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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Adriano Correia de Oliveira

1942 — Nasce a 9 de Abril no Porto, com o nome completo de Adriano Maria Correia Gomes de Oliveira, no seio de uma família tradicionalista e católica. Faz a instrução primária em Avintes e o curso do liceu no Porto, primeiro no Colégio Almeida Garrett e depois no Liceu Alexandre Herculano. Em Avintes, inicia--se no teatro amador e é co-fundador da União Académica de Avintes. 

1959 — Com 17 anos, ruma a Coimbra, onde estuda Direito, curso que deixa preso por uma cadeira. Na cidade universitária desenvolve grande actividade nas organizações estudantis, nomeadamente no Orfeão Académico, onde é solista, no Grupo Universitário de Danças Regionais e no Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra (CITAC). Toca guitarra eléctrica no Conjunto Ligeiro da Tuna Académica, do qual fazem parte José Niza, Daniel Proença de Carvalho e Rui Ressurreição. Os contactos com os músicos ligados ao fado de Coimbra estabelece-se de imediato. Adriano conhece o núcleo de artistas que vai transformar a tradição do fado coimbrão, naquele que é o primeiro passo para ir além da tradição, que caracterizará toda a revolução musical introduzida nos anos seguintes pelos impropriamente designados «baladeiros». António Portugal, Rui Pato, José Niza, António Bernardino são os nomes mais importantes do núcleo original, além de, obvia e naturalmente, José Afonso, a primeira grande influência do cantor e compositor. Canções de Zeca Afonso como «Menino do Bairro Negro» ou «Os Vampiros» mostram aos novos músicos uma outra realidade, além da reflectida pelo fado tradicional.

1960 — Adriano edita o primeiro EP "Noite de Coimbra", que integra as canções «Fado da Mentira», «Balada dos Sinos», «Canta Coração», e «Chula». António Portugal e Rui Pato acompanham os primeiros passos do novel compositor que, desde muito cedo, toma consciência das suas limitações ao nível da escrita poética, e opta por dedicar-se apenas à composição e ao canto. 

1963 — O primeiro LP de Adriano é Fados de Coimbra e reúne temas editados desde 1960 em três EP. Um disco onde se encontra a primeira versão da «Trova do Vento Que Passa», sobre um poema de Manuel Alegre, outra peça central do movimento cultural coimbrão e da contestação estudantil à ditadura. Posteriormente grava o segundo LP, Adriano Correia de Oliveira. «Menina dos Olhos Tristes», «Trova do Amor Lusíada», «Pedro Soldado», «Exílio», «Rosa de Sangue» e «Canção com Lágrimas» são temas do disco. António Cabral, António Ferreira Guedes, Luís Andrade e Urbano Tavares Rodrigues são outros poetas que Adriano canta, além de Alegre. 1964 Viaja até Paris onde conhece Luís Cilia, que permanecerá outra das suas grandes referências. Sempre activo na vida académica, não tardará em trocar o desporto — sagrou-se campeão nacional de voleibol pela Briosa — pelo crescente envolvimento na luta política. A crise de 69, porém, já não o encontrará na cidade do Mondego. 

1968 — Quando lhe falta apenas uma cadeira para terminar o curso de Direito, Adriano Correia de Oliveira troca Coimbra por Lisboa. Trabalha no gabinete de imprensa da FIL (Feira Internacional de Lisboa) e é produtor na editora onde sempre gravou. Entre este ano e 1971 grava a trilogia formada pelos álbuns "O Canto e as Armas", inteiramente dedicado à poesia de Manuel Alegre, "Cantaremos" e "Gente d'Aqui e de Agora". Destes três discos sairão muitos dos temas fundamentais de Adriano, que rapidamente são transformados em hinos da resistência ao Estado Novo. «Raiz», «E a Carne se Fez Verbo», «Peregrinação» e a segunda versão da «Trova» surgem em O Canto e as Armas. 

1969 — Ganha o Prémio Pozal Domingues. 

1971 — Ano da edição de Gente d'Aqui e de Agora, disco onde se inclui um poema de Assis Pacheco na contracapa e 11 canções, como «O Senhor Morgado», «História do Quadrilheiro Manuel Domingos Louzeiro», «Cantar de Emigração» e «Como Hei-de Amar Serenamente». José Niza é o principal colaborador de Adriano neste disco, que precede um silêncio voluntário de quatro anos, uma vez que o cantor recusa enviar os seus textos à Comissão de Censura. Neste álbum, José Calvário, com 20 anos, faz o seu primeiro arranjo como maestro na canção «E Alegre se Fez Triste». 

1975 — Em pleno ano quente da Revolução, Adriano edita o disco "Que Nunca Mais", com direcção musical de Fausto, e colaboração de Carlos Paredes, reunindo material sobre textos do escritor Manuel da Fonseca, que trabalhara ao longo dos últimos anos da ditadura. O disco estava pronto a ser publicado antes do 25 de Abril e o cantor disposto a assumir todos os riscos por essa atitude. "Que Nunca Mais" leva a revista britânica Music Week a eleger o cantor de Avintes como artista do ano. Até à sua morte editará ainda um sétimo álbum. 

1979 — Fiel ao espírito de grupo que sempre o animara, Adriano Correia de Oliveira é um dos fundadores da Cantarabril, cooperativa de músicos ligada ao Partido Comunista Português, com a qual entrará em ruptura dois anos depois, num processo pouco digno. 

1981 — E a hora da ruptura com alguns dos companheiros de luta, mas não com os mais importantes. Cilia, Fausto ou Zeca Afonso permanecerão ao lado de Adriano quando a direcção da Cantarabril decide expulsá-lo. Motivo: uma dívida de 40 contos e a «inadaptação de Adriano à perspectiva mercantilista de mercado». A saúde do cantor já está então consideravelmente degradada devido ao consumo imoderado de álcool. As suas actuações no último ano de vida, nomeadamente num concerto de apoio aos jornalistas da ANOP, ameaçados de desemprego, são fortemente afectadas por esse problema. A cooperativa ia endossando os convites dirigidos a Adriano para outros cantores da casa. Na hora má, Adriano Correia de Oliveira não contou com o apoio dos artistas do partido a quem dedicara a sua vida, cujo único acto de solidariedade foi a expulsão cantor. Luís Cilia deixou a Cantarabril devido a caso. Adriana foi recebido na cooperativa Era Nova, ligada a cantores mais próximos da extrema-esquerda, como Fausto e José Mário Branco. Dois anos mais tarde, numa sessão assinalando o primeiro aniversário da morte do cantor, na presença de vários membros da Cantarabril, o jornalista Júlio Pinto, também ex-militante do PCP, acusaria de «assassinos» os que o expulsaram da cooperativa. 

1982 — Aos 40 anos, num sábado, dia 16 de Outubro, Adriano Correia de Oliveira morre na terra natal, nos braços da mãe, vitimado por uma hemorragia no esófago. Deixou projectos inacabados, nomeadamente uma regravação dos seus temas mais antigos. 

1994 — Doze anos após a morte de Adriano Correia de Oliveira, a Movieplay reedita o seu material, numa caixa incluindo os sete álbuns e quatro EP que gravou. 

DISCOGRAFIA: 

1960 - Noite de Coimbra EP, (Orfeu). 

1961 - Balada do Estudante (EP, Orfeu); Fados de Coimbra (EP, Orfeu). 

1962 - Fados de Coimbra 2 (EP, Orfeu). 

1963 - Trova do Vento Que Passa (EP, Orfeu); Fados de Coimbra (LP, Orfeu). 

1964 - Lira (EP, Orfeu); Menina dos Olhos Tristes (EP, Orfeu). 

1967 - Elegia (EP, Orfeu); Adriano Correia de Oliveira (LP, Orfeu). 

1968 - Adriano Correia de Oliveira (EP, Orfeu); Rosa de Sangue (EP, Orfeu). 

1969 - O Canto e as Armas (LP, Orfeu). 

1970 - Cansaremos (LP, Orfeu). 

1971 - Trova do Vento Que Passa 2 (EP, Orfeu); Cantar de Emigração (EP, Orfeu); Gente d'Aqui e de Agora (LP, Orfeu). 

1972 - Batalha de Alcácer-Quibir Orfeu); Lágrima de Preta (EP, Orfeu). 

1973 - O Senhor Morgado (EP, Orfeu); Fados de Coimbra (LP, Orfeu). 

1974 - A Vila de Alvito (EP, Orfeu). 

1975 - Que Nunca Mais (LP, Orfeu). 

1976 - Para Rosalia (EP, Orfeu). 

1978 - «Noticias d'Abril» (single, Orfeu). 

1980 - Cantigas Portuguesas (LP, Orfeu). 

1983 - Memória de Adriano (duplo LP, Orfeu). 


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