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terça-feira, 17 de junho de 2025

António Bemardino

António Bemardino Pires dos Santos nasceu em Águeda, em 1941, e morreu em Lisboa a 16 de Junho de 1996, vítima de cancro. Era licenciado em Ciências Geográficas e desempenhava à data da morte as funções de administrador dos Serviços de Ação Social da Universidade de Lisboa. Começou a cantar fados de Coimbra ainda no liceu, em Aveiro, com outros colegas, um dos quais - António Andias -, que, mais tarde, viria a revelar-se na cidade do Mondego um conceituado guitarrista. António Bemardino considerava ter sido influenciado por José Afonso e Adriano Correia de Oliveira e, sobretudo, marcado pela poesia de Manuel Alegre, da qual, com Adriano, é um dos principais intérpretes, e moldado pela guitarra e pelas composições de António Portugal. Chegou a Coimbra em 1963 e por aí permaneceu até 1967, altura em que foi mobilizado para a guerra colonial, em Moçambique. Terminada a comissão militar, o cantor continuou em África até 1974. Ao longo da sua carreira - com frequentes atuações em Portugal e no estrangeiro —, foi acompanhado pelos melhores executantes da guitarra e da viola de Coimbra. Numa primeira fase, enquanto estudante, pelas guitarras dos irmãos Melo (o Eduardo e o Ernesto), Octávio Sérgio, Nuno Guimarães, Manuel Borralho, Francisco Martins, Hermí-nio Menino e, sobretudo, por António Portugal: e, também, pelas violas de Rui Pato, Dur-val Moreirinhas e Jorge Moutinho. 

Numa segunda fase já residindo em Lisboa, a partir de 1975 - continuou a cantar e a participar em espetáculos, gravações de discos e programas de televisão. Nesta nova fase foi acompanhado pelas guitarras de António Brojo, António Portugal, João Bagão, José Lopes de Almeida e pelas violas de Aurélio Reis, Mário de Castro, Luís Filipe, Humberto Matias, Levy Baptista e Durval Moreirinhas. António Bernardino foi, provavelmente, o cantor de Coimbra com mais temas gravados em disco e, seguramente, o mais interveniente da sua geração, onde também se notabilizaram nomes como José Miguel Baptista, Armando Marta, José Manuel Santos e outros. (Compadre de António Bernardino, Armando Marta é hoje o jornalista Silva Marta, da Agência Lusa, em Lisboa). Os primeiros registos fonográficos de António Bernardino datam de 1964 («Samaritana», «Fado do 5.° Ano Médico», «Ao Morrer os Olhos Dizem»), numa altura em que José Afonso e Adriano Correia de Oliveira já tinham registado as suas primeiras trovas e baladas. 

Em 1969, António Bernardino grava o LP "Flores para Coimbra", o disco que considerava mais importante, e que é dominado pela poesia de Manuel Alegre e pelas composições do cunhado do poeta, António Portugal. Mais recentemente, a sua voz integra a coletânea "Tempos de Coimbra" (1990), um conjunto de seis LP em que, uma vez mais com António Portugal e António Brojo, o cantor dá um excelente contributo para a divulgação e renovação da canção de Coimbra. Ele próprio não sabia ao certo quantos temas tinha registado em disco, mas não se andará longe da verdade se se falar de cinco a seis dezenas de fados e baladas, onde assumem especial relevo as composições e poemas de António Menano, Edmundo Bettencourt, Armando Goes, Afonso de Sousa, Paulo de Sá e, numa fase mais recente, Manuel Alegre, António Portugal e Machado Soares. António Bernardino será também, provavelmente, o cantor de Coimbra que mais divulgou o fado além-fronteiras: Europa (um pouco por toda a parte), ex-União Soviética, Estados Unidos da América, Brasil, Argentina, Uruguai, Venezuela, Tailândia, Macau, Malásia, Angola, Moçambique, Cabo Verde, etc. etc. 


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