António Jorge Moreira Portugal nasceu a 23 de Outubro de 1931, na República Centro-Africana e morreu em Coimbra, a 26 de Junho de 1994, com 62 anos. Com um ano de idade foi viver para Coimbra (a sua família era de Penacova) e aí fez a escola primária, os estudos secundários e se licenciou em Direito.
Foi no Liceu D. João III que conheceu Luiz Goes e José Afonso e que os começou a acompanhar, em 1949, com um grupo constituído por Manuel Mora (2.a guitarra) e Manuel Costa Brás (militar de Abril e ex-ministro) e António Senão, à viola. António Portugal teve como professores dois guitarristas «futricas», barbeiros de profissão e irmãos (o Flávio e o Fernando), tendo acompanhado o primeiro até à morte deste, em 1950.
Em 1951, matriculou-se na Faculdade de Direito e ingressou também na Tuna e no Orfeão Académico. Em 1952 conhece António Brojo, que o convida para integrar o histórico grupo de fados e guitarradas do qual faziam parte os cantores Luiz Goes, José Afonso, Florêncio de Carvalho, Fernando Rolim e, um pouco mais tarde, Machado Soares. Para além de António Brojo e de António Portugal, nas guitarras, faziam ainda parte do grupo os violas Aurélio Reis e Mário de Castro.
Em 1953, depois de muitos anos em que não se gravaram discos de fados de Coimbra, o grupo liderado por António Brojo registou uma série de oito discos de 78 rotações por minuto, os quais constituem a razão de ser da coletânea "Fados e Guitarradas de Coimbra", editada em 1996 pela Movieplay, uma vez que nela se reúnem as primeiras gravações de José Afonso, Luiz Goes, Fernando Rolim, Machado Soares e, ainda, as guitarras de António Brojo e António Portugal.
António Portugal, durante mais de 45 anos, foi omnipresente em tudo o que se relaciona com a canção de Coimbra (designação que ele considerava mais correcta do que a de «fado de Coimbra», por esta ser demasiado restritiva e não englobar formas musicais como a balada ou a trova que o Zeca e o Adriano imortalizaram). De 1949 a 1994, António Portugal criou uma obra ímpar, quer pela qualidade e inovação das suas composições e arranjos quer pela forma perfeita como sabia ensinar os cantores, e com eles criar uma dinâmica de acompanhamento que o distingue de todos os outros guitarristas do seu tempo. Mas não só: António Portugal deixou, de longe, a mais ampla e completa discografia do fado e da guitarra de Coimbra, aliás bem patente na coletânea "Fados e Guitarradas de Coimbra", onde, além de solista de guitarra, acompanha todos os cantores, excepto Almeida Santos: Adriano, António Bernardino, Zeca, Luiz Goes, Machado Soares, Fernando Rolim, Sutil Roque e Lacerda e Megre.
Embora de forma esquemática e muito resumida, o percurso musical de António Portugal poderá ser dividido em quatro fases. A primeira, iniciática, em que António Portugal se aplica na execução e pesquisa da guitarra, e na sua colaboração, já referida, com os maiores e mais importantes nomes da geração de 50. A segunda, que se inicia com a formação do grupo do Coimbra Quintet (Luiz Goes, Jorge Godinho - 2.a guitarra, também já falecido, Manuel Pepe e Levy Baptista), corresponde à transição para a renovação do fado e da guitarra de Coimbra, que culminou com a gravação da «Balada do Outono», de José Afonso e onde, pela primeira vez ao lado de António Portugal, surge a viola de Rui Pato.
A terceira fase - início dos anos 60 - é fundamentalmente marcada pela canção de intervenção e pelos nomes de Adriano Correia de Oliveira e Manuel Alegre. A «Trova do Vento Que Passa», de que António Portugal é autor da música, é o hino e o emblema da resistência ao regime e à guerra colonial, a «Grândola» do Abril antes do Abril.
A quarta e última fase é também a mais longa: é o período da maturidade e da consagração. Depois do 25 de Abril, António Portugal, que ao longo dos anos tinha sido um activista político persistente e eficaz na luta contra o fascismo, «trocou» temporariamente a guitarra pela política activa, quer na Assembleia Municipal de Coimbra, onde foi, até à sua morte, líder da bancada do PS, quer na Assembleia da República, como deputado. Ultrapassado o período revolucionário de 1975 - em que a onda de contestação não poupou também as tradições coimbrãs - e com o «regresso» de António Brojo ao gosto e ao gozo da guitarra, reconstitui-se o grupo dos anos 50 e foi reiniciada uma atividade de intensa participação, quer em espectáculos em Portugal e no resto do mundo quer numa série de programas para a RTP, quer ainda a gravação de uma coletânea de seis LP, "Tempos de Coimbra" (1990) - oito décadas no canto e na guitarra -, onde se registam para a História - desde Augusto Hilário à atualidade - dezenas de fados e guitarradas, fruto de laboriosa e cuidada recolha.
A sua morte interrompeu o seu último projeto, que vinha realizando com António Brojo, sobre a guitarra de Coimbra: ambos os solistas preparavam um duplo álbum de guitarradas, em que alternadamente se acompanhavam um ao outro e que já ia a caminho da sua finalização. O disco acabaria por ser editado em 1994, pela EMI, precisamente com o título "Variações Inacabadas". No dia 10 de Junho de 1994, quando se encontrava no Oriente para atuar com o seu grupo nas Comemorações do Dia de Portugal, o Presidente da República, Dr. Mário Soares, atribui-lhe, em Coimbra, a Ordem da Liberdade.
António Portugal não teve a alegria de ver, e ostentar, essa justíssima condecoração porque, à chegada ao aeroporto de Pedras Rubras, foi vitimado por acidente vascular cerebral, morrendo dias depois, em Coimbra.

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