompidas pelos desentendimentos que originam a saída de Rua dos GNR, levando a editora a programar para o final de 1982 a edição de um mini-álbum com os cinco temas que haviam ficado prontos. Contudo, essa edição nunca é publicada e as sessões são retomadas mais tarde, agora sob a supervisão de José Moz Carrapa, que termina o álbum (e ao qual é creditada na capa a produção). "Anjo da Guarda" acabará por ser uma «manta de retalhos» - aos cinco temas gravados em 1982 com Tóli e Rua junta-se «Estou Além», do single de estreia, e quatro temas orientados por Caparra. O álbum é muitíssimo bem recebido pela imprensa, que aponta a inovação e originalidade do som apresentado, bem como a presença do cantor, e a rádio (e o grande público) elegem António Variações como um dos grandes nomes do momento. Um estranho caso de popularidade transforma, de repente, o exótico barbeiro numa estrela popular à escala nacional. «Estou Além», «E P'ra Amanhã...» e «...0 Corpo É Que Paga» estão entre as músicas mais tocadas do ano. «E P'ra Amanhã...» será aliás editado como single ainda no Verão. 

Jul. - Durante todo o Verão António Variações é um dos nomes mais solicitados para atuações ao vivo, sobretudo no circuito das muitas festas das pequenas aldeias e outras localidades onde, superando de longe os «adversários» roqueiros, chega mesmo a competir em popularidade com os artistas de primeira linha como Marco Paulo ou Carlos do Carmo.