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terça-feira, 17 de junho de 2025

António Brojo

António Pinho de Brojo nasceu a 28 de Novembro de 1927, em Coimbra. Fez o liceu nesta cidade e licenciou-se na Escola Superior de Farmácia. Em 1950 concluiu, na Universidade do Porto, a licenciatura em Ciências Farmacêuticas, regressando a Coimbra para passar a exercer as funções de assistente na Faculdade de Farmácia, entretanto criada. 

De 1954 a 1958 preparou a tese de doutoramento na Universidade de Basileia, onde foi assistente, doutorando-se na Universidade do Porto em 1961. É professor catedrático da Faculdade de Farmácia de Coimbra. Foi vice-reitor da Universidade e é, atualmente (1996), presidente do Conselho Social da Universidade. António Brojo foi, também, o primeiro presidente da Assembleia Municipal de Coimbra, tendo sido candidato a deputado, pelo PS, às eleições legislativas de 1983. 

Iniciou-se na guitarra quando andava no liceu, em 1941, e teve como professores os guitarristas João Bagão, José Maria Amaral e Carvalho Homem, os quais acompanhou a partir de 1945. Foi contemporâneo dos cantores Augusto Camacho Vieira, Anarolino Fernandes, Alcides Santos, Alexandre Herculano e dos violas Aurélio Reis, Mário de Castro e Tavares de Melo, com os quais se iniciou o programa radiofónico «Serenata de Coimbra», emitido pelo Emissor Regional de Coimbra da ex-Emissora Nacional. A sua passagem pelo Porto ficou também assinalada pela sua colaboração com o orfeão universitário desta cidade e com guitarristas e cantores como Cunha Gomes, Viriato Santos, Aureliano Veloso (pai de Rui Veloso), Álvaro Andrade e Napoleão Amorim. 

Em 1951, de novo em Coimbra, constitui com Florêncio de Carvalho, José Afonso, Luiz Goes, Fernando Rolim, mais tarde, Machado Soares, e ainda com António Portugal, um grupo histórico que regista, em 1953, oito discos de 78 rotações por minuto, incluídos no primeiro volume da coletânea "Fados e Guitarradas de Coimbra", editada pela Movieplay em 1996, e que constituem as primeiras gravações de todos os grandes nomes atrás citados, exceto Machado Soares, que gravou, pela primeira vez, em 1956. 

Em 1961 - e depois de diversas viagens a África, Brasil e Goa, entre outras - António Brojo desloca-se a Angola e Moçambique, integrado como professor num curso de férias. Em Lourenço Marques, no Rádio Clube de Moçambique, grava um EP, posteriormente editado pela etiqueta Alvorada, com Almeida Santos, Roxo Leão, Gabriel de Castro e Caseiro da Rocha. Desse disco foram selecionados para a coletânea duas variações em que é solista, «Balada de Coimbra» e «Variações em Lá Menor» e o fado «Lá Longe», cantado por Almeida Santos, então a advogar em Moçambique. Segue-se um período de sensível redução da sua atividade musical, entre 1967 e 1977, ano em que volta aos estúdios para gravar dois LP com José Mesquita. 

Com o regresso de António Portugal a Coimbra, depois de terminada a sua atividade de deputado na Assembleia da República, reconstitui-se o histórico grupo dos anos 50, agora naturalmente com novos cantores, como António Bernardino, Alfredo Correia, Luís Marinho (deputado europeu pelo PS — 1996) e José Mesquita, professor catedrático da Faculdade de Ciências. Os últimos anos, sempre integrado no grupo de que também faziam parte António Portugal, Aurélio Reis e Luís Filipe (nas violas), constituíram para o professor Brojo um período de intensa atividade musical, em Portugal e no estrangeiro, em programas de televisão e em gravações de discos. 

Em Junho de 1994, António Brojo viajou com António Portugal, António Bernardino e outros, até ao Oriente (Tailândia, Malásia). Foi a última digressão que realizou com o seu companheiro de sempre, António Portugal, falecido poucos dias depois do regresso a Portugal, a 26 de Junho de 1994. Os dois guitarristas preparavam - e tinham quase concluída - a gravação de dois LP de guitarradas, em que ambos são solistas. O disco acabaria por ser editado em 1994, pela EMI, precisamente com o título "Variações Inacabadas". O professor António Brojo, com mais de 50 anos de guitarra, é talvez o maior «fundista» da maratona musical de Coimbra: ninguém, como ele, acompanhou tantas gerações de fadistas e guitarristas. Mas dos seus dedos, da sua sensibilidade, do seu gozo e do seu talento peculiar de tocar guitarra, virão ainda novas surpresas. António Brojo, já reformado da sua cátedra de Farmácia, continua e vai continuar ativo na sua outra cátedra, a da guitarra de Coimbra. 

António Bemardino

António Bemardino Pires dos Santos nasceu em Águeda, em 1941, e morreu em Lisboa a 16 de Junho de 1996, vítima de cancro. Era licenciado em Ciências Geográficas e desempenhava à data da morte as funções de administrador dos Serviços de Ação Social da Universidade de Lisboa. Começou a cantar fados de Coimbra ainda no liceu, em Aveiro, com outros colegas, um dos quais - António Andias -, que, mais tarde, viria a revelar-se na cidade do Mondego um conceituado guitarrista. António Bemardino considerava ter sido influenciado por José Afonso e Adriano Correia de Oliveira e, sobretudo, marcado pela poesia de Manuel Alegre, da qual, com Adriano, é um dos principais intérpretes, e moldado pela guitarra e pelas composições de António Portugal. Chegou a Coimbra em 1963 e por aí permaneceu até 1967, altura em que foi mobilizado para a guerra colonial, em Moçambique. Terminada a comissão militar, o cantor continuou em África até 1974. Ao longo da sua carreira - com frequentes atuações em Portugal e no estrangeiro —, foi acompanhado pelos melhores executantes da guitarra e da viola de Coimbra. Numa primeira fase, enquanto estudante, pelas guitarras dos irmãos Melo (o Eduardo e o Ernesto), Octávio Sérgio, Nuno Guimarães, Manuel Borralho, Francisco Martins, Hermí-nio Menino e, sobretudo, por António Portugal: e, também, pelas violas de Rui Pato, Dur-val Moreirinhas e Jorge Moutinho. 

Numa segunda fase já residindo em Lisboa, a partir de 1975 - continuou a cantar e a participar em espetáculos, gravações de discos e programas de televisão. Nesta nova fase foi acompanhado pelas guitarras de António Brojo, António Portugal, João Bagão, José Lopes de Almeida e pelas violas de Aurélio Reis, Mário de Castro, Luís Filipe, Humberto Matias, Levy Baptista e Durval Moreirinhas. António Bernardino foi, provavelmente, o cantor de Coimbra com mais temas gravados em disco e, seguramente, o mais interveniente da sua geração, onde também se notabilizaram nomes como José Miguel Baptista, Armando Marta, José Manuel Santos e outros. (Compadre de António Bernardino, Armando Marta é hoje o jornalista Silva Marta, da Agência Lusa, em Lisboa). Os primeiros registos fonográficos de António Bernardino datam de 1964 («Samaritana», «Fado do 5.° Ano Médico», «Ao Morrer os Olhos Dizem»), numa altura em que José Afonso e Adriano Correia de Oliveira já tinham registado as suas primeiras trovas e baladas. 

Em 1969, António Bernardino grava o LP "Flores para Coimbra", o disco que considerava mais importante, e que é dominado pela poesia de Manuel Alegre e pelas composições do cunhado do poeta, António Portugal. Mais recentemente, a sua voz integra a coletânea "Tempos de Coimbra" (1990), um conjunto de seis LP em que, uma vez mais com António Portugal e António Brojo, o cantor dá um excelente contributo para a divulgação e renovação da canção de Coimbra. Ele próprio não sabia ao certo quantos temas tinha registado em disco, mas não se andará longe da verdade se se falar de cinco a seis dezenas de fados e baladas, onde assumem especial relevo as composições e poemas de António Menano, Edmundo Bettencourt, Armando Goes, Afonso de Sousa, Paulo de Sá e, numa fase mais recente, Manuel Alegre, António Portugal e Machado Soares. António Bernardino será também, provavelmente, o cantor de Coimbra que mais divulgou o fado além-fronteiras: Europa (um pouco por toda a parte), ex-União Soviética, Estados Unidos da América, Brasil, Argentina, Uruguai, Venezuela, Tailândia, Macau, Malásia, Angola, Moçambique, Cabo Verde, etc. etc. 


Anonimato

Formados em finais da década de 80, em Beja, constituídos por Paulo Ribeiro (voz e baixo), António Correia (guitarras) e Pedro Frazão (bateria), concorrem aos concursos Aqui D'El Rock e Bandas Rock Pepsi. 

1991 - Participam no I Concurso de Música Moderna da CML. 

1992 - Ao grupo junta-se o teclista António Machado e o guitarrista Jorge Machado, que substitui António Correia. Assinam com a editora independente de Almada, The Heaven Sound, e entram em estúdio para gravar o primeiro álbum. Entretanto, em Beja, conseguem gerar um culto de seguidores. 

1993 - É editado "Anonimato", álbum produzido por João Martins, onde tentam encontrar um cruzamento entre a pop e algumas referências estéticas do Alentejo. Um fracasso comercial, sem grande apoio da crítica. 

1994 - Pela Vidisco editam o segundo álbum, "O Dia Mais Longo do Ano", novamente produzido por João Martins e gravado nos estúdios The Heaven Sound. João Nobre (Braindead, da Weasel) participa no disco, pontualmente integrado na formação da banda, que agora inclui um novo teclista, Tó Zé, e novo guitarrista, Cebolinha. Novo caso de insucesso e o grupo não consegue, ironicamente, sair do Anonimato... 

1997 - O grupo anuncia o seu desmembramento definitivo. 

sábado, 7 de junho de 2025

Madonna

 


Steve Norman - Spandau Ballet


 

Martin Kemp - Spandau Ballet


 

Gary Kemp - Spandau Ballet


 

Tony Hadley (Spandau Ballet)

 


Spandau Ballet


 

Howard Jones

 


Howard Jones

 


Bryan Adams

 


Mike Scott (The Waterboys)


 

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Amália Rodrigues - Parte 10

Jul. (1) Amália é homenageada num espetáculo na Gare Marítima de Alcântara, exibido em direto pela RTP. 

Ago. São editados pela primeira vez em CD "Gostava de Ser Quem Era" e "Lágrima", completando a disponibilização em CD de todos os álbuns publicados por Amália na Valentim de Carvalho. 

Nov. (6) Amália é a convidada inaugural do programa de variedades da RTP-1, «Noite de Reis», que pretende homenagear personalidades públicas nacionais. 

(7) É editado "Pela Primeira Vez - Rio de Janeiro 1945", CD que reúne as 16 gravações que Amália realizou no Rio de Janeiro em 1945 para a editora Continental. É a primeira edição oficial em CD destas gravações, há muitos anos indisponíveis em Portugal. As gravações foram restauradas digitalmente em Londres, nos estúdios de Abbey Road, e o CD inclui um ensaio histórico inédito de Vítor Pavão dos Santos. 

Dez. A Valentim de Carvalho edita em vídeo a série documental «Amália — Uma Estranha Forma de Vida», numa tiragem limitada a mil exemplares vendidos exclusivamente ao balcão das lojas Valentim de Carvalho. 

1996 Out. Numa altura em que as gravações da Continental, realizadas em 1945, entraram já no domínio público, perdendo Amália o direito a receber royalties de intérprete pela sua gravação, o diário "A Capital" levanta uma polémica fugaz, segundo a qual a artista estaria descontente com a edição de "Pela Primeira Vez", realizada à sua revelia pela EMI-VC, por já não receber royalties dessas gravações. Tal polémica é desmentida pela editora e pela artista. 

1997 Dez. A EMI-VC edita o álbum "Segredos", com um conjunto de gravações inéditas realizadas entre 1965 e 1975. O disco atinge o 3.° lugar do top nacional de vendas. 

1998 "Segredos" é galardoado com um disco de platina por vendas superiores a 40 mil cópias. 

Jorge Mourinha 



segunda-feira, 2 de junho de 2025

Biografia do Fado

Parece possível dizer que o fenómeno musical que hoje designamos como fado, e que tem a sua definição essencial no conjunto dos fados clássicos, se definiu num período relativamente recente - nos últimos 70 anos... - independentemente, já se vê, de beber raízes e matrizes musicais e poéticas numa evolução que todo o estudo conhecido faz remontar, no mínimo, ao início do século passado. 

Debruçando-nos sobre este aparente e surpreendente facto, acaba-se porém por admitir que, no fundo, talvez não haja motivos para surpresa. O fado é afinal contemporâneo daquilo que tornou possível não propriamente escrevê-lo, mas... gravá-lo! Ou seja, dos progressos tecnológicos. E seria uma ingenuidade, que a musicologia inteiramente desmente, supor que o aparecimento dos meios técnicos de reprodução sonora (a gravação, a rádio, a amplificação massiva, etc.) se limitariam a fixar fenómenos musicais preexistentes: sabemos hoje que, na música como em todas as artes, a evolução tecnológica condiciona tanto quanto determina a evolução estética, e o fado pré-anos do disco e da rádio não era, não podia ser, o mesmo dos que se lhes seguem. 

A condicionante dos três minutos por canção, universalizado praticamente até hoje pela limitação técnica da duração de um lado de um disco de 78 rotações, é apenas um exemplo. A que há a acrescentar muitos outros. E, determinantemente, a profissionalização de músicos e executantes que a edição, a transmissão radiofónica e os locais de espetáculo não teatrais (as casas de fado) geraram e permitiram, dando origem a um núcleo musical que, progressivamente, iria definir e fixar padrões próprios que, progressivamente, se libertariam dos que anteriormente sofriam da produção do teatro de opereta e da música de salão. A meu ver, é este novo quadro tecnológico e profissional (e também social e urbano) que permite que, entre outros, Armandinho, Martinho da Assunção, Marceneiro e Amália, constituam nas décadas de 20 a 40 um género musical, de raízes antigas, sem dúvida, mas autonomizado musicalmente, iconicamente e publicamente. 

Que muito poema do fado lamente, ainda, o «fado como era dantes» tem razões sociais, culturais e mesmo políticas claras: julgo, contudo, que tem bem pouca verdade. E não é bom serviço prestado ao fado negar-lhe a contemporaneidade de ser uma música urbana criada pelo povo, e muito especialmente pelo povo de Lisboa, na modernidade do século XX e na qual, por isso mesmo, tão idealmente se acolheram afinal, sem saudosismos nem marialvas, versos como os de Mourão-Ferreira, Lima Couto, Homem de Melo ou Ary dos Santos. 

Ruben de Carvalho in «Biografia do Fado»